Filme do Dia: Harakiri (1919), Fritz Lang
Harakiri
(Alemanha, 1919). Direção: Fritz Lang. Rot. Adaptado: Max Jungk, a partir da
peça Madame Butterfly, de David
Belasco & John Luther Long. Fotografia: Max Fassbender & Carl Hoffmann.
Dir. de arte: Heinrich Umlauff. Com: Lil Dagover, Niels Prien, Georg John, Rudolf
Lettinger, Paul Biensfeldt, Meinhert Maur, Loni Nest, Herta Heden.
Um perverso monge budista, Karan (Lettinger)
quer forçosamente levar a filha de Daimyo (Biensfeldt), O-Take-San (Dagover)
para se tornar sacerdotisa de seu templo. Ele força o pai a cometer o suicídio
e a filha ingressa no templo para sua formação como religiosa. Um marinheiro
nórdico, Olaf (Prien), pula o muro do templo, proibido para os europeus e se
sente imediatamente atraído por O-Take-San. Essa consegue fugir e passa a
trabalhar como gueixa. Quando Olaf, deprimido por não mais encontrar
O-Take-San, é convidado por dois de seus amigos da Marinha a irem a um local de
diversão, O-Take-San lhes é oferecida como gueixa. O-Take-San e Olaf caem nos
braços um do outro. Ocorre o casamento, mas pouco tempo depois Olaf tem que
partir de volta à Europa. Ele promete retornar. Porém, quase quatro anos se vão
e O-Take-San ainda espera seu retorno. Olaf, por sua vez, casou-se com uma
mulher europeia, Eva (Heden) e não mais quer saber desse episódio de seu
passado. O-Take-San tem consigo a criança (Nest) fruto da sua breve união com o
marinheiro. Ela continua sendo pressionada pelo monge para voltar ao Templo e
ter a sua criança entregue ao Estado, porém a ação é impedida pelo Príncipe
Matahari (Maur), que há tempos deseja se unir a O-Take-San, sempre recebendo
uma negativa como resposta. Pouco depois, Olaf retorna ao Japão com a esposa.
Quando fica sabendo de sua iminente chegada, O-Take-San prepara toda a casa, a
si própria e ao filho, mas quem aparece, posteriormente, é a esposa de Olaf,
buscando o filho. O-Take-San afirma que somente o entregará ao próprio pai e,
tal como seu próprio pai, comete o harakiri. Quando Olaf chega ao local, fica
sabendo de sua morte.
Embora os títulos iniciais façam referência a
menção mais célebre da ópera, é da peça de Belasco, que fora a fonte da
dramaturgia de Griffith em seus anos iniciais na Biograph, e não da obra de
Puccini, que o filme se nutre. O que poucos sabem é que a própria ópera de
Puccini havia sido adaptada igualmente de Belasco que, por sua vez, baseara-se
na narrativa literária de John Luther Long. Que ela tenha sido adaptada por um
realizador alemão ainda sem renome e que a história seja ambientada no Japão
(através de estilizados e relativamente bem sucedidos cenários) traem tanto o
pendor de Lang por certo exotismo, que retomará ao final da carreira, quanto
uma produção talvez algo anômala para os padrões do cinema alemão de sua época.
O pular do muro que é proibido aos europeus representa metaforicamente a
transgressão ao tabu da relação inter-racial, ainda incapaz de ser expresso na
sua totalidade contemporaneamente por Griffith (que o diga o maravilhoso O Lírio Partido, em que a dimensão de
tabu ainda seria mais controvertida se houvesse ocorrido de fato, pois se trata
de uma mulher ocidental e um homem oriental ao contrário daqui). Aqui, no
entanto, se a relação inter-racial ocorre de fato é suavizada por todo o elenco
ser ocidental, caso da própria Dagover ( que seria a principal intérprete
feminina de O Gabinete do Dr. Caligari,
filmado no mesmo ano). Rapidamente, porém,
o que aparentemente poderia soar como um amor verdadeiro demonstra ser um
capricho por parte de Olaf, que já havia desistido de sua esposa mesmo antes de
partir. E o desdém com que se refere a ela posteriormente não se abala sequer
ao testemunhar a morte da mesma, lamentada muito mais pela fiel criada que pelo
ex-marido. Originalmente constava uma duração de 80 minutos. Decla-Bioscop
AG/Decla-Film-Gesselschaft Holz & Co. para Decla-Bioscop AG. 60 minutos.
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