Filme do Dia: Antes da Revolução (1964), Bernardo Bertolucci
Antes da Revolução (Prima della Rivoluzione, Itália, 1964).
Direção: Bernardo Bertolucci. Rot. Original: Bernardo Bertolucci & Gianni
Amico. Fotografia: Aldo Scavarda. Música: Ennio Morricone, Gino Paoli &
Aldo Scavarda. Montagem: Roberto Perpignani. Figurinos: Federico Forquet. Com:
Francesco Barilli, Adriana Asti, Morando Morandini, Allen Midgette, Cecrope
Barilli, Iole Lunardi, Antonio Maghenzani, Cristina Pariset, Gianni Amico.
Em Parma, Fabrizio (Barilli), jovem
burguês, revolta-se contra sua condição. Observando a classe proletária, inicia
o esboço de um livro. Suas referências de sociabilidade são o livre pensador,
professor de crianças e culto amigo de meia-idade Cesare (Morandini), o desesperado amigo
Agostino (Midgette), que acaba suicidando-se e uma tia ninfômana, Gina (Asti),
com quem passa a relacionar-se. O final
de seu relacionamento com a tia se dará numa bela manhã em que visitam o
amigo de Gina, Puck (Cecrope Barilli), que com sua amargura por se encontrar
hipotecando as terras que nunca cultivou, angustia Fabrizio, que o pressente
como sua própria imagem no futuro. Na abertura da Ópera de Parma, reencontra
Gina, mas já se encontra comprometido com Clelia (Pariset), definida por ele
próprio como inexperiente mas adequada para o momento em que vive. Em seu
casamento, Gina é a mais emocionada de todas e, confusa, acaricia
desesperadamente o jovem irmão de Fabrizio (Maghenzani).
O segundo filme de Bertolucci ainda
permanece um de seus mais significativos. Seu sutil retrato da indolência da
burguesia parmesiana que se choca com os anseios de transformação do seu
alter-ego é marcante por seu emocionalismo contido e por uma trágica atmosfera
existencial que não exclui a dimensão social. Esteticamente primoroso, o filme
é fortemente influenciado pela recém-lançada nouvelle vague, seja nos cortes abruptos ao estilo de Godard ou no
sombrio ceticismo quanto a possibilidade de concretização de relações afetivas
como sinônimo de estabilidade emocional ao estilo do Malle de Trinta Anos Esta Noite. Assim como no
filme de Malle, o protagonista reluta por sua “iniciação” ao mundo adulto,
justamente por identificá-lo com os padrões morais burgueses que teoricamente
rejeita. Embora o próprio cineasta declarasse que tudo devia ao cinema francês
contemporâneo e nada ao italiano, não há como não perceber influências de
Antonioni. Sua neurastênica Gina, interpretada com brilhantismo por Asti, tem muito das personagens femininas de
Antonioni vividas por Monica Vitti. Seu
tom autobiográfico torna-se evidente, por vezes, quando um amigo – provavelmente
inspirado em Pasolini, mentor intelectual do cineasta – fala ininterruptamente
sobre cinema para um Fabrizio completamente indiferente e atormentado com seus
próprios problemas. Um dos momentos mais belos do filme é a seqüência nas
terras de Puck, onde imagens vaporosas expressam a nostalgia do mesmo pela
sensação de perda antecipada, embora seu tom monocórdio, típica expressão de um
cinematografia moderna em ascensão, esteja menos preocupado em realçar momentos
de clímax, do que em apresentar uma narrativa aparentemente interminável, como
a própria vida. O mesmo conflito entre seguir os padrões da vida burguesa ou
romper com os mesmos encontra-se presente em produções posteriores do próprio
Bertolucci, como Partner (1968) e O Conformista (1970). O estilo de câmera
elegante e fluido já é percebido aqui, embora a exuberante composição de imagem
que acompanha algumas das seqüências, como a da visita a Puck, acaba
tornando-se obsessiva em alguns de seus filmes posteriores, realizados com o fotógrafo
Storaro. Cineriz/Iride Cinematografica. 115 minutos.

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