Filme do Dia: Sangue Sobre a Índia (1959), J.L. Thompson


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Sangue Sobre a Índia (North West Frontier,Reino Unido, 1959). Direção: J.Lee Thompson. Rot. Adaptado: Frank S. Nugent & Robin Estridge, a partir do conto de Patrick Ford & Will Price. Fotografia: Geoffrey Unsworth. Música: Mischa Spoliansky. Montagem: Frederick Wilson. Dir. de arte: Francisco Prósper. Figurinos: Yvonne Caffin. Com: Kenneth More, Lauren Bacall, Herbert Lom, Wilfrid Hyde-White, I.S. Johar, Ursula Jeans, Eugene Deckers, Ian Hunter, Govinda Raja Ross.
Na Índia britânica do início do século, garoto e príncipe de uma das etnias em conflito provoca a ira da rival, que pretende eliminá-lo a todo custo. A americana Catherine Wyatt (Bacall), com ajuda de um grupo de britânicos, liderados pelo destemido Capitão Scott (More), decidem enfrentar a aventura de fugir em uma velha locomotiva guiada pelo hindu Gupta (Jahar). Porém, além das ameaças externas, eles também devem se precaver contra o suspeito jornalista Van Leyden (Lom).
Extravagante produção em cores e Cinemascope que não segue o estilo bem mais contido de outra super-produção do estúdio em p&b da mesma época (Somente Deus por Testemunha). Mesmo não tendo co-participação direta de capital norte-americano, é curioso como o filme contrapõe a faceta humana, identificada como de fato feminina, na figura de Bacall, a um grupo de britânicos que apenas discutem friamente sobre o futuro de um jovem príncipe de uma meia-dúzia de anos de forma impassivelmente fria. Ela também é responsável por encontrar uma criança recém-nascida dentre vagões repletos de cadáveres. Existe um mínimo de ironia para com a autoconfiança colonial britânica, seja na referência ao seu ocaso ou ao fato de ter servido como impedimento das rivalidades sanguinolentas entre grupos opostos na figura do ácido Van Leyden, mas tanto sua posição é marginal na trama (em direta oposição a habitual segurança sempre encarnada por More), como o modo com que os opositores dos simpatizantes do Império são massacrados e a ausência de qualquer proximidade mínima dos mesmos, sugere uma proximidade, para além de muitas outras, observada inclusive no título, com o faroeste clássico norte-americano.  Aliás, logo se descobrirá na figura ácida do jornalista, talvez a que melhor dialogue com o espectador contemporâneo por seu grau de incisiva franqueza frente a postura colonialista e, no melhor dos casos, paternalista dos britânicos com relação ao povo indiano, o mais execrável vilão, ele próprio disposto a matar a criança na menor oportunidade. Não falta a figura apatetada do indiano, observada de forma simpaticamente paternalista do maquinista do trem para corroborar a galhofa de Van Leyden, que não perde, inclusive, a oportunidade de ironizar com a forma humilhante com a qual se relaciona com os britânicos, através do termo sahibi. Perto da caricatura vil em que Van Leyden crescentemente se transforma, o que acaba por minar qualquer tentativa de observar o filme de forma menos simplificada e maniqueísta, os maneirismos da conservadora e tipicamente britânica Lady Windham, soam como pura simpatia e condescendência, assim como a benevolência irrestrita de seu contraparte, a própria representação da bonomia, Bridie. Em termos estilísticos, sua recorrência excessiva do uso da grua certamente busca acentuar os valores de produção de uma forma menos digna que Somente Deus por Testemunha e certamente longe do mesmo impacto que um Lawrence da Arábia. As proximidades com o western clássico norte-americano vão além da dimensão ideológica com que retratam os opositores enquanto hordas sem face, incluindo referências bastante próximas a No Tempo das Diligências, ao apresentar como subtrama de quase tanto destaque quanto a motivação principal – ou talvez até mais, servindo aquela mais como Efeito MacGuffin hitchcockiano – o convívio de um grupo em um espaço relativamente diminuto. Não por acaso parte de um roteiro desenvolvido por Nugent, habitual colaborador de Ford, a partir de uma história criada pelo filho de Ford, Patrick. The Rank Org. para Rank Film Dist. 129 minutos.

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