Filme do Dia: Post-Coitum, Animal Triste (1997), Brigitte Roüan
Post-coïtum,
Animal Triste (França,1997). Direção: Brigitte Roüan, Rot. Original:
Santiago Amigorena, Jean-Louis Richard,
Brigitte Roüan & Guy
Zylberstein. Fotografia: Pierre Dupouey Música: Michel Musseau & Umberto Tozzi. Montagem: Laurent Roüan
Com: Brigitte Roüan, Patrick
Chesnais, Boris Terral, Nils Tavernier, Jean-Louis Richard, Françoise Arnoul.
Diane Clovier (Roüan) leva uma vida mais que normal:
bem conceituada na editora de livros, onde trabalha para Weyman-Lebeau
(Richard); boa companheira para o marido Philippe (Chesnais); boa mãe para os
filhos adolescentes. Porém tudo isso se modificará, a partir do momento que
conhece Emilio (Terral), jovem que divide o apartamento com seu pupilo e
promessa de talento François (Tavernier). Ela esquece o mundo ao seu redor para
render-se ao seu amor cumpulsivo. Paralelamente seu marido, advogado, acompanha
o caso de uma conhecida da família, a senhora Lepluche (Arnoul), que
barbaramente assassina o marido com um garfo na hora do almoço, após anos de
calada conformação com suas traições. Diane entra em crise profunda, após
Emilio afirmar que viajará para África, enquanto ela descobre que a história
que escreve é, na verdade, a sua própria. Aos poucos perde a confiança do
marido (que após descobrir-se traído a abandona e faz relações entre seu caso e
o caso que irá defender no tribunal), a amizade dos filhos e a respeitabilidade
no trabalho, isolando-se no seu apartamento. Entregue à bebida e sem mais o
menor contato com o mundo social, atende aos apelos de François de viajar pela
Europa para divulgar o livro. Quando se encontram na Grécia, decide pular do
mesmo local onde Sísifo, segundo a mitologia grega, teria caído, pois reza a
lenda que qualquer amante poderia fazer o mesmo sem temer a morte. Acaba por
sobreviver.
Pretensioso
e pueril, a cineasta-roteirista-atriz Brigitte Roüan realizou um filme
arrastado e chato, seguindo talvez a pior corrente herdeira do cinema autoral
dos anos 50 e 60: aquela que acredita que a pobreza espiritual de seu próprio
universo burguês tradicional (e o caráter meio doméstico da ficha técnica
parece apenas confirmar tal característica), seu estilo de vida “moderno”, seu
tedioso auto-centramento narcisista e
seus banais problemas afetivos podem interessar alguém além de si próprio.
Quesito em que os europeus demonstram, infelizmente, serem mestres. Algumas
raras exceções, devido a uma oportuna auto-desconfiança e auto-paródia,
conseguem fazer algo mais criativo, como Noites
Felinas (1993) de Cyril Collard. Outros podem ser citados como filhos
diletos dessa mesma “estética do umbigo”, como Confissões na Noite (1996) de Daniel Levy. Aqui, ainda se ensaia
algo de cômico, embora tanto a comédia como o seu oposto soem infinitamente
vulneráveis diante de tanta frivolidade. O final, com referência direta ao mito
grego, que pretende dar uma certa aura “cult”, ainda consegue ser pior do que o
simbolismo primário do assassinato de Corazón
Iluminado (1997) de Babenco. A única temática que poderia acrescentar uma
certa dose de conflito dramático de peso, que é o paralelo entre a relação do
casal e o assassinato perpetrado por Leplouche é logo obscurecido pelos
devaneios tresloucados e a música patética que acompanham o drama da
protagonista. Chabrol conseguiu bem melhores resultados ao explorar o caráter
potencialmente homicida adormecido na classe média. 97 minutos.
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