Filme do Dia: O Belo Antônio (1960), Mauro Bolognini
O Belo Antônio (Il Bell´Antonio, Itália, 1960). Direção:
Mauro Bolognini. Rot. Adaptado: Mauro Bolognini, Pier Paolo Pasolini & Gino
Visentini, baseado no romance homônimo de Vitaliano Brancati. Fotografia:
Armando Nannuzzi. Música: Piero Piccioni. Montagem: Nino Baragli. Dir. de arte:
Carlo Egidi. Cenografia e Figurinos: Piero Tosi. Com: Marcello Mastroianni,
Claudia Cardinale, Pierre Brasseur, Rina Morelli, Tomas Milian, Fulvia Mammi,
Patrizia Bini, Anna Arena.
Antonio
(Mastroianni) é um filho mimado e tido como garanhão por seus orgulhosos pais
Alfio (Brasseur) e Rosaria (Morelli). Porém, apesar da fama, ele não consegue
entabular relação concreta com nenhuma mulher, a não ser eventuais
aventuras sexuais em bordéis. A situação parece mudar de figura, para a alegria
dos pais, quando ele se interessa justamente pela cobiçada, dada a sua riqueza
e beleza, jovem Barbara Puglisi (Cardinale), com quem efetivamente se casa.
Porém, o casamento nunca chega a ser consumado de fato, e o pai da noiva
encontra outro partido para ela. Os pais de Antonio, humilhados e sem
compreender a situação, tentam fazer com que seu primo, Edoardo (Milian),
descubra o que aconteceu no casamento fracassado. Alfio volta a uma prostituta
para provar que sua masculinidade continuava a mesma, e morre nas mãos dela. A
empregada da casa dos Alfio, Santuzza (Bini), surge grávida e a mãe comemora
como sendo um feito de seu filho que comprova sua masculinidade, alardeando o
fato aos quatro ventos.
Austero e
soturno como seu protagonista, homem que não consegue desenvolver afeto pelas
mulheres, esse desconcertante filme de Bellochio (talvez o seu melhor) vai do
início ao final sem aparentemente oscilar sua tensão dramática, mesmo quando
eventos dramáticos ocorrem, como a morte do pai de Antonio, que tampouco pode
ser pensada somente no registro cômico. Pasolini, num de seus últimos roteiros
para outros realizadores – sua estréia na direção se daria ano seguinte –
parece emprestar a máscara facial de Mastroianni um que de homossexualidade
reprimida, ainda que o próprio, condizentemente com sua situação, jamais o
expresse. Essa ambiguidade que se cria em torno da não consecução de seu
casamento com a bela Barbara, vivida por
uma Cardinale em início de carreira, assim como o próprio laconismo de seu
personagem, estendido ao próprio filme, é seu grande trunfo. Mesmo quando apela para uma “explicação psicológica” para sua atitude, expressa na
conversa que efetua com o seu primo e até alente um trauma desde o seu primeiro
contato com uma mulher que fosse além do sexo, tais expedientes se encontram
longe de serem o suficiente. Se a tortura psicológica de seu personagem e sua incapacidade
de lidar com o sexo e a vida podem ter algum parentesco com Antonioni, aqui
parecem antes servir igualmente a alguma obscura metáfora política bem ao gosto
de Pasolini, como deixaria evidente em seus filmes, para não falar de Bellochio.
Por outro lado, sua evocação da decadente elite italiana pouco possui do tom
carnavalesco e feérico de um Fellini, que realizaria a versão mais célebre da
mesma no mesmo ano (A Doce Vida). Filmado numa bela fotografia em preto e branco e com
elegantes e fluidos planos de grande extensão, o filme a seu modo também parece
contemporizar, mesmo que nas entrelinhas, com a afluência econômica italiana
que despertava igualmente o interesse de praticamente todos os realizadores
significativos do período (Fellini, Antonioni, Risi) e o descompasso entre os
desejo e a subjetividade individual e a sociedade e seus valores impositivos –
mesmo que aqui, dentre os realizadores anteriormente citados, talvez seja o
caso mais distante de tentar expressar tal subjetividade interior através do personagem;
tampouco o será pelos ambientes filmados, tais como no universo de Antonioni.
Arco Film/Cine del Duca/Societé Cinematographiqué Lyre para Cino del Duca. 105
minutos.
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