Filme do Dia: Mulheres de Cinema (1976), Ana Maria Magalhães



Mulheres de Cinema (Brasil, 1976). Direção e Rot. Original: Ana Maria Magalhães. Fotografia: José Antônio Ventura. Montagem: Gustavo Dahl.

Aurora Fúlgida é a primeira a ter seu perfil destacado. Proveniente da Romênia, seu pseudônimo se encontra certamente associado a um chamariz erótico-parnasiano que a acompanha desde seu primeiro pepel no cinema em Lucíola (1917). Na Primavera da Vida (1926), filme tampouco sobrevivente de Humberto Mauro lança a diáfana Eva Nil, eulogizada pela revista Cinearte antes mesmo da estreia do filme. Embora filha de Pedro Comello e musa do Ciclo de Cataguazes, nasceu no Cairo. Após Barro Humano (1929), de Adhemar Gonzaga, outro filme perdido, abandona a carreira, mesmo após insistentes pedidos de Gonzaga. O documentário inclui sua carta de despedida quase uma antecipada, guardadas as infinitas proporções, do que fará Garbo tempos depois. Humberto Mauro se refere a Carmen Santos meio século após como “Dona Carmen”. As cenas do filme não mais existente de Carmen, Inconfidência Mineira (1948), que levou sete anos para sua conclusão, são as primeiras imagens em movimento relativas a uma figura feminina apresentada no filme. Preciosos fragmentos que sobreviveram ao incêndio que destruiu mais dois outros títulos produzidos por Santos em 1958. A seguir segue-se a participação dela como atriz (e também produtora) de Argila (1940), e o bem anterior Sangue Mineiro (1929), do qual foi atriz principal e co-produtora. E o primeiro depoimento de uma mulher do cinema brasileiro ainda viva quando da produção desse curta, Gilda de Abreu, que canta loas à direção de Oduvaldo Vianna em Bonequinha de Seda (1936), do qual foi atriz principal, e que afirma que um dos maiores sucesso do cinema brasileiro de todos os tempos, dirigido por ela, O Ébrio (1946), adaptação da canção de seu marido, o cantor Vicente Celestino, que estrela o filme, deve-se à intuição, afirmando desconhecer, inclusive quando de seu depoimento, qualquer técnica vinculada ao cinema. Gilda afirma que o lançamento de Farrapo Humano, de Wilder, na mesma época que o filme dela, teve como intuito provocar um fracasso na película nacional. O êxito, no entanto, afirma a narradora (a própria Magalhães, em alternância com o ator Hugo Carvana) não se seguiria em Pinguinho de Gente e Coração Materno, que seguiam estilo similar.  Chega a vez de Carmen Miranda, dos primórdios na Cinédia à sua explosão internacional em consonância com a crescente americanização da cultura brasileira. Eliana, sobrinha de Watson Macedo, considerada pela narradora como mestre da chanchada, é destacada a seguir.  Norma Bengell é tomada como modelo feminino que irá trazer uma imagem de mulher menos limitada e mais moderna que Eliana, em filmes como O Homem do Sputnik e sua antológica imitação de Bardot e Os Cafajestes, de Ruy Guerra. Fotos apresentam a retirada do filme de Guerra de cartaz literalmente (os letreiros sendo retirados da marquise de um cinema), assim como Norma ao lado da célebre Palma de Ouro de Cannes por O Pagador de Promessas, iniciando carreira europeia. Helena Ignez surge em A Grande Feira e Assalto ao Trem Pagador. Depois O Padre e a Moça e Cara a Cara, de Joaquim Pedro e Bressane, respectivamente. A estética da vulgaridade que a narradora afirma Ignez já intuir em sua estreia no filme de Pires afloraria completa em O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Sganzerla.  Leila Diniz associada à independência e ternura ao memo tempo, segundo Carvana. Emergindo em Todas as Mulheres do Mundo é consagrada em Fome de Amor (1968). Para não findar com a nota agônica e até mesmo patética (da forma como é montada diante da sequencia que vem a seguir, a última) da morte de Leila Diniz, a quem o filme é dedicado,  apresenta a realizadora Ana Carolina em um pretenso set de filmagem, produzido apenas para este produção, dirigindo, dentre outras, Dina Sfat e Isabel Ribeiro. O fato de ser necessário encenar uma produção inexistente dirigida por uma mulher demonstra o quão ainda era exceção o discurso celebratório de Magalhães a respeito das mulheres agora se encontrarem presentes em todas as atividades envolvidas no cinema. Também apresenta cenas de A Entrevista, de Helena Solberg. Consta na filmografia brasileira da Cinemateca como A Mulher no Cinema Brasileiro e no site do IMDb como Mulheres no Cinema, tendo como sido lançado dois anos após. Embrafilme. 37 minutos

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