Filme do Dia: O Caçador de Dotes (1971), Elaine May



O Caçador de Dotes


O Caçador de Dotes (A New Leaf, EUA, 1971). Direção: Elaine May. Rot. Adaptado: Elaine May, a partir do conto The Green Heart, de Jack Ritchie. Fotografia: Gayne Rescher. Montagem: Don Guidice & Fredric Steinkamp. Dir. de arte: Warren Clymer & Richard Fryed. Figurinos: Anthea Sylbert. Com: Walter Matthau, Elaine May, Jack Weston, George Rose, James Coco, Doris Roberts, Renée Taylor, William Redfield, Graham Jarvis.
O playboy falido Henry “Harry” Graham (Matthau), sem nenhuma habilidade ou talento específico, vê-se na sinuca de, em plena meia-idade, não saber o que fazer para sobreviver e manter o seu elegante padrão de vida. A saída é soprada por seu camareiro fiel (mas nem tanto, já que deixa claro que partirá na mesma hora em que não for pago) Harold (Rose): ele deve buscar uma mulher. Após algumas tentativas, Harry escolhe como vítima a desastrada e rica herdeira Henrietta Lowell (May), que convence de casar antes que o trato que havia feito com seu rico tio, Harry (Coco), expire. O advogado de Henrietta, Andy (Weston) é terminantemente contra o casamento, mas esse ocorre dentro do prazo previsto por Graham, que disciplina a farra babélica que os criados faziam às custas de sua tonta patroa. Harry não deixa de sonhar com a possiblidade de envenenar Henrietta, mas o rumo dos acontecimentos lhe apresentará uma solução diversa e não tão comprometedora.
Filme de estreia da realizadora bissexta May, que dirigiria apenas quatro filmes, o último deles o muito caro e retumbante fracasso de público Ishtar (1987), que selaria seu destino como diretora em Hollywood. Aqui, sem dúvida é construída uma farsa cômica com um senso de distanciamento que se aproxima quase do surreal e direito a personagens que mais parecem saídos das páginas de Dickens, como o tio milionário vivido por James Coco. Talvez por conta justamente de não conseguir acertar a chave do farsesco, algo ainda  mais evidenciado em toda a trupe de empregados de Henrietta demitidas por Harry, o filme sucumbe ao pior pecado que acomete a qualquer um com pretensões cômicas, que é exatamente a falta de comicidade. Reeditado à revelia da realizadora, tendo uma metragem original de cerca de 3 horas, aproxima-se assim da solução de um final feliz um tanto abrupto, mas não tão completamente destituído de sentido quanto possa parecer à primeira vista e com um episódio de possibilidade de mutação por parte do personagem um tanto misógino vivido por Matthau. Enquanto mulher, não deixa de ser curioso que May, assim como outra realizadora contemporânea, a Barbara Loden de Wanda, que também escreveu e atuou no principal papel de seu filme, como aqui viva uma personagem um tanto atoleimada. Um dos poucos momentos em que o filme acena para algo mais interessante é o que Harry revisita todos os seus ambientes de luxo como que por uma última vez, quase uma reedição cínica de A Felicidade Não se Compra (1946), de Capra. Aries Prod./Elkins Ent./Elkins Prod. Int. Corp. 102 minutos.


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