Filme do Dia: Palm Springs (2020), Max Barbakow
Palm Springs
(EUA, 2020). Direção: Max Barbakow. Rot. Original: Andy Siara. Fotografia:
Quyen Tran. Fotografia: Matthew
Compton. Montagem: Andrew Dickler & Matthew Friedman. Dir. de arte: Jason
Kisvarday & Tim Ford. Cenografia: Kelsi Ephraim. Com: Andy Samberg, Cristin
Milioti, J.K. Simmons, Peter Gallagher, Meredith Hagner, Camila Mendes, Tyler
Hoechlin, Chris Pang.
Sarah
(Milioti), dama de honra do casamento da irmã, descobre com Myles (Samberg),
animador da festa, todo um mundo paralelo que funciona em looping, e do qual
não conseguem se desvencilhar, vivenciando sonhos dentro de sonhos, sempre
ocorrendo no dia 9 de novembro, data do casamento da irmã, e com um antagonista
sempre a perseguir Myles, Roy (Simmons).
Mesmo
filmes aborrecidos como esse, que pretende ser algo leve quando, na verdade,
aposta todas as suas fichas em que se descubra uma profundidade que sua
estrutura episódica em looping não se deixaria perceber de imediato pode
ter momentos de puro talento, ao menos em seu roteiro, como é o caso daquele em
que Sarah pergunta a Nyles se o que veem é real, diante do absurdo inusitado
que testemunham e ele responde algo como o que importa. Sarah está tocando na
própria lógica do filme de fantasia, mas que poderia valer para o cinema como
um todo, inclusive em sua forma mais empertigadamente realista. Trata-se de um
momento, portanto, duplamente surpreendente. E, dentro da lógica mais restrita
do filme, vale para a situação de se se trata de sonho ou realidade, sendo o
sonho uma das metáforas que mais se vulgarizou para pensar o cinema. Ao mesmo
tempo sua lógica, não muito diversa da animação ou, mais apropriadamente, do
universo dos jogos, transforma toda violência, sofrimento, dor ou morte em
apenas diversão, ao menos da perspectiva de Sarah, o que poderia servir uma vez
mais como um comentário a respeito do cinema que se eleva de sua própria camada
epitelial de se render a isso mesmo, inclusive com frequência, no próprio
filme. E o número de metáforas, a depender da imaginação do freguês, pode se
multiplicar em proporção geométrica, para além da referência a física quântica
apresentada pelo filme do paralelismo de tempos distintos, podendo-se invocar a
cultura das drogas alucinógenas, o caráter repetitivo e automático como a vida
é levada por boa parte da humanidade, sobretudo aquela que tem a sorte de
possuir alguma estabilidade material, etc. Talvez o filme, infelizmente,
torne-se mais interessante por tais possibilidades recônditas, que pelo que
traz em si mesmo. E para quem se incomodar com a sua recorrência em modo
looping – mas nem de longe tão radical em sua estrutura quanto obras
modernistas a exemplo de O Ano Passado em Marienbad – não deixa de haver
o pneu que fura quando ocorre a corrida desesperada em torno da amada (tal como
a falta de gasolina do protagonista de A Primeira Noite de um Homem) e
um romantismo kitsch impera sobre certa nota discretamente desconfiada ou mesmo
cínica do final do filme de Nichols. Limelight/Sun
Ent. Culture/The Lonely Island para Hulu. 90 minutos.
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