Filme do Dia: Mysteries of London (1915), A.E. Coleby

 


Mysteries of London (Reino Unido, 1915). Direção e Rot. Original A.E. Coleby. Com Wingold Lawrence, Flora Morris, Aldan Lovat, William Collard.

Chegando em casa mais cedo que o habitual, Robert Willis (Lawrence) torna ciente esposa,  e filha, Louise, de uma acusação de ter feito operações inapropriadas com  dinheiro do banqueiro Hawkhurst (Collard), podendo ser detido a qualquer hora. Os agentes chegam com uma ordem de prisão para Willis. Após uma emocionada despedida ele parte com os homens da lei. Três semanas depois é sentenciado a 14 anos de prisão. A Sra. Willis após se despedir do marido, passa mal andando com a filha no meio da rua e é acudida por transeuntes. Marchmont (Lovat), rico corretor, apieda-se de sua situação e decide cuidar da criança. Chegando em casa, Marchmont fica ciente da morte de Louise, e decide adotar a criança. 15 anos se passam. Louise, já moça, despede-se do pai e é seguida por Henry, que lhe pede a mão. Porém esta lhe confidencia amar seu irmão Frank. Tempos depois, o pai descobre os negócios duvidosos aos quais se encontrava envolvido Frank e o expulsa de casa. A apaixonada Louise decide ir com Frank, para o desgosto do pai. E quando Frank diz que a levará a casa de amigos, leva-lhe a um dissoluto clube noturno do West End, onde a apresentará a ninguém mais que Hawkhurst  e seu sócio. Horas depois, Hawkhurst promete levar Louise a um local seguro para dormir e Frank é expulso completamente embriagado do clube. Ele a leva a um prostíbulo, no entanto, de onde, não sem certo esforço, consegue fugir. Enquanto Frank planeja um assalto a casa do próprio pai, Robert Willis é solto do cárcere, sequioso de encontrar o responsável por sua prisão. Ele busca refúgio em um bar, onde Frank se encontra com o homem que busca, Hawkhurst. Espancado e desacordado, Willis é jogado em um bueiro. Sua filha erra pelas calçadas de Londres, vendendo caixas de fósforos. Marchmont recepciona o filho Henry, recém-chegado da Inglaterra. Em casa, conta-lhe do ocorrido com Frank e Louise. Também lhe alerta ser ele o seu único herdeiro e, em caso de sua morte, passará ao irmão. Na mesma noite, Frank invade com sua quadrilha a residência do pai. Os ruídos provocados na casa despertam Henry. Os irmãos conversam e Henry parte para Londres, após saber do paradeiro de Louise. O ex-serviçal de Marchmont, Jack, que já havia livrado Louise de assédio pretende leva-lo a ela, mas Frank, já sabedor da cláusula testamentária encontra o irmão antes disso, e afirma saber onde ela se encontra. Jack desconfia de tudo. Frank passa a ser agredido pelo irmão e seus asseclas. Jack chama a polícia. Louise se joga da Ponte de Westminster. Robert é testemunha e também se joga para salvá-la. Transeuntes e policiais resgatam os dois. Dentre eles, encontra-se Henry. Uma semana depois Robert se recupera e revela sua identidade. E pai e filha se reencontram.

Curiosamente, a primeira imagem já é de Robert narrando a mulher e filha, e todos aflitos com a situação (que só não é completamente in media res, porque obviamente uma cartela explica a situação). E quando se imagina Sra. Willis desmaiando ao sair do tribunal, ela desmaiará apenas no plano seguinte, não por acaso o da Bolsa de Valores – não é preciso grande esforço e nem mesmo grande dose de cinismo para se imaginar tantas possibilidades de local para desmaiar, e também imaginar reações possíveis de homens endinheirados. Não há qualquer impedimento moral à época para a união entre crianças criadas juntas como irmãos, a depender deste e do contemporâneo The Voice of the Violin, também trazendo os irmãos apaixonados pela moça criada com eles, e esta igualmente interessada pelo mau caráter. E, como naquele, e na matriz melodramática de ambos, não faltam coincidências, aqui ainda em maior monta, dada a metragem –a amizade de Frank com Hawkhurst, passível de comprometer duas gerações seguidas, mas uma que facilmente competiria é entre as centenas de pubs londrinos, Robert escolher justamente onde se encontra Frank e o próprio Hawkhurst, e um criado de Marchmont reconhecer Louise e a livrar de um assediador; e há ainda um rol de outras coincidências: Frank observar Henry mal chegando este a Londres; o pai observar a filha se jogando da ponte, e Henry estar ali pertinho etc. Louise não chega a ser um exemplo de passividade comum das heroínas griffitheanas. Ela não só consegue deter os avanços de Hawkhurst como fugir do prostíbulo pelo alto, sem tirar sequer seu salto alto.  Destaque para os reclames melodramáticos do trio familiar, fazendo uso de todo o gestual habitual, sob o olhar impassível de um guarda encostado sobre a parede e rentes ao muro, numa imagem grandemente chapada. Extrai-se boas imagens das locações londrinas, particularidade talvez mais habitual aos filmes de Feuillade na França à época, que propriamente da produção britânica. Caso do Big Ben e parlamento observados da outra margem do rio, ou da bela profundidade de campo do passeio na margem do rio no qual perambula Louise. O rocambolesco das situações parece fazer mesmo os filmes de ação de Feuillade parecerem modestos nas viradas e coincidências do destino. O reencontro familiar ganha ascendência ao final sobre o tradicional par romântico. Ainda faz uso das habituais apresentações dos atores realizando mesuras para a câmera, prática cada vez mais rara por sua época. Cópia com cartelas em alemão. Há momentos nos quais as imagens se tornam virtualmente tomadas pelos danos produzidos pelo tempo,  geralmente por trechos relativamente curtos, mas o reencontro tenso entre os irmãos é praticamente comprometido. |Martin’s Exclusives. 49 minutos.

 

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