Filme do Dia: A Longa Caminhada de Billy Lynn (2016), Ang Lee


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A Longa Caminhada de Billy Lynn (Billy Lynn’s Long Halftime Walk, EUA/Reino Unido/China, 2016). Direção: Ang Lee. Rot. Adaptado: Jean-Christophe Castelli, a partir do romance de Ben Fountain. Fotografia: John Toll. Música: Jeff Danna & Mychael Danna. Montagem: Tim Squyres. Dir. de arte: Mark Friedberg, Kim Jennings & Thomas Minton. Cenografia: Elizabeth Keenan. Figurinos: Joseph G. Aulisi. Com: Joe Alwyn, Garrett Hedlund, Arturo Castro, Mason Lee, Astro, Beau Knapp, Ismael Cruz Cordova, Barney Harris, Vin Diesel, Steve Martin, Chris Tucker, Kristen Stewart, Makenzie Leigh, Elizabeth Chestang.
Billy Lynn (Alwyn) e sua patrulha, os Bravos, retornam ao Texas de uma missão de guerra no Iraque, em que Billy foi particularmente corajoso ao enfrentar o inimigo em uma luta corporal de vida ou morte, mas sem conseguir salvar o Sargento Shroom (Diesel), um dos traumas da guerra que terá que levar consigo. Os soldados se tornam de interesse midiático, participando de um grande evento em um estádio, cujo ápice é uma apresentação da cantora Beyoncé  (Chestang) em meio ao jogo de uma liga de futebol, do qual uma das animadoras se apaixona à primeira vista por Billy, Faison (Leigh) e eles recebem uma proposta ridícula de cachê do oportunista magnata Norm (Martin). Billy ainda tem que lidar com a pressão da irmã, que sofreu uma série de cirurgias após um acidente de carro, Kathryn (Stewart), para não regressar ao Iraque. David Dime (Hedlund), um dos homens mais próximos de Billy, é o sargento que comandará o pelotão em seu retorno ao país do Oriente Médio.
O acumulado de fórmulas desgastadas transforma essa produção em uma tarefa árdua de se assistir até o fim. Talvez a pior de todas seja o da relativa compressão do tempo nas homenagens aos “heróis de guerra”, em que em meio aos eventos surgem flashbacks do protagonista. Mas a lista poderia preencher páginas a fio. A câmera do estádio que não parece ser outra que a do próprio realizador, ao trazer para close quando da execução do hino norte-americano justamente as figuras de Billy e Faison. Ou ainda a hostilidade do grupo em relação ao magnata do petróleo à tentativa de se compor uma patrulha multirracial, sem descurar de um protagonista branco no comando (tanto dramático, Billy, quanto  da equipe,  David Dime). E caricaturas risíveis surgem desde a proposta de Hollywood para os rapazes, até o modo como compreendem a guerra, quase uma copia mimética do que a intelectualidade liberal norte-americana pensa. Nesse sentido, o filme consegue se esquivar de um posicionamento político mais direto sobre a guerra e ainda angariar simpatias por seus soldados e, por mais desconfiados ou céticos que sejam quanto aos propósitos da guerra, o próprio Billy decide por contra própria retornar. Enquanto retrato do ressentimento do veterano de guerra, filmes da Hollywood clássica – citada a determinado momento por um dos Bravos – como Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1945), de Wyler, são de longa mais tocantes e satisfatórios. Uma das inovações pretendidas pelo filme se encontra em aparecer as mensagens trocadas por celular sobreposta a imagem do filme, sendo que a maior parte das mensagens são extremamente banais e o efeito se torna apenas isso que é, um efeito. Embora o filme ensaie um paralelo entre a exploração midiática e a guerra, é tudo demasiado rasteiro e clichê para ser minimamente motivador. E o mesmo se aplica ao amor surgido como que Deus Ex Machina que tenta sem sucesso provocar algum pathos. O discurso liberal não esconde o conservadorismo dos tempos – e também de boa parte do cinema produzido nesses tempos. Billy, por exemplo, afirma que talvez morra virgem.  E, tal como na cena do telão do estádio, o herói também possui uma despedida à parte, regada à muito choro e uma música nada adequada, não da namorada, mas da irmã, fazendo todos esperar. E, como se não fosse o suficiente, ainda possui um encontro místico com Shroom, personagem que pretende representar um misticismo oriental de pacotilha. Os soldados elaborados pelo filme, Billy sobretudo, o único de quem há alguma preocupação em apresentar alguma interioridade, soam muito pouco criveis, como se pudéssemos observa-los saltando das páginas de um roteiro, mais que de uma situação efetiva.  E se o filme dentro do filme não sai do papel, há o filme de Lee para vingar essa Hollywood tão amesquinhadamente oportunista ao lidar com os dramas alheios. O filme de Lee, evidentemente, seria por extensão, o oposto disso. Só que não é. Em última instância, trata-se do produto de um realizador sem pretensões autorais, portanto muitas vezes refém, no limite, do material que lida. Bona Film Group/Dune Films/Film4/Marc Platt Prod./Studio 8/The Ink Factory/TriStar Pictures/TriStar Prod.  113 minutos.


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