Filme do Dia: O Beco dos Milagres (1995), Jorge Fons
O Beco dos Milagres (El Callejón de los
Milagros, México, 1995). Direção: Jorge Fons. Rot. Adaptado: Vicente
Leñero, baseado no romance de Naguib Mahfouz. Fotografia: Carlos Marcovich.
Música: Lucía Álvarez. Montagem: Carlos Savage. Dir. de arte: Carlos Guttiérez.
Figurinos: Jaime Ortiz. Com: Ernesto Gómez Cruz, Maria Rojo, Salma Hayek, Bruno
Bichir, Delia Casanova, Margarita Sanz, Cláudio Obregón, Juan Manuel Bernal,
Abel Woolrich, Luiz Felipe Tovar, Esteban Soberanes, Daniel Giménez Cacho.
Rutilio (Cruz), mas conhecido como Don Ru é um dono
de café na Cidade do México no Beco dos Milagres, onde se entrelaçam todas as
relações sociais dos moradores locais. Embora casado e pai de um filho adulto,
Chava (Bernal), Rutilio não esconde sua preferência por homens mais jovens,
como Jimy (Soberanes), o que provoca a fúria de sua família, por conta dos
rumores e brincadeiras que são vítimas. Dona Cata (Rojo) prediz o futuro de
mulheres solitárias como a proprietária de quase todos os imóveis do Beco, a
sovina Susanita (Sanz), que é vítima de homens mais jovens e inescrupulosos
como Chava e o empregado do café de Rutilio com quem se casa, Güicho (Tovar).
Sua filha, Alma (Hayek), a mais bela jovem do Beco, torna-se objeto de paixão
do melhor amigo de Chava, o romântico Abel (Bichir), que parte para os EUA com
Chava para tentar melhorar sua vida e casar ao voltar. Porém, enquanto se
encontra nos EUA, Alma se torna objeto da paixão do rico Don Fidel (Obregón),
que morre pouco tempo depois e do cafetão José Luis, que a transforma em uma
prostituta de luxo. Chava retorna tempos depois do EUA, acompanhado de mulher e
filho. Logo a seguir chega Abel. Quando descobre sobre a atual profissão de sua
amada, é morto pelo seu oponente.
Esse filme, que sinalizou para a redescoberta de
alguns títulos do cinema mexicano pelo cinema internacional, tendência ainda
mais acentuada alguns anos após, em linhas gerais prefere se afastar de uma
possível leitura do realismo grotesco no estilo do Buñuel de Os Esquecidos para se aproximar de uma igualmente possível leitura mais
ligeira e folhetinesca do romance de Mahfouz, que bem se presta a esse papel,
com toda sua carga de pessimismo e crônica de costumes da população de baixa
renda na Cairo da Segunda Guerra mundial. O resultado final, embora demonstre a
universalidade e atemporalidade da obra de Mahfouz, transplantando-o para a
Cidade do México contemporânea a sua produção, perde-se por sua
superficialidade rasteira e interpretações banais. Ao contrário do romance,
onde apesar de toda a ironia com que os personagens são observados, a narração
sugere uma possibilidade de identificação com os dramas mais diversos de seus
tipos, aqui não só tais elementos se tornam meramente subservientes à
construção dramática como um sentimentalismo piegas aflora onde no romance era
mais próximo do despojamento. A cena final, por exemplo, é adaptada para a
clássica morte do amante nos braços da amada, quando no livro o personagem
tenta assassinar o próprio objeto de amor e é percebido do ponto de vista do
seu melhor amigo. Ou então envereda pela tentativa de cômico a partir do
caricato, como nas patéticas tentativas da personagem da viúva de ter um homem.
Curiosamente, a personagem da mulher de Rutilio se torna mais passiva meio
século depois que na obra original, talvez para tentar retratar de forma ainda
mais evidente o machismo da sociedade mexicana. Enquanto no livro ela própria
toma a decisão de escorraçar o amante do marido, aqui apenas chora e apanha do
mesmo, deixando ao filho o papel da violência.
Tornou-se o filme mexicano mais premiado internacionalmente até então e
alavancou a carreira de Hayek para patamares internacionais, ironicamente
cumprindo o desejo vivenciado por sua própria personagem. Alameda Films/Fondo de Fomento a la Calidad
Cinematográfica/IMCINE/Universidad de Guadalajara. 140 minutos.
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