Filme do Dia: The Case of the Three Million (1926), Yakov Protazanov


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The Case of the Three Million (Protsess o Tryokh Millionakh, União Soviética, 1926). Direção: Yakov Protazanov. Rot. Adaptado: Yakov Protazonov, a partir do romance de Umberto Notari.  Fotografia: Piotr Yermolov. Direção de arte: Isaak Rabinovich. Com: Igor Ilinsky, Anatoli Ktorov, Danill Vvedenskiy, Mikhail Klimov, Olga Zhizneva, Nikolai Prozorovski, Vladimir Fogel.
Tapioca (Ilinsky) é um vagabundo que vive de pequenos furtos. Cascarelia (Ktorov), um larápio que circula nos meios grã-finos, sempre afanando joias e outros pertences. Ornano (Klimov) é um banqueiro. Preparando-se para mais um de seus golpes financeiros, Ornano vende sua mansão por três milhões de rublos e vai guarda-los em sua casa de campo em reforma. Sua mulher, Noris (Zhizneva) alerta o amante Guido (Prozorovski) sobre o dinheiro, mas a mensagem vai cair nas mãos de Cascarelia, que adentra a casa. Mal sabe ele que Tapioca, observando de seu binóculo, também tem planos de assalta-la. Os dois se encontram na mansão e se reconhecem de outros tempos. Noris pensa em chamar o marido, mas Cascarelia possui como trunfo o bilhete dela para o amante. Na manhã seguinte Ornano descobre o roubo e chama a polícia, que flagra Tapioca dormindo no teto da mansão. Esse é preso, e tem tratamento de fidalgo na prisão, afinal Ornano ainda espera negociar com ele sobre a quantia roubada. Até mesmo a sedutora Noris lhe faz uma breve visita. Quando do julgamento de Tapioca, toda a sociedade comparece e, para a surpresa de todos, Cascarelia se admite o autor do roubo e joga as notas do alto do tribunal. Enquanto todos se lançam alucinados para segura-las, Cascarelia foge e leva Tapioca consigo. Ele lhe diz que as notas que lançara são falsas e deixa uma boa quantia do assalto com Tapioca.
Protazanov, com seu habitual senso de humor, apresenta uma narrativa (ainda que adaptada) que faz concessões à nova ordem ideológica do início ao final– um dos três ladrões retratados é justamente um banqueiro – mas sem perder de foco um senso de paródia humana algo universal – sua história transcorre em um “um certo reino, um estado burguês”.  E o método de atuação do vagabundo, como na primeira incursão observada, no qual rouba o charuto de um grã-fino, aproxima-se bastante do vagabundo mais internacionalmente famoso do cinema então, Chaplin. A comparação dos três larápios ao início, cada qual atuando em um nicho próprio e em segmentos sociais distintos é evocativa do início de outra farsa do realizador, essa realizada de uma maneira geral de modo menos espalhafatosamente explícito daqui que é Don Diego i Pelageya (1928). Já no primeiro plano do filme se observa três mãos em planos de destaque sobrepostos que identificam as práticas de cada personagem: a de Tapioca segura um molho de chaves; a de Cascarelia, devidamente enluvada, segura um revólver; a do banqueiro porta anéis nos dedos e mexe com títulos.  E não faltam sátiras às instituições “burguesas” da Igreja e do Direito – o julgamento sendo quase literalmente um espetáculo cênico em um ambiente idem. Assim como a família burguesa, com a esposa do banqueiro não apenas sendo uma lasciva vamp mas interessada somente em dinheiro e nas inversões propostas – a determinado momento ela efetua um jogo de sedução com o pobretão que pensa ter roubado seu marido, noutro é cúmplice do mais atraente Cascarelia. E quando é chegado a um resultado a cartela que anuncia a sentença parece igualmente parodiar o uso expressivo do recurso pelo próprio cinema de vanguarda soviético do momento. Assim como, logo a seguir, o trecho em que o verdadeiro ladrão se declara diante de todos, e aquele no qual, com cartelas expressivas e montagem dinâmica, segue-se. Porém o que era de verdadeiro será desconstruído, quando ele joga literalmente diante de todos a hipocrisia social (e o dinheiro), de forma não muito distinta do que fará o criminoso de M, de Lang, alguns anos após, mas sem a necessidade de tão longo discurso quanto aquele. Embora o filme tenda a desconstruir com os estereótipos do roubo, ao tornar o personagem mais vilanesco e menos empático – inclusive, em termos físicos – a figura do banqueiro, nesse sentido bem conforme a tradição do cinema soviético mais diretamente engajado, saber-se-á pouco após que o dinheiro jogado é falso. Um deslize da trama é que se os três ladrões, tal como apresentados desde o início do filme, possuem segmentos bastante distintos, soa inverossímil que o pé-de-chinelo Tapioca busque assaltar justamente a menina dos olhos de Cascarelia, motivação para que a comédia de erros ocorra. Não faltam lugares comuns do humor misógino, por exemplo, na mulher que observa Tapioca como feio, mas ao saber da quantia em jogo, começa a observá-lo sob outra perspectiva. Ou ainda o mesmo oferecendo um drinque para uma mulher atraente em um bar, que sai com outro homem e quando ele vira com o copo se encontra no lugar daquela uma mulher mais velha e feia. Mezhrabpom-Rus. 63 minutos.


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