Filme do Dia: Bad Boy (1925), Leo McCarey

 


Bad Boy (EUA, 1925). Direção Leo McCarey. Rot. Original H.M Walker (cartelas). Fotografia Len Powers. Montagem Richard C. Currier. Com Charley Chase, Martha Sleeper, Evelyn Burns, Hardee Kirkland, Noah Young, Eddie Borden.

Jimmy Jump (Chase) é o filho de um magnata do ferro que mal espera a chegada desse da universidade para inicia-lo no seu negócio. Ele pede dinheiro ao pai para pagar o taxista e reencontra sua amada (Sleeper). Porém, o pai não o quer em um posto de comando, mas como um trabalhador braçal, que nem seus outros operários. No horário do lanche, sua mãe traz uma maleta de quitutes, o que o deixa desconfortável e motivo de riso para seus colegas a observarem a cena. Quando chega do trabalho, a mãe o convence a participar de um convescote beneficente, com dança lírica e ele encarnando Pã, decepcionando sua garota, que havia vindo incógnita em seu carro. Porém no salão de dança, Jimmy encarna o durão alcunhado como Bad Boy. Pouco depois de ficar com sua garota, dançando até então com um durão, o rival descobre sua foto na festa da mãe em um jornal.

A sequência da chegada de Jimmy/Chase é marcada por um encanto discreto (ou talvez nem tão discreto), com certa graça e leveza nada distante de uma apresentação de marionetes, embora sem necessariamente mimetiza-la como havia feito Lubitsch com A Boneca do Amor, seis anos antes. Há uma coreografia e estilização, assim como trabalho de montagem, a provocarem tal sensação. Que, evidentemente, não se espera se espraiar para o filme como um todo, ou senão teríamos uma obra vanguardista, embora bem que se desejasse. Como se fosse a  coisa mais natural do mundo, tanto ocorrer justamente quando o pai indica para onde Jimmy irá trabalhar, quanto ser uma briga envolvendo um grupo grande de trabalhadores, a cartela ajuda a situar o novo ambiente onde ele irá participar – “onde os homens são homens”, antípoda, portanto, do ambiente universitário de onde veio; um quarto de século depois e com tinturas nacionalistas ausentes nesta produção, Primero Soy Mexicano, traria uma relação similar entre pai e filho. A falta de propósito da proposta paterna logo fica patente, na cena que Jump vai diminuindo um lingote de ferro cada, para ver se consegue carrega-lo – os outros homens haviam carregado vários empilhados – e consegue apenas mover o do topo da pilha, mas caindo em seguida com o peso, devidamente observado da janela pelo desgostoso pai. Numa das cenas mais divertidas, Jimmy, fugindo envergonhado dos colegas para desfrutar dos lanchinhos trazidos pela mãe, convida um único que se encontra próximo a lanchar com ele e este observa chocado todo o ritual a envolver os refinados petiscos, como a preparação de onde será posto os quitutes e o que lhes irá preencher. E quando se imagina o trabalhador salivando, ele simplesmente empurra tudo caixote abaixo, desembrulhando o seu gigantesco sanduíche trazido em papel amarrado com barbante. Demonstrando que aquele tipo de canapés não traria energia suficiente para o trabalho exigido.  E é num salão de baile popular, batendo em outros caras, como o pai,  que Jimmy demonstra sua virilidade, até então dividida entre os mimos feminilizantes da mãe e uma tentativa de imposição de tarefas másculas por parte do pai. Como isso passa a ocorrer, de uma hora para outra, é um mistério inexplicado pelo filme. Destaque para uma gag que antecipará o extensivo uso feito pelo universo da Looney Tunes: uma briga entre trabalhadores é devidamente interrompida pelo apito para a pausa do lanche – caso de O Coiote Desastrado, embora acrescentando uma camada autorreflexiva aqui ausente.  E para Chase travestido como Pã. Mesmo involuntariamente, o filme dá a ver a construção social dos gêneros, pois o mesmo Jimmy performa uma dança de saias e trejeitos, e agora acende o fósforo no sapato e efetua danças populares. Versão de 2009. |Hal Roach Studios para Pathé Exchange. 18 minutos e 23 segundos.

 

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