Filme do Dia: Medéia (1969), Pier Paolo Pasolini

 


Medéia (Medea, Itália/França/Alemanha, 1969). Direção: Pier Paolo Pasolini. Rot. Adaptado: Pier Paolo Pasolini, baseado em Eurípedes. Fotografia: Ennio Guarnieri. Montagem: Nino Baragli. Dir. de arte: Dante Feretti & Nicola Tamburo. Cenografia: Dante Feretti. Figurinos: Piero Tosi. Com: Maria Callas, Giuseppe Gentile, Massimo Girotti, Laurent Terzieff, Margaret Clementi, Annamaria Chio, Paul Jabara, Gerard Weiss.

Medéia (Callas) consegue através de seu irmão Pelias (Jabara) o velocimo de ouro que Jasão (Gentile) precisava para destronar seu tio, Creonte (Girotti) que havia se apoderado do trono de seu pai. Porém, após ter o velocimo em suas mãos, acaba assassinando o irmão. Medéia se casa com Jasão, porém ao retornarem à Grécia o Rei afirma que o velocimo não possui mais nenhum valor. Jasão passa a se interessar por Gláucia (Clementi), filha de Creonte. Medéia é incitada por Creonte para abandonar a Grécia, porém acaba provoca o suicídio de Gláucia e seu pai e assassina seus próprios filhos.

Iconograficamente talvez o mais belo filme do cineasta, onde praticamente quase todos os planos são uma surpresa e um colírio para os olhos, o cineasta incorpora a tragédia de Eurípedes às suas próprias estratégias e interesses peculiares. Nesse sentido, impressiona menos o discurso do centauro, porta-voz do cineasta, que diferencia o universo da Antiguidade mito-poética do racional – e nesse sentido o filme é mais feliz do que as propostas mais diretamente “cerebrais” do cineasta como Teorema (1968) - que a presença das próprias imagens, repletas de composições visuais inesquecíveis, que Pasolini voltaria a fazer uso, sem o mesmo efeito, em sua trilogia da vida. Medéia é a própria personificação do literal deslocamento (ela que veio das terras bárbaras) do universo mito-poético numa Grécia cada vez mais racionalizada e temerosa do que não pode ser explicado pela razão. Ao finalizar com imagens de uma Medéia em meio às chamas, Pasolini parece sinalizar para uma defesa desesperada no Ocidente conteporâneo à produção de seu filme, da necessidade de tal universo  enfrentar de forma igualmente estóica um mundo cada vez mais embrutecido pela razão. Sua forma de retratar o mundo antigo, utilizando-se de mecanismos visuais que fazem menção aos da época retratada, talvez só possua similar em A Cor da Romã (1969), de Paradjanov. Soma-se a isso o próprio charme das “primitivas” interpretações semi-amadorísticas de todo o elenco de apoio e alguns atores principais (o próprio ator que encarna Jasão), com exceção de Girotti e Callas, diva da ópera que surge em seu único papel no cinema. A certo momento, para retratar a morte de Gláucia, o cineasta faz uso do recurso de toda uma seqüência em flashforward, que volta a se repetir com pequenas variações, após o susto da reaparição de Gláucia quando já se imaginava ela se encontrar morta. Filmado na Turquia, Síria e Itália. EIA/Janus Film/Les Films Number One/Planfilm/San Marco. 109 minutos

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso