Filme do Dia: Rua Madeleine 13 (1946), Henry Hathaway


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Bob Sharkey (Cagney) é o veterano da I Guerra Mundial que assume a própria missão de tentar conquistar o objetivo de explodir a residência do alto comando nazista em uma pequena cidade do interior da França, após o agente treinado e enviado por ele, Jeff (Latimore), ter sido assassinado pelo ardiloso espião nazista O’Connell (Conte), que os americanos já sabiam de sua identidade desde o início.
O que salta aos olhos, mesmo antes que se veja qualquer imagem do universo ficcional proposto por essa produção, é o quanto ela é devedora do mais brutal conflito bélico mundial do século XX, não apenas por sua trama derivar dele, como pelo próprio filme ser uma resposta do cinema a necessidade de se aproximar de uma estética realista ao qual parecia voltar suas costas antes, como já informa os créditos iniciais, que ressalta serem os cenários tanto internos quanto externos terem sido efetuados em locações, em uma explicitação não muito distinta daquelas apresentadas pelo cinema italiano já há alguns anos antes, como é o caso de Rossellini (La Nave Bianca). Algo que provavelmente não afeta seu status ficcional final, servindo antes como carta de propósitos, talvez  não sendo exatamente o caso de sua contraparte italiana, cujas articulações estéticas iam muito além desse recurso.  Embora a voz over tipicamente documental masculina e assertiva inicie comentando o que se encontra inscrito nos arquivos públicos norte-americanos, que o “passado é o prólogo”, esse prólogo de filme, acompanhado de imagens documentais, mais parece um prefácio à paranoia anti-comunista em curso. Ao menos em seu primeiro quarto.  A presença constante dessa voz ao longo do filme é algo incomum na filmografia contemporânea, que inclusive a utilizou bem mais frequentemente como voz de um narrador em “primeira pessoa”, como é o caso do noir, traindo talvez a incapacidade de compartilhar informações importantes através do meio dramático convencional e facilitando igualmente as mudanças de fases da operação.  Desnecessário dizer o quanto tramas de espionagem suscitam suspense, por mais que algumas antecipações também possam ser previstas, como a de O’Connel ser o agente infiltrado à serviço da Alemanha. Embora pese contra si, em termos profissionais, Jeff não consegue disfarçar minimamente sua antipatia por O’Connell após saber que se trata de um nazista. Ainda que, em termos de valores melodramáticos, sua inaptidão possa ser encarada como positiva e o redima, em termo de uma orientação de mundo melodramática, representando aquele que não sabe simular seus verdadeiros sentimentos por ser demasiado íntegro. E paga com a própria morte por isso.  Seu final, patético e contraditório – a missão aérea que destruirá o QG alemão na cidade também provocará a morte do agente americano que, mesmo sob tortura, jamais confessará seus segredos, como garante alguém que conhece bem esse durão de Minnessota – é sobretudo demasiado abrupto, com o sorriso de vitória sobre seu adversário logo sendo tragado pela poeira da destruição e morte. E não deixa de ser curiosa a ênfase de se observar a morte chegando sobre o herói e não sobre os adversários, como habitual. Se a vitória aparente da ação aliada é tida como certa, a morte de todos os personagens a quem o filme mais se aproxima – os três aliados e o nazista – mais parecem advertir involuntariamente para a falta de sentido da guerra. Breve ponta de Karl Malden, como o instrutor que orienta sobre o salto de paraquedas. Twentieth Century-Fox. 95 minutos.

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