Filme do Dia: Border (2018), Ali Abbasi


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Border (Gräns, Suécia/Dinamarca, 2018). Direção: Ali Abbasi. Rot. Adaptado: Ali Abbasi, Isabella Eklöf & John Ajvide Lindqvist, a partir do conto Gräns, de Lindqvist. Fotografia: Nadim Carlsen. Música: Cristoffer Berg & Martin Dirkov. Montagem: Olivia Neergaard-Holm & Anders Skov. Dir. de arte: Frida Hoas. Figurinos: Elsa Fischer. Com: Eva Melander, Eero Milonoff, Jörgen Thorsson, Ann Petrén, Sten Ljunggren, Kjell Wihelmssen, Rakel Wärmländer, Andreas Kundler, Matti Boustedt.
Tina (Melander), trabalhadora  que presta serviços a alfândega portuária e que através de seu faro e sensibilidade incomuns, detecta sempre quando alguém traz algo indevido, vive com Roland (Thorsson), uma vida de moradia em comum, porém sem a prática do sexo, visitando com frequência o pai (Ljunggren) que mora numa instituição asilar e cuja memória tem sido afetada de forma irregular. O cotidiano de Tina muda de configuração quando ela encontra um dia em seu trabalho com alguém bastante semelhante a ela, Vore (Milonoff).  Perplexa e curiosa, Tina o reencontrará nas cercanias da floresta onde mora e acabará o chamando para morar em um aposento dentro do terreno de sua residência, para o incômodo de Roland e dos cachorros que esse cria para concursos. Vore lhe abre a cabeça de que, na verdade, são frutos de experimentos humanos e que não podem ser considerados enquanto tais, devendo antes lutar pela proliferação de seus semelhantes e combate aos humanos. Sentindo seu lado animal cada vez mais acentuado com a proximidade de Vore, Tina expulsa Roland de casa e começa a correr e tomar banho nua com ele, em dúvida sobre qual partido tomar, enquanto a investigação que gira em torno de uma criança que é pretensamente vítima de maus tratos em um apartamento continua contando com a forte presença dela.
Mesclando aspectos de thriller com sobrenaturais, evitando inteligentemente os excessos, lida com temas caros a esses, assim como a ficção científica e o terror, sem abrir mão do que lhe é estranhamente peculiar em sua representação afim de uma diversidade visceralmente ligada aos instintos, a terra e a recusa dos códigos culturais de sociabilidade, em seu limite. Com um excelente trabalho de maquiagem em que Tina e Vore se tornam figuras cujas “deformações” se encontram no limite da verossimilitude de “aberrações” genéticas, o filme investe fortemente nessa presença do vínculo em comum de se saber minoria em termos de um coletivo bem mais amplo e ameaçador, que em filmes clássicos como Sangue de Pantera eram somente uma espécie de nota de rodapé, ainda que o potencial transgressor que naquele havia com relação a radicalização da atitude "nós contra eles", atenua-se em uma contemporaneidade que irá provavelmente receber essa estigmatização ou caráter peculiar de ser como grandemente próxima de si própria. Se o roteiro não consegue estabelecer a contento subtramas como a da investigação relacionada ao bebê no mesmo nível com que vincula a influência de Vore sobre Tina, a ponto de rapidamente passar do nojo para o desejo de comer vermes da terra, uma ética humana da qual Tina já se encontra contaminada faz com que não leve até o fim o projeto de seu novo mentor e, se a relação com pai, na última cena em que são observados juntos, parece estremecida pelas revelações de que se tornou consciente, seu final apresenta uma saída pela ambiguidade, ao mesmo tempo negando embarcar na jornada de Vore que talvez tenha resultado em sua própria morte, por um lado, mas tampouco deixando de demonstrar fortes instintos maternais para uma criança que possui as mesmas características de ambos. Paralelos podem ser traçados, em sua mescla de cotidiano e fantasia, mesmo que em doses diversas de ambos, com filmes menos interessantes como Grave (2016), de Julia Ducornau. Prêmio Un Certain Regard em Cannes.  Meta Film Stockholm/Spark Film & TV/Kärnfilm/Film I Väst/SVT/Meta Film. 110 minutos.

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