Filme do Dia: O Tesouro (1923), G.W. Pabst
O Tesouro (Der Schatz, Alemanha, 1923). Direção:
G.W. Pabst. Rot. Adaptado: Willy Hennings & G.W. Pabst, a partir do romance
de Rudolph Hans Bartsch. Fotografia: Otto Tober. Dir. de arte: Robert Herlth & Walter Röhrig. Com: Albert Steinrück,
Lucie Mannheim, Hans Brausewetter, Ilka Grüning, Werner Krauss.
Rumores
há muito circundam que tesouros haviam sido deixados pelos turcos, quando
invadiram Marburg, no século XVII. Esses rumores dizem respeito, inclusive, a
propriedade do fazedor de sinos, Svetocar (Steinrück), cuja filha, Beate
(Mannheim) apaixona-se por um jovem viajante, Arno (Brausewetter), que passa a
trabalhar para seu pai. Embora ele faça pilhéria de um velho trabalhador que
sai pela noite como que alucinado a caçar o tesouro, Svetelenz (Krauss), ele
próprio encontra o tesouro, tendo como testemunha Svetelenz. A cobiça dos mais
velhos, não impede que Arno busque o que lhe acha de direito.
Longa
de estreia de Pabst na direção, que mesmo não contando com grande apelo em sua
narrativa, consegue extrair efeito de seus cenários que evocam umidade e bolor,
prenhes da influência expressionista e de interpretações também marcadamente
altissonantes. Isso vale, bem entendido, para o trio mais velho, própria
encarnação da sede despudorada de riqueza, efetivamente destituído da virtude
do casal de heróis, de interpretação devidamente mais contida. O encanto mágico
de sua cenografia pode ser percebido até em cenários que representam o exterior
da lúgubre morada, não menos lúgubres, numa representação que mesmo mais
realista, poderia ser considerada quase uma adaptação da radicalidade
cenográfica de O Gabinete do Dr.
Caligari (1919), como é o caso da trilha que seguem os heróis para comprar
vinho, ele a contragosto, pois sabe que pode ser a chance para que o tesouro
seja desenterrado. E o mesmo poderia ser aplicado a muitas das dependências do
mestre fazedor de sinos, sobretudo os quartos.
Para o seu vistoso trabalho de iluminação às chamas das fundições em que
os personagens trabalham opera em grande consonância. Pode-se suspeitar à
vontade se o tesouro permanece no local ou já foi subtraído furtivamente pelo
herói diligente. Krauss, que cedera a pele ao próprio Caligari, surge aqui como
um não menos alucinado personagem, que até sonâmbulo sonha em encontrar o
tesouro. Destaque para a perspicácia com que o realizador provoca efeito a
partir de enquadramentos que favorecem formas geométricas, como é o caso do
refeitório observado a partir de uma parede vazada ou do casal de heróis
emoldurado por uma porta que é o divisor entre luz e sombras. E, igualmente,
para a heroína que se vê encurralada entre seus algozes, inclusive aquele que
quer transforma-la em mercadoria de troca do tesouro, enquanto o seu amado só
tem olhos para esse. Sua mensagem romântica final é que a cobiça inescrupulosa
somente pode levar a morte e destruição, enquanto o verdadeiro amor pode
prescindir da riqueza material. É ingênuo, clichê, inclusive quanto a forma de
punição que os mais velhos terão, mas condizente com o conjunto da obra de tom
marcadamente fabular. Dividido em cinco atos. Brausewetter morreria vítima de
uma granada, aos 45 anos, próximo ao final da guerra, tendo participado de
quase uma centena e meia de produções. Carl Froelich-Film GmbH. 79 minutos.
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