Filme do Dia: O Lago dos Mortos (1958), Kare Bergstrøm
O Lago dos Mortos (De Dødjes Tjern, Noruega, 1958).
Direção: Kare Bergstrøm. Rot. Adaptado: Kare Bergstøm, a partir do
romance de André Bjerke. Fotografia: Ragnar Sørensen. Música: Gunnar Sønstevold.
Montagem: Olaf Engebretsen. Dir. de arte: H.C. Hansen & Grethe Hejer. Com: André Bjerke, Bjørg Engh, Henki Kolstad, Per
Lilo-Stenberg, Erling Lindahl, Henny Moan, Georg Richter, Leif Sommerstad.
Grupo de amigos viaja de trem para uma casa
próxima a um lago sobre o qual se conta uma lenda sinistra. A casa pertence a
Bjørg (Lillo-Sternberg), irmão de Lillian (Moan), mas se encontra abandonada.
Dada as evidências do que um psicanalista, Bugge (LIndahl) que se encontra em
meio ao grupo e das próprias pistas materiais apontam, teria se sucidado
jogando-se no lago. Após a morte de um dos participantes do grupo, agora é
Lilian que parece demonstrar uma obsessão pelo lago.
Mesmo a desculpa de se tratar de uma narrativa
ficcional contada por uma personagem logo ao início do filme, assim como seu
jogo de subnarrações, em que se escuta (e vê, como é típico do cinema) uma
narração interna à própria ordem ficcional, não exime essa produção de certa
puerilidade na sua tentativa de provocar suspense, tornando-se ainda mais
problemático dada suas interpretações, em geral, demasiado assertivas e
ausentes de uma camada de sutileza, e apresentação de tiques de personalidade
bastante superficiais, como é o caso do sempre ressaltado medroso. Por isso
tudo, apesar de sua bela fotografia em p&b, o filme perde a chance de unir
um passado nórdico de produções bastante sensíveis ao gênero como as de
Sjöström, já que as tendências que mais chamam a atenção da crítica
internacional no momento, as de autoria modernista que começam a despontar
cinemas nacionais mundo à fora, via de regra, afastam-se das tradições dos
filmes de gênero, sobretudo os mais próximos da fantasia, como o diabo da cruz.
Dito isso, cumpre enfatizar sua ousadia na temática que sugere uma obsessão
incestuosa entre os irmãos e uma Lilian que vai se entregar ao lago (como o
irmão se entregar aos lilases do mesmo, evidente referência à própria irmã,
anteriormente) ao mesmo tempo diáfana e corpórea, numa trama em que o que liga
os eventos de uma história policial são de menor importância os álibis, mortes
e suspeitas que, quanto mais se aproxima do final, uma simbologia vagamente
psicanalítica mesclada a mais pura fantasia que envolve hipnotismo, telepatia e magia. E como se trata de uma
narrativa ficcional lida – não se fazendo questão de voltar à história-moldura
ao final, como se essa apenas servisse de pretexto para as licenças da fantasia
– o jogo de subnarrações e espelhamentos, ganharia uma camada a mais se
fosse efetuada pelo próprio autor do
texto que, no entanto, reserva-se ao papel de um antipático crítico literário,
que estrategicamente possui pouca participação na trama. Destaque para a
belíssima cena em que aparentemente Lilian caminha em meio a vegetação à noite
e se joga subitamente e de forma rigída no lago, considerada a mais famosa do
cinema nacional. O personagem de Bugge, que se aproxima mais de detetive (na
tradição de um Sherlock Holmes) que exatamente de um psicanalista, esteve
presente em todos os romances do autor, com exceção de um. Norsk Film. 76 minutos.

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