Filme do Dia: Aventuras de Robinson Crusoé (1954), Luis Buñuel


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Aventuras de Robinson Crusoé (Robinson Crusoe, México, 1954). Direção: Luis Buñuel. Rot. Adaptado: Hugo Butler & Luis Buñuel, baseado no romance de Daniel Defoe.  Fotografia: Alex Phillips. Montagem: Carlos Savage & Alberto Valenzuela. Dir. de arte: Edward Fitzgerald. Cenografia: Pablo Galván. Com: Dan O´Herlihy, Jaime Fernández, Felipe de Alba, Chel López, José Chavez, Emilio Garibay.
Náufrago aportado em uma ilha deserta na época do tráfico de especiarias e escravos entre o continente europeu e o americano, Robinson Crusoé (O´Herlihy) cria, no  decorrer de vários anos, seu universo particular, levando muitas das regras aprendidas em sociedade humana para o ambiente inóspito. Construindo uma pequena fortificação, ele consegue aos poucos produzir trigo para fazer pão assim como uma criação de cabras. Sua solidão se torna completa com a morte e dispersão de seus animais doméstico, como o fiel cachorro Rex. A religião, por sua vez, serve como força para os momentos de falta de ânimo e desespero, assim como enfermidade. Crusoé descobre que um grupo de nativos antropófagos frequenta com certa regularidade a ilha. Numa dessas visitas, levam prisioneiros para serem sacrificados. Um deles foge e é acolhido por Crusoé que, pelo cálculo dos dias que marcava na árvore desde o momento que chegara, batizará como Sexta-Feira (Fernández). Inicialmente desconfiado do nativo, que o adora como a um deus, Crusoé se tornará cúmplice do mesmo. Após 28 anos de sua chegada, a oportunidade de retorno para a Europa se configura através de um motim de um navio que aportara na ilha. Crusoé parte para a Inglaterra, como comandante do navio, levando Sexta-Feira consigo.
Talvez por conta de ser uma produção mais rica que a maior parte das realizações contemporâneas que dirigiu no México no período, seu primeiro filme em cores e falado em inglês, essa que talvez seja a mais célebre das cerca de meia centena de adaptações do célebre romance para o cinema (presente na filmografia de diversas nações, incluindo a Rússia e o Brasil com a comédia produzida  em 1978 por J.B. Tanko com Costinha e Grande Otelo como protagonistas), o filme é menos irônico do que se poderia imaginar de algo dirigido por Buñuel. Ou melhor, trafega entre uma ambiguidade que a certo momento parece fazer mofa dos valores imperialistas e subjugadores da cultura branca européia sobre a negra, tal a prepotência e mesmo tirania com que Crusoé trata inicialmente Sexta-Feira e a própria amizade e companheirismo (servil, bem entendido, por parte do último) que predomina. Talvez mais tocante e engenhosamente representado seja a própria afirmação da cultura humana em um meio tão pouco provável em que ela conseguisse subsistir, particularmente a seqüência em que Crusoé grita a plenos pulmões em um despenhadeiro para provocar o eco de sua própria voz,  na patética esperança de algum sinal de outro ser humano além dele próprio. Fundamental para essa representação do estado de espírito do protagonista que se estende por mais da metade do filme é o uso da voz off/over. Aqui, como em  outros dos filmes do período (Os Esquecidos, Subida ao Céu), o cineasta também insere uma seqüência “onírica”, ainda que menos bem sucedida. Oscar Dancigers Prod./Producciones Tapeyac. 90 minutos.


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