O Dicionário Biográfico de Cinema#90: Max Linder

 


Max Linder (Gabriel-Maximilien Leuvielle) (1883-1925), n. Caverne, França

A despeito de uma reedição, em 1958, de uma antologia de Max Linder, somente uma fração da obra desse comediante pioneiro é hoje conhecida. As poucas evidências que temos são confundidas pelas afirmações que Chaplin foi influenciado por Linder. Ainda que Linder tenho ido à América e obtido razoável sucesso lá, foi a epítome de um comediante francês. Um bordelense, mudou-se para Paris aos vinte e um anos e, após um ano no teatro, passou a atuar em filmes. De 1905 a 1907 fez algo como quatrocentos filmes para a Pathé, enquanto estrelava no music-hall parisiense. Mas, após 1907, ele assumiu de André Deed o posto de principal comediante da Pathé, com a cota estável de um filme por semana.

Em 1911 estava escrevendo e dirigindo seus próprios filmes, e o personagem de "Max" emergiu: notavelmente contido e adulto; um dândi tímido e belo; propenso a acidentes, mas caprichoso. Poderia ter saído de um seriado de Feuillade, em trajes noturnos, capa, cartola e bigode. Fugindo do pastelão, seu humor residia nas reações gestuais e faciais, e há bem pouco do sentimentalismo que os comediantes americanos recorriam. Linder era o libertino, suavizado por um vagar onírico e por uma visão fatalista e confusa da ação frenética que o cercava. 

Nos anos imediatamente anteriores a Primeira Guerra Mundial foi muito bem sucedido na França. A produção dele foi tristemente reduzida durante a guerra, quando a doença lhe preveniu do alistamento. Muitos de seus filmes nesse período foram esforços de propaganda patriótica. Mas em 1916 foi aos Estados Unidos para o lugar de Chaplin na Essanay e fez Max Comes Across (17), seguido por Max Wants a Divorce (17) e Max in a Taxi (1917). Retornou à França e fez apresentações às tropas. Mas, após mais dois filmes - Le Petit Café (19, Raymond Bernard) e Le Feu Sacré (20, Henri-Diamant Berger) (*) - voltou para Hollywood e realizou três longas: Seven Years Bad Luck [Sete Anos de Azar] (21), Be My Wife [Seja Minha Mulher] (21), e The Three Must-Get-Theres [O Mosqueteiro], uma paródia dos filmes de Douglas Fairbanks, com Linder interpretando "Dart-in-Again" (**).

Mas Goldwyn declinou a lidar com sua obra nos Estados Unidos e Linder voltou à França, doente e deprimido. Seus últimos anos foram crescentemente melancólicos. Ele atuou em Au Secours! (23, Abel Gance) e em 1925 foi a Áustria para realizar Roi de Cirque (***). Nesse mesmo ano, ele e sua mulher se mataram. E é evidente que a carreira de Linder foi interrompida pelos interesses americanos, e isso pode ter agravado sua doença nervosa. Mas "Max" sempre havia sido um personagem abstrato, aquele que nunca poderia se adaptar completamente ao mundo.

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of  Cinema. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 1590-1.

(*) N. do E:  Não há registro dessa produção no IMDB, mas sim uma de 1911 que possui esse como um de seus dois títulos.
(**) N. do T: Trocadilho intraduzível com D'Artagnan, que seria, ao pé da letra, como Dart Outra Vez.
(***) N. do E.: Le Roi du Cirque e, aparentemente, lançado em 1924. Cf. em https://fr.wikipedia.org/wiki/Le_Roi_du_cirque 

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