Filme do Dia: Os Apuros do Senhor Max (1937), Mario Camerini
Os Apuros do Senhor Max (Il Signor Max, Itália, 1937). Direção: Mario Camerini. Rot.
Original: Mario Camerini & Mario Soldati, a partir do argumento de Amleto
Parmi. Fotografia: Anchise Brizzi. Música: Renzo Rossellini. Montagem: Mario
Camerini & Giovanna Del Bosco. Dir. de arte e Figurinos: Gino Sensani. Com:
Vittorio De Sica, Assia Noris, Rubi D’Alma, Lilia Valle, Caterina Collo,
Umberto Melnati, Mario Casoleggio, Virgilio Rieuto.
O jornaleiro Gianni (De Sica), de
humilde família, vive sonhando em fazer parte do mundo da alta sociedade. Seus
sonhos se tornam mais próximos quando se transforma no queridinho da socialite
Paola (D’Alma), personificado como
Senhor Max, em detrimento de um pretendente que esnoba. Após sofrer um acidente
de bicicleta quando procurava seguir o carro de Paola, Gianni se torna objeto
da paixão da criada de Paola, Lauretta (Noris). A partir de então sua vida se
transforma em um inferno, tendo que levar a farsa adiante de sua dupla
personalidade. Quando percebe que por mais que se esforce, jamais conseguirá
atingir os hábitos sofisticados de seus amigos ricos, Gianni convida Lauretta
para ser sua futura esposa e a leva para sua família, que a recepciona com
alegria.
Camerini retorna a elementos
formulados em seu sucesso Gli Uomini,
Che Mescalzoni!, de cinco anos antes. Lá, como aqui, De Sica vive o mesmo
tipo popular que pretende se fazer passar por grã-fino para conquistar uma
mulher. Nesse sentido, não falta sequer uma alusão a própria obra anterior, que
vincula a tentativa de conquista do herói com seu esforço na bicicleta. Lá,
como aqui, ocorre uma ambiguidade no que concerne a descrição do universo
luxuoso, exaltado em boa parte da produção escapista de então. Ao final de
contas, o que acaba sendo valorizado é o elemento provinciano, não aquele que
fala em inglês ou possui hábitos requintados como jogar bridge. Trata-se, ao
final de contas, de um populismo um tanto conformado, de uma forma quase
involuntariamente caricata – Gianni apenas decide optar por Lauretta, que
sempre surgira como segunda opção, quando se sente definitivamente incapaz de compartilhar os
códigos sociais valorizados pelo grupo ao qual pretende fazer parte –
representado pelo jogo de bridge; sem falar que ele já sofrera humilhação bem
maior anteriormente quando tentara se apresentar como cavaleiro, humilhação
essa flagrada exclusivamente pelo espectador. Aqui, o ritmo frenético da
montagem, que fora a tônica dominante do filme anterior, aparece em momentos
esparsos que se contrapõem de forma evidente a uma maior presença de planos
longos. Curiosamente, ao contrário das convenções em tramas similares, o engodo
não chega a ser descoberto ao final por nenhuma das partes. Como habitual,
Camerini consegue desempenhos apropriados para o material ao qual se propõe.
Astra Films para ENIC. 86 minutos.
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