Filme do Dia: Marinai Senza Stelle (1948), Francesco De Robertis



Marinai Senza Stelle (Itália, 1948). Direção e Rot. Original: Francesco De Robertis. Fotografia: Giuseppe Caracciolo & Romolo Garroni. Música: Annibale Bizzelli. Montagem: Francesco De Robertis. Dir. de arte: Pietro Monastero. Com: Tito Stagno, Otello Venturi, Antonio Gandusio, Cesarina Gheraldi, Vittorio Mattiussi.

Riccio (Stagno) e Murena (Venturi) são dois garotos que se odeiam por conta de seus respectivos responsáveis (Gheraldi e Gandusio) terem um comércio vizinho e disputarem a propriedade de um barco de pesca numa vila pesqueira. Os dois velhos acabam não só fazendo as pazes na Justiça como se unindo. Porém apesar de Riccio tentar se tornar amigo de Murena, este ressiste. Ambos se alistam na Marinha e partem para uma missão de combate com um grupo grande de aprendizes. Após uma série de aventuras eles descansam em um castelo, mas os dois garotos acabam partindo em um verdadeiro navio de combate, e fazendo finalmente as pazes. No navio também se encontra o pai de Murena, foguista (Mattiussi). Pai e filho são feridos numa ação militar.

Ainda que De Robertis tenha inadverditamente uma grande influência no estilo de realismo desenvolvido por Rossellini em sua trilogia de guerra que posteriormente fundamentaria seus filmes neorrealistas, fica mais do que patente seus limites com relação a ele, quando se compara o desenvolvimento de suas carreiras. Enquanto Rossellini finalizava sua segunda trilogia de guerra e se tornou uma figura reconhecida internacionalmente, De Robertis realizava esta inócua produção, repleta de um sentimentalismo piegas em tudo mais forte do que as produções que dirigira durante o fascismo – aliás esta produção foi iniciada em 1943, provavelmente na República de Saló, daí as locações iniciais próximas a Veneza. O fato da produção ter sido interrompida durante os desdobramentos da guerra e ter sido concluída somente após a mesma certamente torna de alguma forma compreensível sua estapafúrdia narrativa – a certo momento, os dois meninos protagonistas simplesmente somem do foco. Porém, se muitas das produções interrompidas então tiveram que ser adaptadas para sua conclusão e lançamento no pós-guerra (como foi o caso de Uomini e Cielli, filme bem mais interessante do próprio De Robertis), esse aqui talvez não tenha que ter sido tão modificado tanto assim. A obsessão pelos temas vinculados à marinha por parte de um diretor que foi também oficial da marinha ou talvez mais apropriadamente de um oficial da marinha que foi também realizador de cinema é marcante em toda a filmografia do cineasta. O filme mescla atores profissionais com amadores, prática comum no cinema italiano desde antes do advento do Neorrealismo.  De Robertis continua a enfatizar a montagem (efetuada por ele próprio)  acelerada e a influência capilar da vanguarda soviética, também presente nos planos em que os garotos se encontram pendurados nas cordas do navio e observados a distância, como já o fizera em La Nave Bianca (1941). Sua tosca dramaticidade e o fato de ter se arrastado por anos até sua conclusão pode sugerir comparações, guardadas as proporções, com a produção brasileira contemporânea. Scalera Film. S.p.a. 83 minutos.

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