Filme do Dia: O Amor Existe (1960), Maurice Pialat

 



O Amor Existe (L’Amour Existe, França, 1960). Direção e Rot. Original: Maurice Pialat. Fotografia: Gilberte Sarthre. Música: Georges Delerue. Montagem: Kenout Peltier.

De imediato, desde suas primeiras imagens, duas coisas chamam a atenção nesse curta de início de carreira do realizador: seu aparente deslumbramento com a possibilidade de expressão subjetiva de seu protagonista, algo que começava a se transformar numa coqueluche mundial e tinha na França um dos realizadores na vanguarda desse quesito então (Alain Resnais), mas que logo se demonstrará ser um logro, e a virtuosidade precisa de seus enquadramentos através de fluidos movimentos de câmera, ainda que não tão diretamente vinculados à memória como em Resnais. De forma que talvez possa parecer aos incautos insconscientemente inorgânico o curta mistura uma verve de memória nostálgica e pessoal, como os que passeia por locais outrora repletos de vida e hoje (no momento em que foram registrados pelo curta) fantasmáticos com comentários mais solenemente impessoais e sociológicos;  tais como o que a voz over efetua sobre o crescentedesmatamento das áreas verdes suburbanas de Paris, afirmando que ela é a cidade que menos as possui, mas a especulação imobiliária continua devastando o que resta. Seu retrato um tanto pessimista do que resta aos suburbanos, que o título ao final não poderia soar mais irônico, antecipando muito do que será sua filmografia mais conhecida, como é o caso (ou melhor seria afirmar descaso) da arquitetura modernista e massificada, que por vezes poupa até a existência de janelas nas cozinhas e é associada com uma nostalgia dos campos de concentração. Depois de se deter nos conjuntos habitacionais populares, chega a vez do que seria o verdadeiro equivalente da favela brasileira, barracos improvisados como raramente se viu igual em qualquer produção cinematográfica francesa de qualquer gênero ou época e, segundo a narração over, há apenas duas milhas do internacionalmente célebre Champs-Elysées. Por mais esquemático que o filme possa ser tido, trata-se não apenas de um ousado comentário de fortes conotações políticas, como igualmente subverte o que pareceria ser mais um filme existencialista apresentando um personagem sofisticado em um documentário de matizes crescentemente sociológicos sobre a desigualdade numa Paris em que o número de estudantes das classes baixas é praticamente irrisório e os equipamentos culturais como teatros são simplesmente inexistentes nos subúrbios. Sua trilha sonora, assinada por um dos mestres franceses, é fundamental para o efeito melancólico conseguido, assim como sua límpida fotografia em preto&branco.  Les Films de la Pléiade. 20 minutos.

 

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