Filme do Dia: Subida ao Céu (1952), Luis Buñuel


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Subida ao Céu (Subida ao Cielo, México, 1952). Direção: Luis Buñuel. Rot. Original: Luis Buñuel, sob argumento de Manuel Altoaguirre. Fotografia: Alex Phillips. Música: Gustao Pittaluga. Montagem: Rafael Portillo. Com: Esteban Márquez, Lilia Prado, Luiz Aceves Castañeda, Carmelita González, Roberto Cobo, Victor Peres, Paz Villegas.
O jovem casal Oliverio (Márquez) e sua esposa (González) se preparam para o ritual de lua-de-mel numa ilha deserta que é cumprido pelos que moram em um vilarejo da costa mexicana, quando são interrompidos com a chegada dos irmãos de Oliverio (Cobo e Peres) afirmando que a mãe (Paz Villegas) se encontra em vias de morrer. O jovem casal se desloca até a casa da mãe. Essa confessa a Oliverio, o único filho em que possui confiança, que quer deixar seus bens para o neto Chuchito, sobrinho de Oliverio, para que ele possa vir a estudar e ter uma vida melhor. Temendo a ambição dos irmãos, Oliverio parte imediatamente atrás de um advogado no ônibus cujo chofer é Silvestre (Castañeda). Porém a viagem é menos tranquila que imagina. A certo momento, uma mulher dá luz a uma criança, depois o motorista decide parar no rancho de sua mãe que aniversaria, ao mesmo tempo que acaba cedendo aos avanços da jovem garota fatal Raquel (Prado). Quando finalmente consegue chegar no alto do Cielo, o advogado, já idoso, afirma que não se arriscará na perigosa viagem, mas recomenda a Oliverio uma forma de conseguir burlar seus irmãos.
Essa graciosa comédia de Buñuel faz uso de uma viagem, principalmente através das relações desenvolvidas no interior do próprio ônibus, para traçar um bem humorado painel de uma sociedade mexicana agrária ainda profundamente movida por laços comunais. De sua crônica há um pouco de tudo, do erotismo que assoma da própria “inocência” não lapidada de seus personagens à obsessão pela morte tão referida na cultura mexicana (a certo momento, uma garota pede para observar o cadáver de outra criança que é levada no ônibus), do populismo político eminentemente regional ao culto da figura materna. Quanto a esse último, são várias as referências que não disfarçam o quanto ele se encontra arraigado na sexualidade masculina – quando Oliverio vai concretizar seu casamento é interrompido com a notícia da mãe agonizante, quando se encontra no auge de suas fantasias por Raquel surge novamente a figura materna, etc. Como o próprio realizador observara certa vez, ele parece se deliciar com seus personagens tal e qual um entomólogo. Se tal metáfora pode suscitar pruridos quanto a um paternalismo de quem observa de cima, tampouco deixa de transbordar um evidente encantamento com o mundo e os tipos que retrata. Mesmo com situações que não chegam a ser bem desenvolvidas, tal como a chegada de um grupo de turistas americanos ao rancho da mãe do motorista, o filme não deixa de ter algumas pérolas, como o fato do protagonista ser utilizado como mero objeto sexual por Raquel que, depois de fazer amor com o herói, afirma que já tivera o que  queria dele ou ainda a da criança que consegue retirar o ônibus do atoleiro, com uma junta de bois, enquanto todos se encontram entretidos com um trator. A inserção “surrealista”, presente aqui nos delírios eróticos de Oliverio, é menos bem acabada ou funcional dentro da narrativa que a de outros filmes contemporâneos do realizador tais como Os Esquecidos (1950), e igualmente marcada pelo tom edipiano. Talvez o encanto maior do filme advenha justamente nessa despretensão autoconsciente de ser uma obra menor na filmografia de Buñuel. Producciones Isla S.A. 85 minutos.


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