The Film Handbook#170: Miklós Jancsó

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Miklós Jancsó
Nascimento: 27/09/1921, Vác, Hungria
Morte: 31/01/2014, Budapeste, Hungria
Carreira (como realizador): 1954-2012

Um dos mais distintos estilistas a ganhar aclamação internacional nos anos 60, Miklós Jancsó pode ser visto tanto como um diretor altamente pessoal quanto como um artista cujas raízes residem firmemente na história, geografia e cultura de seu país. Ao reinterpretar o passado da Hungria, ele desenvolveu uma forma de cinema que é correlata, poética e politicamente, à sua concepção de luta de classes revolucionária.

A carreira inicial de Jancsó foi ocupada realizando documentários sobre temas etnográficos. Em 1958 realizaria sua estreia em longa-metragem, The Bells Have Gone to Rome/A Harangok Rómába Mentek, mas foi somente com Cantata/Oldás és Kötés e Meu Caminho/Ígi Jöttem - fatias de realismo social com personagens convencionais - que desenvolveria seu próprio estilo. Baseado em eventos históricos de meados do século XIX, Os Sem Esperança/Szegénylegények>1 diz respeito a captura, tortura e assassinato de camponeses partidários pelas autoridades austríacas, abandonando heróis psicologicamente redondos por planos-sequencias de atividades coletivas, expondo a mecânica pelo qual o poder é sustentado. Ainda mais notável foi Vermelhos e Brancos/Csillagosok, Katonák>2, ambientado na guerra civil russa de 1917: através das enormes planícies - o belo e sombrio teatro de muitos dos conflitos de Jancsó - soldados e cavalos circulam incessantemente de um lado, enquanto o outro ganha ascendência temporária em um ritual profundo de triunfo e derrota. A câmera, fluida, varre e faz zooms, o diálogo é esparso e os personagens peões anônimos. Altamente formalista, mesmo abstrato, o estilo de Jancsó serve tanto para retratar a futilidade da guerra - os exércitos simplesmente refletem a violência um do outro - quanto para oferecer um equivalente visual à teoria dialética.

O conflito revolucionário reside no coração da obra de Jancsó; somente seus métodos se complexificam. Corpos nus se tornam simbólicos da humilhação e da provocação; os motivos tanto pagãos quanto míticos cristãos são pressionados a servirem à causa revolucionária; canções e danças ganham crescente importância enquanto expressões de unidade e insurreição. Após The Confrontation/Fényes Szelek, no qual as confusões e ambições da juventude húngara do pós-guerra se baseiam no próprio passado do diretor, ele retornou às planícies para o grandemente incompreensível Agnus Dei/Égi Bárány, sobre o confronto entre rebeldes e fanáticos religiosos em 1919. Contrariamente, Salmo Vermelho/Még Kér a Nép>3 foi admiravelmente lúcido: lidando com os esforços dos fazendeiros e desempregados contra senhorios latifundiários, Igreja e exército em somente 27 planos; seus movimentos de câmera intricados e fluentes e personagens concebidos como em um balé são tanto repletos de sentido político quanto visualmente sensuais, seu significado universal, mesmo que húngaro em seu cerne. De fato, por então, o prolífico Jancsó também filmava na Itália (The Pacifist/La Pacifista, Rome Wants Another Caesar/Roma Rivuole Cesare), mas seu trabalho no estrangeiro carecia da dimensão dos filmes que lidavam com a história de seu próprio país. De modo similar, Querida Electra/Szerelmem, Elektra não possuía o requisito necessário de transformar o mito grego em um tratado revolucionário plausível; e Vícios Privados, Virtudes Públicas/Vizi Privati, Pubbliche Virtù (uma versão da história de Mayerling que faz uso da escandalosa devassidão pan-sexual para simbolizar a rebelião anti-patriarcal) é prejudicado pelas persistentes, extravagantes e repetitivas cenas de nudez juvenil. Desde então, a carreira de Jancsó declinou, e a partir de Hungarian Rhapsody/Magyar Rapszódia, ele parece ter trabalhado com menos frequência. Hoje ele atrai escassa atenção no Ocidente, sua reputação sendo ultrapassada por compatriotas como Szabó, Pál Gábor, Pál Sándor e sua própria ex-esposa Márta Mészarós. De fato, pode ser apropriado afirmar que Season of Monsters/Szörnyek Évadja (o estudo de um grupo contemporâneo de acadêmicos bem sucedidos em crise auto-destrutiva, observado, a depender da perspectiva, como uma prometida nova fase de sua carreira ou enquanto virtual auto-paródia) foi seu mais sombrio e pessimista filme até então.

Talvez seja fácil criticar, mesmo na melhor obra de Jancsó, uma ênfase no estilo às custas do conteúdo; certamente sua coreografia detalhada e distanciada do conflito frequentemente parece desenhada a impressionar através da elegância em vez de abordar as emoções com sua visão de perseguidores e vítimas. De toda forma, seus melhores filmes possuem uma beleza formal e inteligência raramente encontradas no drama histórico tradicional, enquanto seu interesse nas forças coletivas mais que em heróis românticos individuais permanece fiel ao espírito do marxismo.

Cronologia
Inicialmente influenciado pelo realismo social, Jancsó tem falado de sua admiração por Godard, Bergman e Antonioni. Compreensivelmente, seu estilo tem influenciado poucos, mas comparações com Visconti, Pasolini, os Taviani e Theodoros Angelopoulos não são infrutíferas.

Leituras Futuras
Directors and Directions (Londres, 1975), de John Russell-Taylor; History Must Answer to Man; The Contemporary Hungarian Cinema (Londres, 1978), de Graham Petrie

Destaques
1. Os Sem Esperança, Hungria, 1965 c/Janos Gorbe, Tibor Molnar, Andras Kozak

2. Vermelhos e Brancos, Hungria/URSS, 1967 c/Tatyana Konyukova, Krystyna Mikolaiewska

3. Salmo Vermelho, Hungria, 1971 c/Andrea Drahota, Lajos Balazsovits, Andras Balint

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 139-40.

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