Filme do Dia: Fazendo Fita (1928), King Vidor


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Fazendo Fita (Show People, EUA, 1928). Direção: King Vidor. Rot. Original: Agnes Christine Johnston, Ralph Spence, Laurence Stallings sob argumento de Wanda Tuchok. Fotografia: John Arnold. Montagem: Hugo Wynn. Cenografia: Cedric Gibbons. Figurinos: Henrietta Fraser. Com: Marion Davies, William Haines, Dell Henderson, Paul Ralli, Tenen Holz, Harry Gribbon, Sidney Bracey, Polly Moran, Albert Conti.
Peggy Pepper (Davies) é a filha de um coronel caipira da Georgia (Henderson) que está disposta a se tornar uma grande estrela dramática de Hollywood. Ao aparecer em um papel secundário é descoberto seu talento cômico. Em pouco tempo, ela se torna a atriz principal de uma série de comédias. Com o sucesso, decide abandonar a carreira e se tornar estrela dramática, seu sonho inicial. Com o novo prestígio adquirido, também se afasta dos antigos colegas de trabalho, particularmente o seu ex-namorado Billy Boone (Haynes), decidindo se casar com um ator francês que se faz passar por conde, André Telefair (Ralli). No dia do casamento, Boone consegue adentrar a mansão de Peggy e fazê-la mudar de idéia, usando dos mesmos artifícios da comédia pastelão que a tornara famosa no mundo do cinema.
Sem dúvida alguma Vidor se sai melhor quando abandona o melodrama puro pela comédia como aqui ou uma mescla entre comédia e drama (tal como em A Turba, realizado no mesmo ano). Ainda que longe do talento e – mais importante para um filme que se pretende cômico – do senso histriônico do contemporâneo e outro filme que aborda o universo dos bastidores de uma filmagem, O Homem das Novidades, não há como negar a essa produção o título de primeira incursão no universo da indústria cinematográfica americana de ficção, iniciando uma extensa tradição que compreende filmes que vai de Nasce uma Estrela  a O Império dos Sonhos. Apesar de lidar com um enredo bastante simplório, Vidor parece bem consciente da sátira que direciona ao próprio cinema e suas pretensões de seriedade que, tal como a protagonista de seu filme, pretendem passar uma borracha no passado mais associado ao universo do entretenimento popular em que menos valia os dotes artísticos que a habilidade física exigida pelas estripulias. No entanto, não deixa de ser curioso que tal sátira permanece ambígua ao final, quando se observa menos o retorno de Peggy para as comédias pastelões como havia sido sugerido por Billy Boone, com sua aura romântica de arte desinteressada e não tão corrompida pela vaidade e riqueza, que a incorporação do último ao universo da elite do cinema, encarnada pelo próprio King Vidor. Outra tradição nesse subgênero (Crepúsculo dos Deuses, O Jogador, dentre muitos outros), o do desfile de celebridades (Chaplin, Renée Adorée, Douglas Fairbainks, John Gilbert, Louella Parsons) vivendo a si próprias é aqui iniciado de um modo que não deixa de fora nem a própria Marion Davies, conhecida fora das telas por seu relacionamento com Randolph Hearst que viria a ser referido indiretamente em Cidadão Kane. Como em seu bem mais inspirado A Turba, aqui se inicia igualmente com a protagonista caipira se aproximando do universo da cidade grande e a edição não deixa de salientar, ainda que bem mais modestamente, o impacto desse novo mundo aos olhos da mesma. Há na empostação que Peggy/Davies de se querer séria em suas primeiras produções dramáticas um que de excessivamente caricato que não funciona em termos cômicos, como pretendido. A figura de Gloria Swanson serviu como modelo para a personagem vivida por Davies, do mesmo modo que serviria para a representação de uma atriz do cinema mudo decadente, vivida por ela mesma, em O Crepúsculo dos Deuses (1950), filme de Wilder que muito deve a esse a  sua releitura amarga do universo da indústria cinematográfica. A certo momento é exibido na sala de projeção do estúdio um filme do próprio Vidor, Bardelys, O Magnífico (1926), com Gilbert. Os estúdios da Paramount, tradicionalmente associados a essa referência do filme dentro do filme (como no caso do filme de Wilder ) foram uma das locações escolhidas aqui. O título em português é bastante indigno de traduzir o espírito do original, parecendo mais uma opção anódina para uma comédia mais trivial. National Film Registry em 2003. Cosmopolitan Prod./MGM. 82 minutos.

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