Filme do Dia: Prisioneiro das Montanhas (1996), Sergei Bodrov


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Prisioneiro das Montanhas (Kavkazsky Plennik, Russia, 1996) Direção: Sergei Bodrov. Rot.Original: Arif Aliev, Sergei Bodrov e Boris Giller. Fotografia: Pavel Lebeshev. Música: Leonid Desyatnikov. Montagem: Alan Baril, Olga Grinshpun & Vera Kruglova.Com: Oleg Menshikov, Sergei Bodrov Jr, Susanna Mekhralieva, Djemal Sikharulidze, Alexander Bureyev, Valentina Fedotova, Alexei Zharkov.
Jovem Vania (Bodrov jr.) se prepara para servir o exército. Juntamente com outros colegas que se encontram em um tanque, sofre uma emboscada, em que os únicos sobreviventes são ele e Sacha (Menshikov). Tornado prisioneiros pelo patriarca caucasiano Abdul-Murat (Sikharulidze), passam a viver acorrentados um ao outro na fazenda deste. Inicialmente avesso a tentativa de aproximação de Vania, Sacha, mais velho e experiente,  escarnece de sua fragilidade. Ambos são alimentados pela adolescente Dina (Mekharlieva). O convívio forçado durante dez dias faz não só com que Vania e Sacha se tornem sólidos amigos, como também que Dina se sinta atraída por Vania, assim como fiquem amigos do mudo e simpático Hasan (Bureyev), que teve sua língua arrancada pelos russos e os vigia de perto. Constantemente pressionado pela população do vilarejo, que quer ver os russos logo mortos, Abdul finca pé na guarda dos prisioneiros, por quem pretende trocar seu filho, feito prisioneiro russo. Porém chega a decisão que devem escrever para suas mães, e que caso não haja resposta em dez dias, irá assassiná-los. Certa noite, no entanto, Sacha confessa que não possui mãe. Certo dia, quando realizam trabalhos forçados sob a vista de Hasan, Sacha exclama que um dia pretende retornar e assassinar todos do lugar. Vania afirma não ter desejo de matá-los. Após a chegada da mãe de Vania (Fedotova), uma mal sucedida tentativa de troca diretamente com o exército russo, Abdul é surpreendido por um grupo de caucasianos armados que lhe exige a presença dos dois prisioneiros. Ambos são levados, com a presença do próprio Abdul. A missão deles é desarmar uma série de minas deixadas pelos russos. Após terem cumprido o serviço, o líder do grupo afirma-lhes que eles não serão tocados, pedindo que sejam libertados de suas correntes para que Vania possa lutar com um sobrinho seu. Ao chegarem ao local da luta, e vendo a falta de proporção entre a força física do lutador e Vania, Sacha pede para que ele grite o mais alto que puder, para assustar o adversário. Após o primeiro grito desesperado de Vania, o lutador desiste e todos riem. Retornando ao celeiro da fazenda de Abdul, os dois um dia tomam um porre e se divertem ao som de músicas típicas da Rússia, vestidos à caráter. Surpreendidos pelo guardião Hasan, como pelo próprio Abdul, continuam a se divertir, sob o olhar complacente de seus algozes. Fragilizado pela proximidade da morte, Sacha chora e pede que Vania tome conta de seu filho, caso ele morra. Acabam por decidir fugir, e Sacha joga Hasan de um despenhadeiro (Vania ainda tentou segurá-lo) e mata um pastor para ficar com seu rifle. Surpreendidos mais adiante, Sacha é aprisionado e posteriormente executado, após afirmar sua autoria do crime, enquanto Vania é novamente levado a fazenda de Abdul, onde é encarcerado em um poço. Abdul se dirige até o posto russo, onde a mãe de Vania negocia com um militar a libertação de seu filho e perde a paciência. Lá chegando, Abdul assassina um de seus filhos (que fazia parte da guarda russa), com esperança de libertar seu outro filho, que é assassinado quando tenta fugir. Enquanto isso, Dina finalmente se condoe da sorte de Vania e liberta-o do poço. No momento em que Vania afirma para Dina que a fuga dele pode comprometê-la, Abdul chega e encaminha-o para a execução, advertindo Dina que não chora por seu irmão, mas se encontra preocupada com a sorte de um russo. Mesmo sob o pedido de Dina para que não o mate, Abdul leva-o para a montanha e lá, deixa que ele fuja.
Apesar de, em certos momentos,  se aproximar perigosamente dos estereótipos do que possam parecer culturas exóticas (tanto a russa como a muçulmana) aos olhos do Ocidente (como faz, por exemplo, Zorba, o Grego), o filme vai além. Da mesma forma, nem os muçulmanos (provavelmente uma alusão aos chechenos, embora o filme sabiamente seja lacunar sobre o contexto preciso histórico-cultural que motiva o conflito) nem os russos são poupados de uma dimensão complexa que alterna violência com ternura, sentimentalismo com simples instinto de sobrevivência, nobreza e medo. Mesmo assim, exibe apenas uma leve sugestão sobre o mundo afetivo e imaginário dos caucasianos (através, principalmente, da garota), enquanto a proximidade com os personagens de Vania e Sacha, únicos personagens de peso realmente dramático, suscitam, inevitavelmente, uma empatia maior pelos russos. Referência a ineficiente burocracia militar russa, já que os sentimentos de mãe funcionam mais rápido que os contatos com o exército. Seu ritmo lento parece se adequar ao mundo arcaico do vilarejo caucasiano. Sua bela fotografia e locações evocam Antes da Chuva. Sensível final, onde o terno e desprotegido Vania (muito bem vivido pelo filho do cineasta) relembra as inesquecíveis figuras que provavelmente nunca mais encontrará, e que independentemente da cultura que defendiam, marcaram sua vida para sempre: Abdul, Hasan, Dina e Sacha. Bodrov Jr. morreria precocemente aos 30 anos soterrado por uma nevasca poucos anos após.  98 minutos.

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