O Dicionário Biográfico de Cinema#214: Adolph Zukor
ADOLPH ZUKOR (1873-1976), n. Ricse, Hungria
Alfabeticamente perto dos últimos, e historicamente próximo dos primeiros, Adolph Zukor testemunha a batalha dos negócios como base para a longevidade. Imagine uma estrela suprema da Paramount - digamos, Gary Cooper - e chequemos as datas: Zukor tinha vinte e oito anos quando Cooper nasceu, e viveu outros quinze anos após a morte da estrela, que se elevou acima dele fisicamente e no conhecimento público de quem contava nos filmes. Como ele fez? Ao que parece manteve-se saudável por tanto tempo evitando a provação de se sentar no escuro para assistir filmes. Os filmes não interessavam Adolph Zukor: desejava apenas poder, um império, e lucros. De outra maneira, ar fresco e exercícios eram seus ideais - não é à toa que a Paramount teve esta explêndida montanha como sua logomarca. Enquanto alguns pioneiros se lamuriavam do declínio da indústria do cinema pós-1945, Zukor sem dúvida estava feliz de se tornar parte de interesses ainda mais ricos, Gulf & Western (*). Fosse ele mais jovem quando a fusão entrou em vigor e poderia ter pretendido assumir o controle. Como todos os húngaros da era Habsburga, conhecia o tônico do engrandecimento.
E como todos os conservadores progressistas, enquanto o império austro-hungáro estava nos estertores, Zukor esculpia um domínio. Para alguns homens de negócios em Nova York, 1914-1918 foi significativo como o nascimento de uma indústria, quando a intolerância competitiva brigou por corações ao redor do mundo. Zukor veio à América quando tinha 16 anos, após uma educação difícil na Hungria. Aprendeu inglês vendendo peles, e em 1903 moveu-se para os negócios das salas de diversão. Um homem minúsculo em um casaco de colarinho de peles. Teve um enorme fracasso, tentando promover os Hales Tours, onde o público sentava em um vagão ferroviário e as vistas passavam flutuando (um artefato similar aparece em Letter from an Unknown Woman/Carta de uma Desonhecida, de Max Ophüls. Em 1910, fundiu alguns de seus interesses com um amigo, Marcus Loew, porém manteve diversos cinemas para si. Zukor nunca confiou em ninguém, e esta precaução profética geralmente é auto-realizada.
Não vendeu peles para as plateias urbanas pobres que assistiam os primeiros filmes. Zukor percebeu que estava lidando com uma clientela diferente e perguntou-se como a classe média poderia ser atraída pela escuridão - alegadamente um local de disseminação de doenças, de escapismo autoindulgente, maus hábitos, todos anátemas para um público respeitável. Sabiam que somente se aventurariam sob o pretexto do digno esclarecimento. Enquanto o tecido social europeu foi dilacerado pela guerra e a revolução, na América Zukor explorou a auto-importância da distinção de classe e talvez fez mais que Marx ou Marcuse para incutir a força de vontade na classe média americana. Vendeu irrealidades para pessoas sensíveis, e elas não teriam sido capazes de sê-lo sem isto. O truque era fazer os filmes se assemelharem ao teatro: prestigiados, longos e enfadonhos. Trabalhou, e ajudou os filmes a se transformarem de uma sensação a uma fantasia narrativa.
Antes de 1912, nenhum filme na América mantinha a atenção do público por mais de trinta minutos, e a maioria eram mais curtos. Zukor abandonou Loew, e ajudou a financiar o filme francês de uma hora, Les Amours de la Reine Élisabeth [Queen Elizabeth], estrelado por Sarah Bernhardt, em troca pelos direitos de distribuição dele nos Estados Unidos. Alugou-o na base dos direitos por estados e descobriu que os públicos de classe média se amontoavam para ver à famosa atriz como se as Cataratas do Niágara houvessem chegado em suas cidades. Em 1912 fundou a Famous Players Film Company e contratou Edwin Porter para realizar filmes semelhantes de estrelas do teatro americano: James Hackett em The Prisioner of Zenda e James O'Neill (pai de Eugene) em The Count of Monte Cristo.
Foram pesos mortos enquanto entretenimentos, mas a aproximação comercial funcionou, e dentro de dois anos Griffith galvanizaria o novo potencial para o longa. Cinemas começaram a ser construídos para se adequarem a este público refinado, havia vestiários onde podiam deixar seus casacos, mas nenhum armário equivalente onde a seriedade trabalhadora fosse trocada por carne e fantasia. Zukor era um mágico, que nunca mencionou seu truque mais compreensível.
Em 1916, fundiu-se com a Feature Plays, de Jerry Lasky, e pelos cinco anos seguintes houve uma amarga luta pelo controle desta incipiente major. Zukor venceu pelas ousadias e ideias: oscilou nos empréstimos, baseou-se em Nova York, onde o dinheiro estava, raramente interferia na realização dos filmes. Adivinhou que o público assistiria qualquer coisa. Somente a estrutura da indústria estava em questão. E foi Zukor quem determinou que a companhia que realizava e distribuía filmes, também tivesse seus próprios cinemas. A Paramount - como eventualmente eram chamados - estabeleceu o padrão para tal monopólio. Criou uma estratégia de negócios que durou ao menos até o final dos anos 40, e somente foi rompido por intervenção federal. Foi o presidente da Paramount até 1935, e desde então, chefe do conselho admnistrativo. Este posto permaneceu seu até bem depois da montanha ter se transformado em uma falsa forma cônica.
Como estúdio, a Paramount era conhecida pela sofisticação, engenhosidade, glamour, estilo, inteligência - tantos de seus filmes elegantes quanto casacos. Foi a casa por anos de DeMille, Lubitsch, Leisen, von Sternberg, La Cava, Chevalier, March, Cooper, Mae West, Os Irmãos Marx, Fields, Hope e Crosby, Dietrich, Clara Bow, Gloria Swanson, Colbert e Lombard, Jerry Lewis, Ladd e Lake. Seria demasiado generoso creditar a Zukor por todos estes contratos, mas o estúdio foi consistente, cultivado e um mundo para si mesmo. The Devil Is a Woman [Mulher Satânica] enfureceu a Espanha ao querer que esta charada de cenários e iluminação pudesse traduzir a coisa real, e Ernst Lubitsch uma vez admitiu que Paris, França era um local mais domesticado que Paris, Paramount.
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2926-28.
(*) N. do E: O conglomerado que adquiriu a Paramount, em 1966.
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