Filme do Dia: Bacalaureat (2016), Christian Mungiu
Bacalaureat (Romênia/França/Bélgica, 2016). Direção e Rot. Original:
Christian Mungiu. Fotografia: Tudor Vladimir Panduru. Montagem: Mircea Olteanu.
Dir. de arte: Simona Paduretu. Cenografia: Anca Perja. Figurinos: Brandusa
Ioan. Com: Adrian Titieni, Maria Dragus, Lia Bugnar, Malina Manovici, Vlad
Ivanov, Rares Andrici, Gelu Colceag,
Lucian Ifrim, Emanuel Parvu, Petre Ciubotaru.
Romeo (Titieni) é um pai zeloso pela educação da
filha, Eliza (Dragus) que pretende que vá para a Inglaterra e não sucumba ao
que acredita ter sido o seu próprio erro e o de sua esposa, Magda (Bugnar), de
retornar ao país. Para isso, ele tenta fazer o possível e o impossível, mesmo
quando uma série de acontecimentos parece se indispor contra o seu objetivo.
Eliza sofre uma agressão perto da escola e, tempos depois, descobre que o pai
possui uma vida paralela com uma amante, Sandra (Manovici). Com a instabilidade
emocional que Eliza sofre em meio ao processo seletivo que deve se sair muito
bem para conseguir a vaga na universidade inglesa, Romeo troca favores com o
Inspetor de Polícia (Ivanov), operando o corrupto vice-prefeito Bulai
(Ciubotaru) de um transplante de fígado, enquanto esse negocia para que o
Presidente do Comitê de Exames (Colceag), favoreça sua filha. A situação se
complica quando o procurador Ivascu (Parvu), que investigava Bulai, escuta as
conversas telefônicas que esse trocara com Romeo.
Notável pela difícil integração entre comentário
social específico sobre a corrupção no país e apresentação do drama pessoal de
um pai por sua filha, que finda com que ele praticamente perca boa parte de sua
estabilidade pessoal e ameaça sua reputação pessoal e profissional, o filme de
Mangiu igualmente mescla elementos de um thriller
com situações domésticas, amor paternal e moral pública. E talvez um de seus
trunfos seja justamente não desembaraçar todos os nós. Vivendo com bravura o
seu Romeo, Titieni em nenhum momento é instado a perder por completo a cabeça
mesmo com toda a pressão que sofre crescentemente, atuando com relativa
contenção até mesmo no momento em que agride o namorado da filha e é agredido
por esse. Em vários momentos o personagem ameaça a filha com o que chama de
“mundo real”, que seria muito diverso do que as expectativas
acadêmico-profissionais no exterior acenam. Esse mundo real envolve corrupção e
a violência sofrida pela filha, tampouco resolvida em seu final. Em sua sede de
protege-la desse mundo, esse pai paradoxalmente é violento e busca ser
insensível com a filha, escondendo seus sentimentos para um choro entre as
árvores nas quais a filha sofreu uma tentativa de estupro, que somente é
testemunhado pelo espectador. Destituído de trilha sonora que não seja
diegética – a música clássica escutada habitualmente por Romeo em seu carro,
por exemplo – o filme parece espelhar a difícil arte de manter o equilíbrio
emocional em meio a tantos flancos perigosos, em que as situações mais
dramáticas são “traduzidas” dentro da domesticação exigida pelas convenções
sociais, como que espelhando a conduta de seu protagonista, de quem, aliás,
nunca se descola – as outras personagens surgem bem mais esmaecidas e algo
unidmensionais, tal como a percepção que habitualmente se tem dos outros. Por
mais que Bugnar possa ser uma atriz de talento, sua personagem praticamente
fica reduzida a da figura amarga e nada ativa que pune – ao menos em palavras –
pela filha, demonstrando uma sensibilidade distante do pragmatismo paterno.
Segundo o diagnóstico de Romeo, em dez anos sua filha estará arrependida de ter
optado em permanecer na Romênia com Marius, o namorado. Torna-se talvez difícil
não concordar com ele, por menos simpática que seja sua posição quase ao limite
da intransigência, nesse drama que, em tempos saturados de facilidades
extraídas de receitas politicamente corretas, o mundo apresenta uma face bem
mais complexa que os clichês de uma telenovela. Prêmio de Direção em Cannes.
Canal +/Ciné +/Euroimages/France 3 Cinéma/France Télévisions/Groupama
Romania/Les Films du Fleuve/Mobra Films/Orange/Why Not Prod./Wild Bunch. 128
minutos.
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