Filme do Dia: Água Quente sob uma Ponte Vermelha (2001), Shohei Imamura


Água Quente Sob uma Ponte Vermelha - Poster / Capa / Cartaz - Oficial 1

Água Quente sob uma Ponte Vermelha (Akai Hashi no Shita no Nurui, Japão/França, 2001). Direção: Shohei Imamura. Rot. Adaptado: Shohei Imamura, Daisuke Tengan & Motofumi Tomikawa, baseado no romance de Yo Henmi. Fotografia: Shigeru Komatsubara. Música: Shinichirô Ikebe. Montagem: Hajime Okayasu. Dir. de arte: Hisao Inagaki. Com: Koji Yakushu, Misa Shimizu, Mitsuko Baisho, Mansaku Fuwa, Isao Natsuyagi, Yukyia Kitamura, Hijiri Kojima, Toshie Negishi.
         Desempregado, Yosuke (Yakushu)  abandona a família em Tóquio em busca de emprego na província, próximo da península de Noto. Sempre dispendendo boa parte do tempo com pessoas que vivem à margem da sociedade, ele encontra um velho metido a filósofo, Taro (Kitamura), que afirma ter numa velha casa próxima à ponte vermelha um antigo buda de ouro que vale milhões. Yosuke sente-se atraído pela jovem que lá vive, Saeko (Shimizu), dividindo a grande casa com sua avó (Baisho) que, devido a senilidade, perdeu boa parte dos ganhos com o comércio. Saeko faz sexo com Yosuke no dia em que se conhecem e, inesperadamente, passa a jorrar uma imensa quantidade de água de dentro dela. Yosuke se torna pescador e seu retorno para Tóquio se torna pouco provável após a esposa, sempre atrás de seu dinheiro, desistir e pedir o divórcio. Ao mesmo tempo, sua energia vital passa a ser sugada por Saeko que, reza a lenda, já havia feito o mesmo com muitos outros homens antes dele.
Alguns dos temas recorrentes na filmografia de Imamura voltam a surgir, como as representações de personagens da classe média, preocupados com o sexo e constrangidos por seus papéis sociais, tendo as mulheres um papel importante nessa constrição. O resultado final, no entanto, está longe de ser bem resolvido, pois se o cineasta consegue criar uma relativamente segura estranheza narrativa que o diferencia do trivial, uma aparente gratuidade e falta de definição entre o cômico e o dramático, de colorações pós-modernas, prevalece. Notadamente, no seu final, onde procura efetivar um pastiche de happy end  que soa abrupto e fora do contexto – ao mesmo tempo que a amante, cada vez com menos água, volta a esguichar como no início da relação amorosa, surge um arco-íris digital. Imamura ainda acrescenta algumas gags e motivos recorrentes, como o corredor africano e o treinador que o persegue com uma bicicleta ou a amante que, com a necessidade urgente do sexo, emite sinais de luz para o protagonista e, logo depois, a água despejada por Saeko que escorre da casa para o rio. Nas entrelinhas fica patente o quão machista é a sociedade japonesa, através da rudeza do tratamento dirigido às mulheres e do temor masculino frente a uma sexualidade insaciável e dominadora feminina, representada tanto pelo ciúme doentio dos homens como pelo progressivo esgotamento de Yosuke. Talvez o que de menos atraente exista no filme seja não a sua aparente misoginia, desmentida pela complexa relação de forças que existe entre os gêneros, que seu inverossímil e infantil tom de realismo mágico assim como sua tentativa de comicidade pós-moderna no estilo de Jim Jarmusch ou Aki Kaurismäki. Para o bem e para o mal o filme de Imamura, soa extremante juvenil para um realizador que contava com 74 anos quando o filme foi realizado. A um certo momento, faz referência ao Sétimo Selo, de Bergman, quando Yosuke e o fantasma de Taro jogam xadrez junto ao mar. BAP Inc./Catherine Dussart Productions/Comme des Cinémas/Eisei Gekijo/Imamura Productions/Maru Limited/Nikkatsu Co. 119 minutos.


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