Filme do Dia: Os Crimes de Oscar Wilde (1960), Ken Hughes




Os Crimes de Oscar Wilde (The Trials of Oscar Wilde, EUA/Reino Unido, 1960). Direção e Rot. Adaptado: Ken Hughes, baseado na peça de John Furnell e no livro de Montgomery Hyde. Fotografia: Ted Moore. Música: Ron Goodwin. Montagem: Geoffrey Foot. Dir. de arte: Ken Adam &  Bill Constable. Com: Peter Finch, Yvonne Mitchell, James Mason, Nigel Patrick, Lionel Jeffries, John Fraser, Sonia Dresdel, Maxine Audley.
         No auge da glória, Oscar Wilde (Finch) é aclamado pela sociedade londrina dos anos 1890 como seu mais notável talento teatral. Porém, logo sua paz será seriamente abalada pelo relacionamento com o irascível jovem nobre Alfred Douglas (Fraser), que possui uma relação tempestuosa e neurótica com o pai, o Marquês de Queensbery (Jeffries). Wilde, a conselho da esposa Constance (Mitchell), procura se afastar das dívidas e do amante problemático e terminar sua nova peça, porém logo esse o encontra. Após um período afastado de Bosie, como prefere chamar o amante, Wilde volta a entrar em contato com o mesmo, depois que esse perde o irmão mais velho. Depois de muitas situações de enfrentamento com  o Marquês, que quer vê-lo longe do filho, Wilde não suporta receber um bilhete do mesmo acusando-o de sodomita. Irado, pretende processá-lo por calúnia, contratando os serviços de Sir Edward Clarke (Patrick). Conseguindo temporariamente a prisão do Marquês logo, no entanto, o feitiço volta-se contra o feiticeiro, e um novo julgamento, contando com toda a força de persuasão do promotor, Sir Edward Carson (Mason), acabará por complicar a situação de Wilde, que terá que passar pelo constrangimento de ver na tribuna vários de seus amantes ocasionais e a utilização de sua própria obra contra si, além de uma carta de amor dedicada ao amante. Mesmo tendo retirado posteriormente a acusação contra o Marquês, ele não mais consegue impedir que o processo se arraste contra ele, negando relutantemente que Bosie, uma testemunha de peso, vá defendê-lo nos tribunais. Enquanto recebe ordem de prisão, consegue que sua família e Bosie abandonem o país. Enquanto preso, consegue uma liberdade temporária entre os julgamentos, sendo humilhado publicamente pelo Marquês e escorraçado da própria casa pelo irmão. Dois anos depois, liberto da prisão, abandona o país, levado pela própria esposa.
Mesmo que um certo tom grandiloquente seja percebido tanto na extravagante fotografia e cenários, como na trilha sonora de efeitos dramáticos banais ou ainda em sua excessiva metragem, esse filme de Hughes possui também certas qualidades, como a notável interpretação de Finch (que também viveria outro personagem homossexual em Domingo Maldito), a indisfarçável simpatia que nutre pela figura humana que retrata e a forma honesta com que descreve a sociedade vitoriana. Longe de excessos, a sociedade que Wilde viveu  é encarada como condescendente com um certo nível de permissividade, longe do obsessivo patrulhamento puritano com que é geralmente identificada – no primeiro momento do processo, fica do lado de Wilde e contra o Marquês – desde que não ultrapasse os limites da exposição pública de detalhes, tal e qual acaba acontecendo no prosseguimento dos julgamentos – alguém comenta não se importar sobre o comportamento permissivo do artista, desde que ele não o faça na frente dos cavalos. Como outros filmes de sua época, tais quais Meu Passado Me Condena (1961) e Tempestade Sobre Washington (1962), esse se detém sobre o mesmo aspecto que predomina nos primeiros filmes a abordarem a homossexualidade de seus personagens: chantagens e processos envolvendo pessoas públicas. O co-produtor do filme é Irving Allen, mais conhecido por várias séries para a televisão com temáticas de ficção-científica. Um dos filhos de Wilde foi consultor do filme. O título brasileiro toma licença enorme com relação ao seu original em uma dobradinha que talvez servisse tanto aos propósitos morais quanto a um maior sensacionalismo. Warwick/MGM. 123 minutos.


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