Filme do Dia: A Era do Rádio (1987), Woody Allen


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A Era do Rádio (Radio Days, EUA, 1987). Direção e Rot. Original:  Woody Allen. Fotografia: Carlo Di Palma. Montagem: Susan E. Morse. Dir. de arte: Santo Loquasto & Speed Hopkins. Cenografia: Leslie Bloom, George DeTitta Jr. &  Carol Joffe. Figurinos: Jeffrey Kurland. Com: Mia Farrow, Seth Green, Dianne Wiest, Wallace Shawn, Julie Kavner, Julie Kurnitz, Josh Mostel, David Warrilow, Michael Tucker, Mindy Morgenstern, Danny Aiello, Gina DeAngeles, Tony Roberts, Jeff Daniels, Diane Keaton, Denise Dumont.
           Joe (Green) relembra o período que vai de 1941 a 1944, quando o rádio é o principal veículo a mediar as representações do mundo e a atribulada vida suburbana em New Jersey. É através do rádio que sua tia Bea (Wiest), solteirona, entrete-se e sonha com um marido, assim como se compartilha uma sensação ambígua de ficar de dentro e de fora dos eventos sociais importantes na cidade, da mesma forma que faz com que o garoto se entusiasme com as aventuras do Vingador Mascarado (Shawn). O pai de Joe (Tucker), que nunca afirma qual sua profissão, desistiu de seguir carreira com negócios e vive de favor na casa do cunhado de sua esposa. Certo dia, no entanto, Joe descobre que ele é motorista de táxi. Irene (Kurnitz) e Roger (Warrilow) são um casal pretensamente sofisticado que apresenta diariamente o café da manhã que encanta a mãe de Joe (Kavner). Na realidade quando saem à noite, Roger procura se satisfazer com uma vendedora de cigarros que sonha em ser estrela do rádio, Sally White (Farrow), enquanto sua esposa cai nos abraços de um afamado amante latino. Joe e seus amigos se divertem observando a nudez de uma mulher (Morgenstern), que descobrem posteriormente substituirá a professora. No dia do feriado sagrado dos judeus, uma família vizinha, simpatizante do comunismo, insiste em escutar música e não seguir o jejum. O tio de Joe vai tentar convencê-los a cumprirem os rituais e chega com discurso comunista na ponta da língua e passando mal de tanto ter comido. Bea pensa ter encontrado o homem de seus sonhos, um tipo fanfarrão que a leva de carro e, na volta, afirma que houve prego de gasolina. Quando começa a seduzi-la, no entanto, ocorre o anúncio da invasão marciana por Orson Welles, e ele a deixa sozinha. Sally White presencia o assassinato do patrão por um mafioso, Rocco (Aiello). Ele a leva para seu carro. E enquanto pensa um local para matá-la descobre que eram vizinhos no Brooklyn, levando-a para comer em casa, onde sua mãe (DeAngeles) aconselha de que era desnecessário matá-la, de tão estúpida que é. Rocco pensa em lhe arrumar um emprego no rádio, através do irmão. White estreia em uma adaptação de Tchecov que não consegue ir ao ar, por causa do anúncio do ataque japonês contra Pearl Harbour. Ela entra para um curso de dicção e sua vida se transforma. Em pouco tempo estará anunciando sobre a visita de Clark Gable em Nova York. Joe ganha um novo irmão e, para comemorar Bea o leva com o novo namorado para um concurso de rádio do dólar de prata, onde ela escolhe o tema peixes e ganha, já que com a experiência de ver o tio de Joe sempre trazendo peixes para casa, todos se tornaram verdadeiros especialistas. Ela compra um laboratório de química para Joe e, nessa noite, os dois se encontram no melhor dos mundos. Ela muito satisfeita com o homem que prometera abandonar a esposa. Ele com o laboratório. Pouco importa se algum tempo depois, as manchas que deixara no casaco da mãe provocadas por suas experiências o condenem a uma surra (interrompida graças ao rádio e a comoção nacional provocada pela queda da garota Polly em um buraco) ou que o namorado de Bea tenha ficado mesmo com a esposa. Bea acorda o sobrinho, para que não se esqueça do ano novo de 1944, enquanto Sally White, que agora faz parte do mundo das personalidades do rádio, sugere na festa de reveillon que todos subam até o terraço do edifício onde um dia fora assediada pelo Vingador Mascarado.
Assim como Fellini em Amarcord (1974) e Terence Davies em Vozes Distantes (1988), Woody Allen faz um retrato de seu universo infantil e – principalmente – do universo adulto que o cerca, explicitamente reelaborando-o a partir de onde se situa o narrador. Trabalhando no ritmo de sketches que procuram se moldar a uma livre associação das memórias do mesmo, que é o próprio cineasta, o filme tem, entre seus melhores momentos, aqueles que explora os sentimentos familiares, como quando o pai abraça o filho após acabá-lo de açoitar, quando escuta sobre a garota que caiu no poço ou na seqüência que registra o momento de felicidade que se perpetuou, de Joe e sua tia, felizes em um boate (numa relação de cumplicidade que lembra bastante a trabalhada por Terence Davies em A Bíblia de Neon, também entre tia e sobrinho). Ou ainda a cena que a mãe de Joe discute sobre homens com sua tia, ressaltando o papel de excelente diretor de atores do cineasta, principalmente de mulheres. Entre as suas maiores falhas a excessiva submissão ao filme de Fellini, que aparece explicitamente referenciado em momentos como o das crianças a observar a mulher nua, no submarino alemão que surge como uma visão tão surreal, guardadas as devidas proporções, ao transatlântico do filme italiano e na neve que surge na cena final. A apurada e realista direção de arte, que evoca a exaustão o auge do art déco e remete muitas vezes as ilustrações de Edward Hopper, assim como um tom de nostalgia melancólica (que tem seu ápice na fala final, onde ele afirma que o inesquecível reveillon de 1944 traz-lhe a lembrança vozes que se tornam cada vez mais distantes) e a farta utilização de canções populares da época, aproximam-no mais do filme de Davies. Mesmo que seu sentimentalismo mascare e/ou reelabore de forma caricata qualquer conflito maior, ao contrário da produção britânica. A imagem mais impressionante é a que apresenta a família de Joe, com uma das mais belas tomadas já feitas da ponte do Brooklyn. Tal virtuosismo visual apenas realça uma certo tom superficial, mesmo tom superficial com que a cultura latina é alavancada nos EUA na época (e bastante destacada por Allen, seja na ponta de Denise Dumont cantando Tico-Tico no Fubá ou na mãe do protagonista imitando Carmem Miranda no banheiro). Tito Puente faz uma rápida aparição, como regente da big band latina. Diane Keaton também aparece em uma ponta (sua primeira colaboração desde sua parceria com Allen nos anos 70), onde canta doce e suavemente e transmite uma atmosfera de emoção que o filme consegue expressar em seus melhores momentos. Orion Pictures Corporation. 85 minutos.                                     


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