Filme do Dia: Azúcar Amarga (1996), Leon Ichaso
Azúcar Amarga (Cuba/Rep. Dominicana, 1996). Direção: Leon
Ichaso. Rot. Original: Leon Ichaso & Orestes Matacena, baseado em argumento
de Leon Ichaso & Pelayo García. Figurinos: Claudio Chea. Música: José Ferro
Jr. & Manuel Tejada. Montagem: Yvette Piñeyro & David Tedeschi. Dir. de arte: Liliana Soto & Manuel
Mendez. Cenografia: Victor Dume. Figurinos: Jaime Gonzales. Com: René Lavan,
Mayte Vilán, Miguel Gutiérrez, Larry Villanueva, Luis Celeiro, Teresa Maria
Rojas, Orestes Matacena, Caridad Ravelo.
Gustavo (Lavan) é um estudante-modelo
que foi premiado com uma bolsa de estudos em Praga. Ao mesmo tempo descobre que
sua família se encontra cada vez mais desagregada. O pai (Gutiérrez),
psiquiatra, movido por razões econômicas, decide ser pianista em um hotel para
turistas estrangeiros. O irmão, Bobby (Villanueva), que tinha uma banda de
rock, é preso e torturado e se pica propositalmente com uma seringa contaminada
pelo vírus da AIDS. Apaixonado por Yolanda (Vilán), que tem planos de
reconstruir sua vida em Miami, Gustavo descobre que ela é uma prostituta de
luxo. Ainda assim, decide propor casamento a ela que aceita e parte com outros
refugiados numa balsa. Gustavo é morto numa tentativa de assassinar Fidel.
Talvez o único mérito desse filme de
aberta propaganda anti-castrita seja o modo como reverte alguns clichês típicos
do melodrama ou do filme engajado para seus propósitos. Com relação ao
melodrama, ao torcer a expectativa da mulher virtuosa convencional que se
esperava de Yolanda, o filme tanto desconstrói a noção de virtude feminina
associada a fidelidade como associa seus “pecadilhos” a insustentável situação
econômica cubana. De fato, o filme constrói uma imagem virtuosa típica e depois
apresenta o seu reverso, a prostituta, antípodas que não se tocavam no
melodrama clássico, mas por fim não deixa de apresentar que uma coisa não
invalida a outra. Com relação ao filme de propaganda, ao ironicamente
transformar o personagem que ainda acredita na revolução como o alienado em
questão, fazendo o percurso justamente oposto ao trilhado pelos filmes de
influência progressista associados aos cinemas novos, inclusive cubano. Dito
isso, trata-se de um filme por demais esquemático, maniqueísta e pouco sofisticado
em termos dramáticos para soar verdadeiramente interessante. E em seus excessos
menos afortunado que outras produções de viés mais convencionalmente
melodramático e menos abertamente enfáticas em seu comentário político, tais
como Los Dioses Rotos, que se tornam inclusive mais contundentes.
Torna-se verdadeiramente patético em certos momentos, como o dos rapazes se
contaminando com seringas ou na cena da tentativa de assassinato de Fidel, um
tanto deslocada no conjunto do filme. Filmado em preto&branco, com visual
tão superficialmente moderno, no sentido de prentensamente próximo da imagem
publicitária na fotografia e nos cortes e com interpertações longe de
interessantes. Curiosamente como o outro filme, a prostituição, uma das
profissões mais associadas com a Cuba pré-revolução e contemporânea, está longe
de ser um mero acessório. Santo Domingo faz as vezes de Havana por motivos que
dispensam qualquer comentário. Azucar Films/Overseas FilmGroup. 105 minutos.
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