Filme do Dia: Synonymes (2019), Nadav Lapid


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Synonymes (França/Israel/Alemanha, 2019). Direção: Nadav Lapid. Rot. Original: Nadav Lapid & Hamid Lapid. fotografia: Shai Goldman. montagem: Neta Braun, Era Lapid & François Gedigier. Figurinos: Khadija Zeggai. Com: Tom Mercier, Quentin Dolmaire, Louise Chevillotte, Uria Hayik, Olivier Loustau, Yehuda Almagor, Gaya Von Schwarze, Gal Amitai.
Yoav (Mercier), jovem recém-chegado à França, pretende esquecer todo o passado vivido em Israel, família, língua e é descoberto nu e inconsciente em uma banheira por seu vizinho, o afluente  Emile (Dolmaire) e sua namorada Caroline (Chevillotte). Emile torna-se seu mecenas, bancando-o, porém recebendo tudo o que escreve para servir como material de base para seus próprios escritos. Caroline sente-se, a determinado momento, atraída por alguém tão distante do seu círculo social de músicos. Yoav trafega entre formas as mais distintas de conseguir dinheiro, que vão de se tornar segurança de funções algo obscuras até posar nu para um fotógrafo exigente sobre o que quer dele. Yoav se recusa a interagir com o pai (Almagor). Com um dicionário sempre a seu lado, ele é um dos estrangeiros que faz curso de francês, em que a professora ressalta os valores da cultura nacional. Aos poucos, no entanto, seu trânsito junto a Caroline e Emile parece se deteriorar.
Inspirado na biografia de seu próprio realizador, sua proximidade de seu Yoav, de finalização similar ao nome real do cineasta, talvez não consiga disfarçar pretensões alegóricas saudavelmente mais amplas que as restritas a construção do alter-ego de Lapid. E, curiosamente, numa de suas cenas mais emblemáticas nesse sentido, venha a ser a que mais facilmente ganharia outra conotação após a trágica coincidência que a acometeu, provavelmente após as filmagens da mesma, que é a de Yoav metralhando em sua fantasia a catedral de Notre-Dame, vítima de devastador incêndio pouco após. Yoav, mesmo tendo pretensões de valorizar sua subjetividade através do que escreve e relata a Emile, numa relação premida de tensão homo-erótica recolhida, tem plena consciência de sua atratividade e de seu corpo, e tampouco deixa de explorá-lo, algo que o filme não se escusa também em fazê-lo. Tudo talvez demasiado afeito a um padrão de cinema de arte francês que valoriza os diálogos e cenas de efeito de uma dissimulada pretensiosidade. Passeando entre o drama e a comédia, ou a negação do nacionalismo israelense e a idealização de uma França cuja face fraterna no rosto do enigmático e entediado admirador Emile, talvez mal esconda interesses outros e cujo humanismo ateu  se transforma em algo um tanto irônico, na cena provavelmente mais cômica que o filme traga, na voz de uma professora que pretende ter como respostas de falso ou verdadeiro questões de gênero e religiosas para aqueles que aspiram se tornar cidadãos franceses. Sim, é verdade que a França está longe de se tornar o porto seguro do tradicional exílio sonhado de outras gerações, no caso de Yoav, mas o filme procura seguir os passos de uma ironia crítica na medida para satisfazer o apetite da má consciência critica da elite cultural francesa. E o faz com um bom trabalho quanto ao elenco, com destaque para o taciturno Emile de Dolmaire, e uma câmera que treme de alto ao baixo enquanto Yoav desfia um sem número de  definições de seu dicionário, inclusive sinônimos para adjetivar a crueldade de seu país de origem, podendo servir igualmente para se livrar dos olhares curiosos que lhe sejam dirigidas, nas cenas em meio as calçadas de Paris. Sua costura algo aleatória não deixa de ter seu charme, embora se esquive de traçar um todo mais orgânico ou um final mais conclusivo, em cenas como a que duas garotas se encontram completamente em sintonia em sua dança, a ponto de sequer tomaram notícia do amigo exaltado de Yoav, que pretende gritar a quantos possa, sua origem israelense, cena essa vivida com maior destaque no metrô. Urso de Ouro no Festival de Berlim. SBS Films/Pie Films/Arte France Cinéma/Komplizen Film. 123 minutos.

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