Filme do Dia: Francisco, Arauto de Deus (1950), Roberto Rossellini

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Francisco, Arauto de Deus (Francesco, Giullare di Dio, Itália, 1950) Direção: Roberto Rossellini. Rot.Original: Federico Fellini, Pe. Antonio Lisandrini, Pe. Felix Morion & Roberto Rossellini. Fotografia: Otello Martelli. Música: Enrico Buondonno & Renzo Rossellini. Montagem: Jolanda Benvenuti. Com: Aldo Fabrizi,  Nazario Gerardi, Arabella Lemaitre.
     Francisco (Gerardi) demonstra sua humildade ao ser interrogado sobre o motivo que os outros o seguiam, apesar de feio e pobre, afirmando ele nada ser e Deus ser tudo. Quando correm para se abrigar da chuva na choupana que fora construída por eles próprios, são expulsos por um camponês que prefere abrigar lá sua vaca. Francisco expulsa a todos e quando alguns pretendem reivindincar algo, Francisco diz que a  situação de se encontrarem em plena chuva não deixa de ser uma graça para testar a resolução de todos em abraçar a fé que abraçam. Irmão Ginepro volta despido de seu hábito de Santa Maria, onde os irmãos haviam acabado de construir uma nova choupana. Aos irmãos, que se encontram reunidos orando, ele afirma que não pode resistir ao pedido de um passante, ao que Francisco afirma que ele não deveria repetir tal atitude. Giovanni, velho camponês das redendozas, resolve doar uma vaca para Francisco e seus companheiros, mas sua doação é recusada, enquanto ele passa a ser o mais novo membro do grupo. Os irmãos preparam o chão com rosas para o encontro de Francisco com Santa Clara (Lemaitre). Enquanto os irmãos oram na choupana com a presença de Clara, Ginepro retorna novamente sem o hábito e divide a atenção dos irmãos. No final do dia o céu arde em fogo de tão elevadas foram as preces do encontro. Um dos irmãos se encontra doente e sem apetite. Interrogado se se trata de mais um dos seus habituais jejuns, ele afirma que não. Recusa a sofrível sopa ofertada por Ginepro e afirma que gostaria de um belo pé de porco. Ginepro vai caçar um porco e lhe traz seu pé, provocando a fúria de seu proprietário que os chama de ladrões. Volta posteriormente e entrega o restante do porco. Ao orar solitariamente no bosque, Francisco tem sua preces interrompidas pela passagem de um leproso. Vai até ele e, após um certo estranhamento por parte do enfermo, abraça-o demoradamente. Depois chora. O irmão Ginepro cozinha alimentos para 15 dias, para que possam realizar suas missões sem mais se preocuparem com as necessidades da alimentação. Francisco ao saber do ocorrido, dá-lhe permissão para pregar. Indo pregar em região mais afastada, Ginepro encontra uma comunidade liderada por um tirano, Nicolau (Fabrizzi). Quase chacinado pela multidão furiosa que pensa ser ele um espião, Ginepro é salvo por um padre que sabe tratar-se de um seguidor de Francisco. Leva-o ao tirano, que pede que lhe retirem a armadura que preparam em seu próprio corpo, e que o deixem a sós com o suspeito. Após tentar todas as formas de intimidação para com  Ginepro e continuar vendo o sorriso em seus lábios e o doce olhar a encará-lo, o tirano desiste e manda que ele e sua gente se retire do local. Francisco afirma ao irmão Leone que mesmo com toda a caridade habitual que faz não consegue sentir uma experiência de completa alegria. Ao irem pregar em casa de um rico homem, são de lá expulsos escada à baixo violentamente pelo dono e terminam na lama onde, agora sim, Francisco se diz realizado. Francisco decide doar todos os pertences do grupo aos mais necessitados e partir, cada um por si próprio, para pregar as virtudes cristãs em locais diversos. Utiliza como método de definir quem irá para onde, a simples volta sobre o próprio corpo. Todos logo ficam tontos e caem, menos Giovanni, o mais velho de todos. Pouco depois até mesmo Giovanni não resiste e Francisco pergunta a cada um em direção de que cidade caíram, afirmando que é prá lá que devem ir. O grupo se dispersa.
Um dos cineastas mais assumidamente cristãos da história do cinema, Rossellini narra através de dez sketches, passagens da vida de São Francisco. Como sempre comedido em termos de forma e técnica,  não deixa, no entanto, que a  simplicidade signifique precariedade estética e se apropria dela como um trunfo que se adéqua como uma luva para o tema que trata. Consegue assim não só belas imagens como as cenas na chuva, de grande força pictórica, como uma narrativa, pelo menos aparentemente,  extremamente influenciada pela história oral e anedotário popular, que acaba amortizando qualquer pretensão de uma seriedade impositiva e esterilizante como no caso da produção hollywoodiana sobre temas religiosos. Mesmo assim demonstra menos inventividade e o resultado é menos empolgante que no episódio O Amor (1948), no filme de mesmo título. Um dos melhores momentos é o do encontro entre Ginepro e o tirano (vivido perfeitamente por Fabrizzi, que viveu o padre-mártir de Roma: Cidade Aberta) e que lembra o encontro de Macuínama com o monstro em Macunaíma (1969) de Joaquim Pedro de Andrade. A estrutura anedótica e a compartimentação em sketches parecem ter exercido grande influência sobre Pasolini, em filmes de sua trilogia da vida, em especial Decameron (igualmente com dez sketches). Além de ter tido dois padres na colaboração do roteiro, o próprio ator que vive Francisco é um frei franciscano. Cineriz. 75 minutos.


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