Filme do Dia: Los Hermanos del Hierro (1961), Ismael Rodríguez
Los Hermanos del Hierro (México,
1961). Direção: Ismael Rodríguez. Rot. Adaptado: Ismael Rodríguez, a partir do
conto de Ricardo Garibay. Fotografia: Rosalio Solano. Música: Raúl Lavista.
Montagem: Rafael Ceballos. Dir. de arte: Jorge Fernández. Cenografia: Carlos
Grandjean. Com: Antonio Aguilar, Julio Alemán, Patricia Conde, Columba
Domínguez, Emilio Fernández, Eduardo Noriega, Ignacio Lopez Tarso, David Silva,
David Reynoso.
Quando
crianças, Reynaldo e Martín testemunharam a morte por assassinato do pai
adotivo, Reynaldo del Hierro (Noriega) por Don Velasco (Fernández). Quando
crescidos, o irmão mais velho, Reynaldo (Aguilar) busca vingar a morte do pai,
enquanto Martin (Alemán), traumatizado pela mesma, apenas pretende se unir a
jovem e bela Jacinta (Conde). A viúva (Domínguez), desde a morte do marido,
sofre dos nervos. Os dois irmãos acabam se apaixonando pela jovem, mas Reynaldo
mata um homem e foge com a mesma, contra a vontade do irmão dela, Manuel (Reynoso).
Acossados pelos homens de Velasco, Martin decide lutar e é morto como o
irmão, após matar também alguns dos homens.
Certos traços o distinguem da época clássica ou de ouro do cinema mexicano, vinculada
sobretudo as duas décadas anteriores. Uma delas é o visível trato menos pudico
com elementos eróticos, com duas cenas impensáveis para a produção americana
contemporânea. Numa delas, Alemán
aparece nu de costas após se banhar. Noutra, mais explicitamente erótica, seu
irmão mais velho segura a mão de Jacinta no momento em que ela aperta as tetas
da vaca para retirar o leite. No plano formal, o filme certamente se excede em
ângulos excêntricos, ao menos para os padrões do cinema clássico
norte-americano, motivo maior de inspiração para seu equivalente mexicano. Em
vários momentos a câmera escapa rumo ao céu. Rodríguez, um dos maiores talentos
de então, e indicado para o Globo de Ouro por essa produção, consegue extrair
belos planos de códigos que haviam sido extremamente banalizados por seus
congêneres norte-americanos, como nos planos/contra-planos, sendo que de um
deles se observa apenas praticamente um chapéu. Noutro momento os rostos dos
personagens parecem se situar numa geografia quase abstraída do seu contexto. O
Martin de Alemán, mesmo que amparado psicologicamente pelo clichê de trauma da
infância, apresenta um herói na qual violência e docilidade, o riso histérico e
a perversão se misturam de uma forma algo impensável para um protagonista dos
faroestes da década anterior. Seu riso é uma demonstração de um caráter
infantil persistente e central no traço de sua personalidade algo frágil e
dominada pela presença do irmão mais velho, cuja diferença de idade transforma-o numa
figura paterna, perfeita configuração para a expressão de um patriarcalismo
ainda incensado direta ou indiretamente. A figura feminina de Jacinta, por sua
vez, é de uma falta de autonomia bastante diferenciada das presentes em muitos
dos melodramas da época clássica, sendo que sua mescla entre uma tentativa de
representação que conjugue pureza e sensualidade beira às raias do vulgar.
Menos faroeste do que melodrama, algo que pode ser observado na rapidez com que
se desvencilha dos momentos de ação, fechando o ciclo com o mesmo motivo de
assassinato da paisagem inicial, acompanhado da mesma “deslocada” melodia,
igualmente cíclica, que gruda aos ouvidos. Faz uso do zoom, então coqueluche no
cinema mundial, mas de forma relativamente parcimoniosa e parece antecipar
discretamente certo escracho que será explorado no gênero por norte-americanos
e italianos. Destaque para a cena em que Martin estapeia sua amada para matar
um mosquito que a picava, por sua excêntrica comunhão entre ternura e
selvageria – Jacinta observa o animal morto como um souvenir do seu amado. E
tampouco pode deixar de ser referida a própria figura materna incentivando o
pequeno Martin a tentar vencer seu medo das armas, ao contrário da evocação
habitual da mulher se obstando contra a cultura de violência masculina. Ou
seja, mesmo fincado em raízes melodramáticas, tampouco se deixa de evidenciar
as necessidades imperativas que o universo violento, alertado inicialmente por
narração over (na voz de Arturo de Córdova) e cartelas ao mesmo tempo, exige.
Cinematográfica Filmex S.A. 95 minutos.
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