Filme do Dia: Crimes e Pecados (1989), Woody Allen

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Crimes e Pecados (Crimes and Misdemeanors, EUA, 1989). Direção e Rot. Original: Woody Allen. Fotografia: Sven Nykvist. Montagem: Susan E.Morse. Dir. de arte: Santo Loquasto & Speed Hopkins. Cenografia: Susan Bode. Figurinos: Jeffrey Kurland. Com: Martin Landau, Anjelica Huston, Woody Allen, Alan Alda, Mia Farrow, Sam Waterston, Claire Bloom, Joanna Gleason, Martin Bergmann, Jerry Orbach.
          Judah Rosenthal (Landau) é um respeitado oftamologista, marido e pai de família que vê sua estabilidade ruir após ser ameaçado pela amante Dolores Paley (Huston). Inconformada com sua situação e as promessas habituais do amante de abandonar a esposa (Bloom), Paley passa a ligar obsessivamente para sua casa e consultório. Aflito, ele procura o irmão criminoso Jack (Orbach), que lhe propõe assassinato. Ele vê tudo como um enorme absurdo e prefere dar tempo ao tempo. Volta a encontrar-se com Paley, mas não consegue deter sua fúria. Atormentado, confessa tudo ao amigo e paciente Ben (Waterston), com quem sempre sentiu-se afinado, apesar do amigo ser religioso e ele um ateu convicto. Paralelamente o documentarista frustado Cliff Stern (Allen) aceita o convite de seu cunhado Lester (Alda), um fanfarrão por quem nutre conhecido desprezo, de filmá-lo em uma biografia auto-elogiosa. Na produção conhece Halley Reed (Farrow), sensível e recém-separada, que compartilha com Stern o entusiasmo do material documental que ele coleta sobre um brilhante filósofo, Louis Levy (Bergmann), sobrevivente dos campos de concentração, assim como por filmes antigos. Apaixonado por Reed, Stern confessa tudo a jovem sobrinha, que também leva com freqüência aos cinemas. Completamente esmagado pela possibilidade de perder o prestígio junto a família e como profissional -  Paley sabe sobre movimentações ilícitas que realizou no mercado financeiro, Judah acena com sinal verde para o irmão contratar um assassino. Perturbado após receber um telefonema do irmão que confirma a morte da amante, Judah se desvencilha da celebração de seu próprio aniversário com amigos e a família e vai até o apartamento da amante para recolher os últimos pertences que o poderiam incriminar. Percebe também o olhar vítreo de Paley morta. Progressivamente imagens de sua infância em família judaica ortodoxa começam a retornar. Preso de um poderoso sentimento de culpa, revisita a casa onde vivera sua infância e relembra uma discussão sobre ética na mesa de jantar. Enquanto isso, Stern se aterroriza ao saber que a sua irmã foi vítima de um maníaco que defecou sobre seu corpo e recebe  a inesperada notícia do suicídio de Levy. Para completar suas atribulações, Lester despede-o ao ver-se na tela em pleno assédio sexual ou comparado a Mussolini, enquanto Halley Reed decide passar três meses fora de Nova York. Três meses depois ele a reencontra e, para sua completa estupefação, casada com Lester. Deprimido, ele se isola em uma sala, onde é abordado por Judah Rosenthal, que lhe conta toda sua história como um bom enredo para um futuro filme. Stern lhe afirma que um melhor final seria com a voluntária confissão do assassino. Rosenthal lhe adverte que essa era a lógica dos muitos filmes de Hollywood que andava vendo, mas não a da vida.
Em um de seus melhores filmes, Allen consegue unir uma virtuosa estrutura narrativa (auxiliado por uma inspirada montagem, que proporciona um ritmo equilibrado e distante de seus filmes mais eufóricos) com um denso - e não afetado, como nos filmes de direta influência de Bergman - conteúdo. Allen lida com dois universos paralelos – não conseguindo mesclar em uma mesma linha narrativa drama e comédia como fez em Hannah e Suas Irmãs - sendo que aquele que é mais associado aos seus dramas familiares tradicionais ganha contornos secundários, o que não provoca um efeito de diluição do drama central através das ocasionais gags. Mais austero e menos autocondescendente e auto-centrado que na maioria de seus filmes, apenas nos últimos dez minutos finais é que o cineasta parece perder um pouco a mão e se aproximar de um tom mais leve. Livremente inspirado no Crime e Castigo, de Dostoievski. Sobram momentos inspirados como o irônico diálogo final e a interpretação de Landau é soberba.  O filme enfatiza em vários momentos – o suicídio de Levy (uma evidente referência a Primo Levi), a súbita mudança de posição de Halley Reed com relação a Lester e a brusca aproximação da religião em Judah – o descompasso, muitas vezes existente, entre os valores que externamos socialmente e a nossa estrutura psíquica mais profunda. Orion Pictures Corporation. 107 minutos.


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