Filme do Dia: A Cidade dos Desiludidos (1962), Vincente Minnelli
A Cidade dos Desiludidos (Two Weeks in Another Town, EUA, 1962). Direção: Vincente Minnelli. Rot. Original: Charles Schnee, a partir do romance de Irwin Shaw. Fotografia: Milton R. Krasner. Música: David Raksin. Montagem: Adrienne Fazan & Robert James Kern. Dir. de arte: George W. Davies & Urie McCleary. Cenografia: F. Keogh Gleason & Henry Grace. Figurinos: Walter Plunkett. Com: Kirk Douglas, Edward G. Robinson, Cyd Charisse, George Hamilton, Daliah Lavi, Claire Trevor, James Gregory, Rosanna Schiaffino, Eric Von Stronheim Jr.
Jack Andrus (Douglas), ator em franca decadência após 3 anos de internação por alcoolismo e distúrbios psiquiátricos, recebe um convite para se juntar à produção do novo filme do realizador Maurice Kruger (Robinson), com quem trabalhou numa meia-dúzia de filmes, nos estúdios da Cinecittà Agora, no entanto, sua função não será mais que a de dublar a voz de seu alter-ego juvenil, o galã temperamental e mimado Davie Drew (Hamilton). Jack se envolve afetivamente com a ex-namorada de Drew, Veronica (Lavi), e tem que lidar com uma manipuladora ex-esposa, Carlotta (Charisse), com quem dividiu as telas no auge da fama. Quando Kruger sofre um ataque cardíaco durante as duas semanas que restam para que o filme seja concluído a toque de caixa, Andrus assume o comando, acreditando ser a oportunidade de salvar sua carreira, assim como a própria vida. Kruger rejeita o fato que ele tenha refilmado várias de suas cenas, apoiado por sua histérica esposa, Cora (Trevor), o que faz com que Jack tenha uma recaída na bebida e em festas orgiásticas com a companhia de sua ex-esposa, até o momento em que demonstra se encontrar determinado a mudar de vida e seguir com sua carreira, retornando aos Estados Unidos.
Mesmo transpirando certo charme advindo de se tornar quase uma manifestação da agonia do final da era dos estúdios – e correspondentemente do que se conhece como cinema clássico – norte-americano, assim como das referências ao próprio universo do cinema desse próprio, e talvez ainda mais proximamente, do cinema europeu autoral (como A Doce Vida, de Fellini), está longe de se encontrar entre os melhores filmes de Minnelli, incluindo o ótimo Assim Estava Escrito, de dez anos antes e voltado para uma temática semelhante; foi bastante apreciado, quando de seu lançamento por Godard, cujo seu Desprezo, de temática igualmente voltada para os bastidores de uma filmagem, seria lançado cerca de um ano após. Por mais iconoclasta que o filme possa ser no contexto em que foi produzido, incluindo palavras de baixo calão provavelmente nunca dantes ouvidas numa produção desse porte, ele mais parece representar um meio termo entre o cinema clássico e a Hollywood Renaissance, francamente influenciada pelo cinema autoral europeu, que lhe precederia alguns anos. Seu protagonista, mesmo perdido e desorientado em boa parte do filme (como, guardadas as devidas proporções, muitos de seus semelhantes nos filmes produzidos pelo cinema europeu) finda com uma vontade e entusiasmo que acenam para uma “regeneração”, ou ainda melhor, uma “superação” tipicamente associada ao modelo clássico; em sua ambiguidade, no entanto, os mais cínicos podem evocar que o esforço apresentado nesse sentido durante o próprio filme, quando ele assume a responsabilidade da direção, não se concretizou de fato, o que também poderia ser uma possibilidade. As referências do filme às próprias mudanças que o sistema hollywoodiano sofria durante a época de sua produção se encontram dispersas ao longo da trama, sendo algumas delas presentes já a partir de seu título original, sendo essa “outra cidade” justamente a mesma Roma, que havia sido tornado uma recorrência na produção cinematográfica desde a década anterior, por conta de ser uma fonte de serviços de produção mais baratos que os domésticos. MGM. 107 minutos.
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