Filme do Dia: Vanina Vanini (1961), Roberto Rossellini

 


Vanina Vanini (Itália/França, 1961). Direção: Roberto Rossellini. Rot. Adaptado: Franco Solinas, Antonello Trombadori, Roberto Rossellini & Diego Fabbri, a partir de um conto de Stendhal. Fotografia: Luciano Trasatti. Música: Renzo Rossellini. Montagem: Daniele Alabiso & Mario Serandrei. Dir. de arte: Luigi Scaccianoce. Figurinos: Riccardo Domenici & Danilo Donati. Com: Sandra Milo, Laurent Terzieff, Martine Carol, Paolo Stoppa, Isabelle Corey, Antonio Pierfederice, Olimpia Cavalli, Nerio Bernardi.

Itália, século XIX. Vanina Vanini (Milo) é uma entediada aristocrata, que sofre assédios de seu incestuoso pai, Asdrubale (Stoppa). Ele a quer casada com alguma figura do mundo aristocrático, como é o caso do sobrinho do Cardeal Savelli (Bernardi), Livio (Pierfederici). Ela, no entanto, apaixona-se perdidamente pelo revolucionário carbonero Pietro Massirilli (Terzieff). Pietro se divide entre o seu amor a Vanina e seu engajamento com os companheiros. Vanina, mesmo lhe cedendo apoio e refúgio, acaba delatando onde se encontra todos os companheiros. Quando sabe da verdade, Pietro a espanca e decide se entregar e ser executado, enquanto Vanina se refugia em um convento.

Ainda que o filme enfatize uma leitura irônica do amor romântico e suas duas faces, em que a face íntimo-afetiva, representada pela mulher, finda por destruir os sonhos da face revolucionária e utópica, representada pelo homem, tal elemento é sufocado por seus extravagantes valores de produção e por uma escalação de elenco de mediana a ruim. É um tanto estranho se assistir a uma produção dirigida por Rossellini distante tanto da estética neorrealista dos anos 40, quanto da dimensão existencialista que marcou sua produção com Bergman. Ainda que sua fase menos conhecida, e final, refira-se a biografia de personalidades célebres da ciência e da religião, esse filme tampouco se filia a postura semi-documental desses filmes para a TV. Aqui tudo é marcadamente exaltado, das cores violentas ao excessivo páthos obsessivo de sua histérica heroína, da trilha sonora grandiloquente e demasiado presente, aos cenários e planos monumentais que retratam o conclave que escolherá o futuro papa. Ao lidar com uma adaptação literária de um autor clássico e valores de produção de forma tão marcante o cineasta acaba se aproximando de um estilo que Visconti possui maior domínio (O Leopardo, de um ano após, como exemplo maior). Não falta sequer a convencionalmente suntuosa seqüência em um baile. Destaque para os longos planos e para o uso excessivo do zoom, através de uma técnica desenvolvida pelo próprio cineasta, de efeito pouco convidativo. Teve participação não creditada na elaboração do roteiro de Jean Gruault, que também seria co-roteirista de outra produção a tematizar um amour fou  e tampouco bem sucedida, A História de Adéle H. (1975), de Truffaut. Zebra Film/Orsay Films. 127 minutos.

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