Filme do Dia: 1 Berlin-Harlem (1974), Lothar Lambert & Wolfram Zobus
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Berlin-Harlem (Al. Ocidental, 1974). Direção e Rot. Original: Lothar Lambert
& Wolfram Zobus. Fotografia: Reza Dabui, Lothar Lambert & Skip Norman.
Montagem: Helga Schnurre. Com: Conrad Jennings, Claudja Barry, Brigitte Mira,
Hansi Jochmann, Günther Kaufmann, Y Sa Lo, Beate Kopp, Peter Chatel.
Negro (Jennings) norte-americano do Harlem
morando na Alemanha, sofre intensa discriminação em vários momentos: é observado apenas como objeto sexual de sua
amante alemã branca (Jochmann), desconsiderado grosseiramente por sua família
e, quando mandado embora por ela, torna-se fetiche de gays e mulheres, sendo
posteriormente acusado de estupro de uma garota branca que conhecera em um
transporte, perdendo seu quarto na moradia de uma velha senhora alemã (Mira),
passando a não demonstrar o menor interesse mais por nada, incluindo o convite
para participar de um filme a cargo do cineasta Rainer Werner Fassbnder e sua estrela
Ingrid Caven ou o emprego que possuía como programador. É encontrado por acaso
em um terminal ferroviário pelo advogado que se predispôs a defende-lo do
pretenso caso de estupro. Esse o leva para casa com intenções de que esse seja
sádico com ele, e ele o mata asfixiado. Em apuros, ele conta com a ajuda de um
influente compatriota americano para retornar à sua família nos Estados Unidos.
Mesmo que a sinopse sugira a de uma narrativa
convencional o filme é tudo menos isso. Pode-se dizer que ele se encontra
impregnado muito fortemente pelo espírito contestatório em uma vertente menos
convencionalmente política e já mais radicada numa aproximação com o discurso
que envolve minorias, aqui tanto a questão racial quanto a homossexual – ainda
que seja a primeira que seja mais visivelmente importante em sua elaboração.
Estruturado em segmentos que se iniciam com irônicas cartelas em inglês (Law and Order, The Beauty and the Beast, etc.). Embora o filme não deixe de
flertar com certo sensacionalismo bastante comum a produções como aquelas que
tiveram a chancela de Roger Corman, o que o torna mais atrativo é um descaso
com padrões que acometem hoje em dia, mais de quatro décadas após, inclusive
produções de uma vertente independente, ou talvez sobretudo padrões de
“eficácia” ou virtuosismo visual. Tudo aqui é apresentado de forma
assumidamente canhestra e algo debochada, porém não resta uma ambiguidade a
pairar sobre os momentos pretensamente sério-dramáticos, em que não se sabe se
se trata do evidente amadorismo das interpretações ou de algo propositalmente
tosco. Embora tiradas originais no plano formal não seja exatamente o forte do
filme, elas não são de todo ausentes, como é o caso dos súbitos primeiros
planos em que o protagonista discute com sua então amante alemã. Evocações do
contemporâneo O Medo Devora a Alma de Fassbinder (que surge numa ponta como ele
próprio, assim como sua companheira Caven) são inevitáveis, inclusive com uma
Brigitte Mira aqui vivendo um papel algo antípoda do que vivenciará no filme de
Fassbinder. Existe uma relativamente breve cena de felação explícita, algo que
torna o filme um passo além do que era “permitido” nas produções autorais no
panorama internacional de então, dentre muitas outras cenas de marcado – e
aparentemente consciente – utilização do erotismo de forma que busca o choque,
como é o caso de mais de uma cena em que alusões a sexo são praticadas diante
dos olhos de crianças, por exemplo. Destaque para sua primorosa trilha de
canções que muitas vezes, tal como na pioneira obra de Kenneth Anger (Scorpio Rising), são executadas na
íntegra, além de alguns números musicais presentes no próprio universo
ficcional. Arbeitgemeinschaft Kino. 100 minutos.
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