Filme do Dia: Laranja Mecânica (1971), Stanley Kubrick

 


Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, Reino Unido, 1971) Direção: Stanley Kubrick. Rot.Adaptado: S.Kubrick, baseado no romance de Anthony Burguess. Fotografia: John Alcott. Montagem: William Butler. Com: Malcolm Macdowell, Patrick Mcgee, Michael Bates, Carl Duering, James Marcus, Sheyla Reynor, Philip Stone, Anthony Sharp.

Alex (Macdowell) é um jovem delinqüente que tem como passatempos prediletos, ouvir Beethoven e sair a noite com seu grupo de amigos, desviando carros da beira da estrada e estuprando mulheres. Após a morte de uma de suas vítimas, o grupo abandona-o quando a polícia se aproxima. Preso e julgado para uma sentença de 14 anos, acaba ganhando as boas graças de um padre ao comportar-se disciplinadamente e, quando da visita do Ministro do Interior (Sharp), seu comportamento indisciplinado, leva-o a ser escolhido como cobaia para o tratamento Ludovico, uma espécie de lavagem cerebral que o torna impotente perante à violência e ao sexo. Posto rapidamente em liberdade, após a comprovação de sua “recuperação” perante uma platéia de especialistas, onde críticas quanto a questão ética de se assim agir são caladas frente às questões mais imediatas como a superpopulação dos presídios, Alex retorna à casa. Ao tentar fazer uma surpresa para seus pais (Reynor e Stone), é surpreendido: Joe, um jovem que seus pais adotaram por contrato, o substituiu como filho. Após sair de casa, passa por uma via crucis que leva-o a reencontrar-se com todos aqueles com quem conviveu antes da prisão: é espancado pelo miserável que espancara; torturado pelos ex-amigos de gangue, agora policiais e pede auxílio na mesma residência onde praticara o primeiro estupro. O dono da casa, opositor do governo, mesmo sem inicialmente reconhecê-lo, acredita ser uma ótima alternativa para desacreditar o governo e o novo método de tratamento a quem esse se encontra associado. Após uma sessão de tortura psicológica, Alex tenta o suicídio. Internado em um hospital, com quase todos o corpo quebrado, recebe todas as atenções do governo. Sua queda o recuperou e frente ao flashes dos jornalistas, é possuído por uma visão dionisíaca de sua libido igualmente recuperada.

Polêmico filme que, embora vá além de uma crítica mais limitada ou tradicional aos efeitos do totalitarismo  como as de 1984 e Admirável Mundo Novo, e aponte já para um certo cansaço das utopias - tanto a esquerda como a direita são ridicularizadas - e para um novo elemento fundamental - a estratégia e a visibilidade frente à imprensa como sendo a questão mais importante -, no entanto, sofre com seu próprio voyeurismo frente à violência apresentada (na época acabou proibido pelo próprio Kubrick, ao saber de casos de estupro semelhantes ao narrado no filme). Freqüente utilização de travellings magistrais, câmara rápida, câmera lenta e, pelo menos, uma seqüência virtuosa de edição - a cena em que Alex se masturba observando a imagem de Cristo no seu quarto. Freqüentes referências ao clássico Cantando na Chuva (1956) de Stanley Donen. Grande interpretação de Macdowell. Seu visual futurista - ainda que pontuado de ironia - pode ser visivelmente associado hoje à década de 70. Kubrick, sem dúvida, conseguiu melhores resultados no menos pretensioso (tanto em termos de produção como de material adptado) Dr. Fantástico (1964), outra fábula moral sobre outro mal-estar moderno: a ameaça nuclear. Warner. 137 minutos.

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