Filme do Dia: Ademã - A Vida e as Notas de Ibrahim Sued (2022), Paulo Henrique Fontenelle & Isabel Sued

 


Ademã – A Vida e as Notas de Ibrahim Sued (Brasil, 2022). Direção Paulo Henrique Fontenelle & Isabel Sued. Rot. Original e Montagem Paulo Henrique Fontenelle.

A frase final da realizadora, ao afirmar não se importar com as diversas definições sobre Ibrahim (o maior colunista de todos os tempos, um reacionário, um bon vivant, etc), pois para ela, ele seria sobretudo seu pai,  à guisa de buscar um fecho para o documentário é como um tiro pela culatra, ao nos deixar a par de uma proposta bastante enviesada de perfil,  quase que completamente endereçada à exaltação ou descrição nostálgico-anedótica dos episódios o envolvendo. O que se torna, de certa forma, impositivo quando é a própria Isabel quem comanda todas as entrevistas com personalidades do universo jornalístico (Ricardo Boechat, Elio Gaspari – que iniciaram carreira como assistentes de Ibrahim – Roberto d’Avila, etc.), personalidades do mundo artístico, também associadas ao jet set de sua época (como Omar Shariff) ou luminares da televisão brasileira (Boni). O tratamento visual, por sua vez, é esperadamente o mais ortodoxo possível, em sua essência um documentário-cabo a ser veiculado originalmente na TV, com imagens de arquivo do quadro assinado por Sued no Fantástico , assim como de entrevistas suas, somadas ainda a imagens do acervo familiar, incluindo uma constrangedora entrevista com Isabel, quando de seu casamento, à Glória Maria. Fica-se, após o final do mesmo, com o dissabor de uma fatura que seria facilmente resolvida em um curta ou, no máximo, média metragem. Ao menos da forma como se encontra disposta a trajetória de Sued, elegante e belo na juventude, que diz ter passado dificuldade e mesmo fome, e depois ter adentrado a alta sociedade carioca apenas batendo sua porta, não forçando-a, pois não conseguiria, a partir de entrevistas, no geral, protocolares. Um dos entrevistados sugere ele ter tido um encontro amoroso com beldades como Ava Gardner, que teria pedido que ele subisse em seu quarto de hotel. O próprio Sued insinua algo sobre Caroline de Mônaco, cuja fama de virgem seria inapropriada. Entre risos masculinos.  Tudo  na chave da cafajestada; aliás, é perceptível uma mudança da elegância dos trajes a rigor de sua juventude para figurinos e disposição do personagem mais próximo do cafajeste, com a moda dos anos 70, a camisa quase toda aberta a lhe expor boa parte do peito, as correntes, pulseiras e o inescapável terço numa das mãos. E se há um comentário sobre uma relação ambígua de Sued com o universo do jet set, no qual circulava com desenvoltura, mas do qual aparentemente observava com certo desdém, não muito disso talvez transpareça em sua “obra” jornalística – muito pouco se cita ou mesmo se comenta de suas colunas jornalísticas, cujas notas quase taquigráficas um dos entrevistados aponta como precursora do Twitter e redes sociais em voga à época desta produção. E Sued como um influenciador, a ditar a moda entre os endinheirados, de forma menos diluída que as redes tempos depois. São afirmações interessantes, mas um tanto chapadas, pouco aprofundadas, genéricas. Sobre as relações próximas com os militares idem. Por outro lado, não se deixa de acrescentar uma depoente que fala de seu empenho em livrar um escritor da cadeia. |Beaucastel Filmes. 104 minutos.

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