Diretoras de Cinema#19: Storm de Hirsch
DE HIRSCH, STORM (1931*), Estados Unidos. O pioneiro cinema de vanguarda de Storm de Hirsch é quase completamente ignorado nas histórias da cena cinematográfica underground de Nova York dos anos 60. Mesmo que as críticas de Constance Penley e Janet Bergstrom tenham exposto a política sexista de exclusão das mulheres do cânone estreitamente definido dos realizadores experimentais de Nova York, muita pouca atenção tem sido prestada a Storm de Hirsch, uma das mais importantes artistas do período. Storm de Hirsch foi uma das membras fundadoras da Film-Makers' Cooperative (FMC), em Nova York. Ela é uma poeta e realizadora visionária, cuja obra é geralmente descrita como formalista, mas sua obra não é puramente formalista, no sentido monolítico da palavra. Como The Tattooed Man (1969) (pelo qual de Hirsch ganhou o primeiro prêmio do cinema independente do American Film Institute, Journey Around a Zero contém imagens de um homem nu, revertendo a tradição cinematográfica na qual realizadores homens objetificam e fetichizam o corpo feminino filmado). Storm de Hirsch e Yoko Ono transformam objetificação feminina em espectatorialidade feminina, modificando um tabu que permanece forte hoje. De Hirsch foi uma pioneira em dispositivos técnicos como o da gravura quadro a quadro e técnicas de montagem meta-diegéticas. Stan Vanderbeek chamou The Tattoed Man "uma obra maior em termos de estilo, estrutura, invenção gráfica, manipulação da imagem e ritual simbólico." (FMC, 1975, p. 67)
Goodbye in the Mirror (1964) é uma análise discursiva da subjetividade de três mulheres e uma contemplação sobre a filosofia da identidade. Depois de ver o filme, Jonas Mekas disse: "eu não conseguia acreditar na beleza que atingia meus olhos, que sensualidade." (FMC, 1975, p. 65). O formalismo de de Hirsch permitiu a intervenção do prazer; na verdade, ela atende diretamente o desejo do público por prazer. Goodbye in the Mirror é uma festa visual da experimentação, comparável, de algumas maneiras, aos efeitos visuais da MTV, que copiou o cinema underground sessentista. De Hirsch faz uso de efeitos de mascaramento aurais que são contrapostos aos visuais, tais como a deliciosa canção "I Wish I Was a Fascinating Bitch". Goodbye in the Mirror é um cinema experimental centrado na mulher que é hipnótico em sua habilidade de capturar o fenômeno do movimento aparente dentro do quadro.
De Hirsch posteriormente dirigiu uma trilogia intitulada The Color of Ritual, The Color of Thought, em 1964-65. O fascínio com o ritual é um motivo frequente na obra de de Hirsch, assim como de muitas mulheres experimentalistas, tais como Zeinabu irene Davis, Diana Barrie, Daina Krumins, Yoko Ono, Maya Deren e Ayoka Chenzira. Divinations (1964), parte da trilogia, é uma violação de todas as leis da animação tradicional, com seu desmembramento e rearticulação ritualística do quadro. Para realizar este filme, de Hirsch utilizou instrumentos cirúrgicos para arranhar a superfície da própria película. Seus filmes são agressões ao espectador em seu brilhante uso da cor, luz pura e imaginações sensoriais da memória e da beleza. Sing Lotus (1966) é um filme fantasmagórico, no qual de Hirsch utiliza miniaturas de índios do século XVIII para encenar uma cerimônia de casamento. Trap Dance (1968) é outra análise do enquadramento cinematográfico, que é riscado-gravado, manipulado e acompanhado por uma música "encontrada" repetitiva e rítmica.
Resumindo, parece-me verdadeiramente incrível que a obra de Storm de Hirsch seja tão completamente ignorada no cânone do cinema experimental.Sua obra explora o discurso pré-línguístico da linguagem feminina do cinema em uma reconfiguração da cena primal encenada entre a realizadora, o aparato fílmico e o espectador. E é um olhar aberto à experiência ler o louvor crítico que de Hirsch recebeu de seus contemporâneos, considerando que hoje ela é raramente relacionada, mesmo em superficiais verbetes na maior parte das enciclopédias ou livros escolares. Os filmes de Storm de Hirsch estão disponíveis na Film-Maker's Cooperative, em Nova York. De Hirsch é também autora de diversos livros de poesia.
FILMOGRAFIA SELECIONADA
Journey Around a Zero (1963)
Goodbye in the Mirror (1964)
The Color of Ritual, The Colour of Thought (trilogia) (1964-66)
Divinations (1964)
Peyote Queen (1964)
Shaman (1966)
Newsreel: Jonas in the Brig (1966)
Sing Lotus (1966)
Cayuga Run (1967)
Trap Dance (1968)
Third Eye Butterfly (1968)
The Tattooed Man (1969)
An Expriment in Meditation (1971)
Wintergarden (1973)
River-Ghost (1973)
Lace of Summer (1973)
September Express (1973)
Charlotte Moorman's Avant-Garde Festival#9 (1973)
Malevich at Guggenheim (1973)
Ive's House Woodstock (1973)
Deep in the Mirror Embedded (1973)
Silently, Bearing the Totem of a Bird (1973)
A Reticule of Love (1973)
Aristotle (1973)
The Recurring Dream (1973)
The Geometrics of Kabbaheh (1975)
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
de Hirsch, Storm, e Shirley Clarke. "A Conversation." Film Quarterly 46 (outono 1967): 44-54.
Delphy, Christine. Close to Home: Materialist Analysis of Women's Oppression. London: Hutchinson, 1984.
Film-Makers' Cooperative. Film-Makers' Cooperative Catalogue No. 6. New York: Film-Makers' Cooperative, 1975.
Film-Makers' Cooperative. Film-Makers' Cooperative Catalogue No. 7. New York: Film-Makers' Cooperative, 1989.
Mellencamp, Patricia. "Receivable Texts: U.S. Avant-Garde Cinema, 1960-1980." Wide Angle 7.1-2 (1985): 74-91.
Penley, Constance, and Janet Bergstrom. "The Avant-Garde: Histories and Theories." Screen 19.3 (autumn 1978): 113-27.
Polan, Dana. The Political Language of the Avant-Garde. Ann Arbor: UMI Re search Press, 1985.
Rabinovitz, Lauren. Points of Resistance: Women, Power & Politics in the New York Avant-Garde Cinema, 1943-71. Urbana: University of Illinois Press, 1991.
Smith, Sharon. Women Who Make Movies. New York: Hopkinson and Blake, 1975.
Texto: Foster, Gwendolyn Audrey. Women Film Directors - An International Bio-Critical Dictionary, Westport/Londres: Greenwood Press, 1995, pp. 104-7.
*falecida em 2000.

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