Filme do Dia: Dunkirk (2017), Christopher Nolan
Dunkirk (EUA/Reino Unido/França, Holanda, 2017). Direção e Rot.
Original: Christopher Nolan. Fotografia: Hoyte Van Hoytema. Música: Hans
Zimmer. Montagem: Lee Smith. Dir. de arte: Nathan Crowley, Kevin Ishioka &
Eggert Ketilsson. Cenografia: Emmanuel Delis & Gary Fettis. Figurinos:
Jeffrey Kurland. Com: Fionn Whitehead, Damien Bonnard, Aneurin Barnard, Lee Armstrong,
James Bloor, Barry Kheogan, Mark Rylance, Tom Glynn-Carney, Kenneth Branagh.
Soldados aliados se veem encurralados em Dunkirk,
onde a morte pode vir por terra ou ataque aéreo. Dentre esses se encontra um
assustado soldado francês (Bonnard) que consegue furar o bloqueio do exército
britânico que, em manobras de evacuação, não permite que seus compatriotas,
mesmo aliados, ingressem em seus vasos de guerra. O Sr. Dawson (Rylance), por
sua vez, leva um filho e o amigo desse nessa arriscada empreitada de solidariedade
civil. Um piloto fica preso no cockpit
após ter seu avião abatido. Um grupo que se encontra no porão de um barco se
atemoriza com os disparos de projeteis em direção a elas, que faz furos
crescentes no casco do navio. O Comandante Bolton (Branagh), observa todas as
manobras, perdas e destruição com relativa placidez.
Nolan embarca numa odisseia visual que parece
dialogar à perfeição com determinado “espírito do tempo”, se assim pode ser
denominado, do momento em que foi produzida. Deixa-se de lado quaisquer pudores
de aprofundar seja que sorte de dramas pessoais forem e se embarca numa
descrição alucinada de ações de combate, que por si ganham o protagonismo do
filme cujo elenco é relativamente diluído em certa coralidade (para se ficar
com um termo caro ao cinema de guerra produzido a partir do fascismo na
Itália), ao ponto de determinados personagens relativamente importantes, como o
soldado francês, não se saber nada além de sua própria nacionalidade.
Poder-se-ia apontar os pontos de contato com a obra de um realizador que Nolan
parece admirar grandemente, Malick (sobretudo o seu filme de guerra, Além da Linha Vermelha) como a
recém-referida coralidade e o uso do mesmo Hans Zimmer, porém essa odisseia tem
muito pouco espaço para a mística lírica que prioriza a subjetividade dos
soldados daquele. Todo o cenário, apresentado através de planos muitas vezes
monumentais, da praia em que se encontra alinhada boa parte das tropas, não
parece servir mais que como passaporte para o voyeurismo do espetáculo da
guerra e, particularmente, para o voyeurismo de ações que resultam em situações
eminentemente de catástrofe, chegando ao ponto de se provocar sequencias em que
se aliam o terror dos jovens que se encontram no navio que afunda e o soldado
preso em seu próprio avião em um verdadeiro gozo mórbido em nada muito distinto
daquele presente desde os tempos de Griffith, descontada a dimensão moral
aparentemente difusa. Aparentemente, apenas, porque o filme não deixa de
apresentar prédicas nacionalistas e/ou triunfalistas que fariam corar cineastas
britânicos contemporâneos ao próprio evento retratado, como Humphrey Jenings,
caso do herói comum vivido por Dawson ou da ridícula cena em que os militares
saúdam embevecida e complacentemente a presença de uma verdadeira pequena frota
de barcos civis que se une ao grupo, que é triunfantemente antecipada como
“casa” por um emocionado Bolton, numa sequência que pretendia provocar talvez
um pathos similar ao do triunfo dos
marinheiros rebelados em O Encouraçado
Potemkin, de Eisenstein. Ou se busca através de expedientes mais modestos
como o do garoto de 17 anos que morre acidentalmente em uma queda. E não faltam
discursos de Churchill lidos em jornal e aparentemente absorvidos com
semelhante complacência e uma piscadela para os Estados Unidos nos letreiros
finais, passando pelo grandiloquente discurso de Tommy sobre a defesa da ilha
“a qualquer custo”. Ou ainda, a consideração sobre as colônias. Triunfo do
vazio da técnica, e da sensação sobre a sensibilidade, o filme conta com
primorosa fotografia e efeitos visuais. A batalha em questão já havia sido tema
de um filme homônimo (no Brasil, O Drama
de Dunquerque, de 1958). Syncopy/Warner Bros./Dombey Street Prod./Kaap
Holland Film para Warner Bros. 106 minutos.
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