Filme do Dia: Pistoleiro sem Destino (1971), Peter Fonda

Resultado de imagem para pistoleiro sem destino peter fonda
Pistoleiro sem Destino (The Hired Hand, EUA, 1971). Direção: Peter Fonda. Rot. Original: Alan Sharp. Fotografia: Vilmos Zsigmond. Música: Bruce Langhorne. Montagem: Frank Mazzola. Dir. de arte: Lawrence G. Paull. Cenografia: Robert De Vestel. Figurinos: Richard Bruno. Com: Peter Fonda, Warren Oates, Verna Bloom, Robert Pratt, Steven Darden, Rita Rogers, Ann Doran, Ted Markland, Megan Denver.
Harry Collings (Fonda) desiste de seguir viagem com o leal amigo Arch (Oates), com quem viaja a sete anos e o jovem Dan Griffen (Pratt), que aparentemente se envolve com a mulher (Rogers) do mau caráter McVey (Darden) e é morto por esse. Pesarosos com o acontecido, Harry e Arch ao irem embora do local atiram contra McVey e levam um cavalo seu.  Harry retorna a casa de sua mulher com Arch. Hannah (Bloom) demonstra o forte grau de ressentimento por sua demorada ausência, tendo falado à filha, Janey (Denver), que o pai se encontrava morto. Hanna o aceita como trabalhador de sua propriedade, assim como  Arch. Após um longo período de tensão, Arch decide partir da propriedade. Harry passa então a viver maritalmente novamente com Hanna. Porém, logo chegam notícias ruins de Arch, que se encontra sob o domínio do cruel McVey.
Para quem supunha que Fonda era apenas o lado mais tosco da dupla que se encontra por trás e diante das câmeras em Sem Destino, a partir da fútil premissa dos filmes de Corman que estrelou antes (Anjos Selvagens), apenas seu personagem sendo o mais sensível no filme de Hopper que celebraria uma nova cultura jovem no cinema – mesmo que de forma um tanto melancólica – esse filme demonstra fortemente o oposto. Com referências míticas que vão de uma bela passagem da Bíblia a Homero (a “aurora dos róseos dedos” do céu confundindo-se  com o vermelho do sangue na imagem congelada de um homem que levou bala quando dormia) o filme é uma sensivelmente incomum investida no universo do western. Ou seja, aqui a morte provoca um impacto visível em todos, desde aquele que mata até os que presenciam a cena, no caso a chegada de um jovem que acompanhava a dupla principal no modesto saloon local. Sem falar na própria sensibilidade com que se faz uso de sobreposições criando uma atmosfera algo diáfana, beirando a psicodelia em certos momentos, como na cena inicial e o efeito provocado pela cintilação da água do rio, sem cair em cacoetes fáceis e sem abdicar tampouco de um uso mais convencional dos diálogos que no filme de Hopper. A forma como a mulher é retratada ganha uma força incomum, lembrando a dimensão do western psicológico que mais se relaciona com a época no qual foi produzido que propriamente o momento onde é ambientada sua história. Patente, sobretudo, na cena em que a Hannah  de Bloom  (com importante papel em Dias de Fogo) responde sobre os eventuais encontros com homens que levava para sua cama, pela ausência dele próprio, numa versão menos ascética de Penélope. Sua discreta trilha musical é outro achado.  É algo injusto que seu filme tenha sido mensurado pelo estrondoso sucesso anterior do de Hopper como se pode perceber pelo título brasileiro. Dito isso, talvez o filme não sustente o mesmo ritmo do início ao final, decaindo justamente quando se volta mais diretamente para os arquétipos do western, por exaustão das questões mais ligadas a intimidade e as relações domésticas, onde não se escusa em apresentar o quão atrativa é a homossociabilidade, tal como posta por Hanna a determinado momento  – sem dúvida o equilíbrio entre o moderno e o tradicional talvez não é tão bem conseguido quanto no filme de Hopper. Sua poética visual, (e em grande parte graças a presença do mestre da fotografia Vilmos Zsigmond), mesmo mais canhestra, antecipa a de um Terrence Malick e é a grande força do filme, já que sua história em si, inicialmente dando sinais de fugir dos clichês, termina por sucumbir às convenções do gênero e mesmo o herói não sendo tão heroico ao ponto de conseguir libertar o amigo – esse se vê livre de outra forma - não apaga de todo essa sensação. Pando Co./Tartan Films/Universal Pictures para Universal Pictures. 90 minutos.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UCsCRNByc3g

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso