O Dicionário Biográfico de Cinema#99: William Friedkin

 


William Friedkin, n. Chicago, 1939

1967: Good Times. 1968: The Night They Raided Minsky's [Quando o Strip-Tease Começou]; The Birthday Party. 1970: The Boys in the Band [Os Rapazes da Banda]. 1971: The French Connection [Operação França]. 1973: The Exorcist [O Exorcista]. 1977: Sorcerer/The Wages of Fear [O Comboio do Medo]. 1978: The Brink's Job [Um Golpe Muito Louco]. 1980: Cruising [Parceiros da Noite]. 1983: Deal of the Century [Uma Tacada da Pesada]. 1985: To Live and Die in L.A. [Viver e Morrer em Los Angeles]. 1986: Stalking Danger [Esquadrão de Ataque] (TV). 1987: Rampage [Rampage: Sede de Vingança]. 1990: The Guardian [A Árvore da Maldição]. 1994: Blue Chips; Jailbreakers (TV); 1995: Jade. 1997: 12 Angry Men [12 Homens e uma Sentença] (TV). 2000: Rules of Engagement [Regras do Jogo]. 2003: The Hunted [Caçado]. 2006: Bugs [Possuídos]. 2007: episódios de CSI (TV). 2011: Killer Joe [Killeer Joe - Matador de Aluguel]. 

Egresso da televisão no cinema, William Friedkin tem impressionado sobretudo com sua energia para projetos apressados, diversos dos quais seria melhor ter ficado na ideia, mas dois dos quais - Operação França e O Exorcista -  puseram-no, temporariamente ao menos, no topo da pilha rangente e oscilante. Friedkin parece um diretor de TV empolgado, loquaz o suficiente para formular uma crença pessoal de corte de gastos e convencido que o zoom e a insistente violência de imagens inesperadas buscam somente um sentimento cru pela sensação de cativar os protocolos tradicionais de construção e sentido. Operação França é um filme inepto, que deposita seu impacto na nossa face, e emprega o tipo mais deliberamente mecânico de montagem. Vez por outra se torna incoerente ou impossível de se seguir - The Godfather [O Poderoso Chefão] é um modelo de exposição e ritmo dramático ao lado dele, enquanto Dirty Harry [Perseguidor Implacável] apresenta uma visão de longe mais sombria do dilema de um policial. Como Naked City [Cidade Nua] vinte anos antes, foi feito na vã esperança que a autenticidade encobrisse o discernimento. Seu único toque de originalidade  - que o escroque possui bons modos e o policial é grosseiro - parece despercebido por Friedkin.

O sucesso, comercial, de Operação França, foi seguido de duas traduções fiéis de obras teatrais, nenhuma das quais possui qualquer razão convicente de ter sido feita. A compulsão de O Exorcista teve triste vida curta e sensacionalista. O filme é um eficiente conto de horor vallewtonesco*, deleitando-se com a linguagem suja, cabeças giratórias, sangue e bile, cortes chocantes e a voz de Mercedes McCambridge saindo da enfeitiçada Linda Blair. Os efeitos são assustadores, mas não tão terríveis quanto uma concepção simplória de maldade. Assistir O Exorcista é renovar o seu respeito pelos vislumbres de malignidade sombria nos filmes de Bresson

Houve um descanso significativo, durante o qual consumou um breve casamento com Jeanne Moreau, antes do altamente custoso e obscuro O Comboio do Medo. Castigado por seu fracasso, voltou a ser o modesto e convencional Friedkin, e realizou uma boa comédia de época, partindo da história do maior assalto de Boston de todos os tempos.

Nos anos 80, Friedkin pareceu crescentemente abandonado. Tentou a comédia em Uma Tacada da Pesada e suas velhas habilidades em perseguições de carros em Viver e Morrer em Los Angeles, mas os resultados foram, na melhor das perspectivas, convencionais. Rampage: Sede de Vingança é uma interessante exceção; um filme realizado em 1987, mas não propriamente lançado por diversos anos, e então muita coisa havia mudado. E é uma história de crime, a primeira versão dela contrária à pena capital. Mas, pela época da segunda versão, mudou sua base e se tornou porta-voz das vítimas.

Nos anos recentes Friedkin teve um ponto alto - o revival de Operação França e O Exorcista. Mas quem pode então deixar de se perguntar o que aconteceu com o cara que faria Jade e Regras do Jogo? A versão para a TV de 12 Homens e uma Sentença traz a resposta: essa é uma crônica sensacionalista dirigida à sobriedade, para permanecer trabalhando. Afortunadamente, Killer Joe - Matador de Aluguel foi um retorno ao trash, o tipo de filme que um desagradável e esperto jovem de vinte e dois anos poderia ter feito. Friedkin tinha setenta e dois. 

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Cinema. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 969-70. 

(N. do T): neologismo a partir do nome do produtor Val Lewton, célebre por alavancar um ciclo de filmes B de suspense/terror por volta de meados dos anos 1940, dos quais alguns se tornariam cults pelos apreciadores. 

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