Filme do Dia: Finye (1982), Souleymane Cissé
Finye (Mali/França, 1982). Direção e Rot. Original:
Souleymane Cissé. Fotografia: Étienne Carton de Grammond. Montagem: Andrée
Daventure. Com: Fousseyni Sissoko, Goundo Guissé, Balla Moussa Keita, Ismaila
Sar, Omou Diarra, Ismaila Cissé, Massitan Ballo, Diounconda Cone.
Batrou (Guissé) é a insatisfeita filha
do coronel Sangaré (Keita), que comanda
com mão de ferro a região e, dentro de casa, suas três esposas. Ele não
consegue, no entanto, deter o envolvimento de sua filha com Bah (Sissoko),
rapaz de má reputação por usar drogas e não ter passado no vestibular e com o
movimento que pretende depô-lo do poder local. Quando uma tentativa de
organização de greve na universidade é desbaratada, Bah é preso com outros
ativistas e Batrou se entrega voluntariamente. Ele é enviado para um campo de
trabalhos forçados. Seu avô (Sarr) enfrenta o poder local personificado em
Sangaré, clamando pela soltura de seu neto e único herdeiro.
Cissé mistura ativismo com
misticismo. Ainda que o primeiro seja mais evidente e o segundo muitas vezes
surja através de obscuras referências visuais poéticas à cultura local. Duas
cenas que se destacam do corpo do filme são a que Batrou e Bah vivem um efêmero
momento de felicidade, banhando-se juntos e, na mais reveladora, o avô de Bah
sobrevive incólume ao balaço desferido contra ele por Sangaré, demonstrando os
limites do poder diante da dignidade humana do sofrimento de um avô e sua
intensa força espiritual, resistência que também se espraia para o próprio
desprezo pelas convenções realistas, incorporando semelhante opção presente ao final
de Arsenal (1928), de Dovjenko.
Cissé não pretende enveredar muito por
situações de causa-efeito, sendo que o mártir aqui está mais para a
marginalidade e desprendimento dos tipos do faroeste norte-americano,
destituído do glamour e da aventura daqueles, do que para a polidez dos heróis
do cinema de montagem soviético – Bah, embora filho de um grande líder, apenas
é conhecido por não passar no vestibular e usar drogas, assim como age
violentamente contra a frágil avó, antes de acidentalmente ter sido flagrado e
preso com o grupo. A exploração e submissão das mulheres, outro tema recorrente
na filmografia de Cissé, tampouco deixa de estar ausente aqui. Ao final, tem-se
a sugestão de que o engajamento político não pode esquecer de todo a forte
tradição mito-poética, pois se no plano mais próximo da trama, o líder
espiritual representado pelo avô de Bah, queima seu manto e utensílios sagrados
e se une ao coro dos insatisfeitos que se manifestam publicamente, o próprio
filme finaliza com imagens que se filiam à uma referência bem mais próxima da
tradição que do realismo político. 100 minutos.
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