Filme do Dia: Nada de Novo no Front (2022), Edward Berger

 


Nada de Novo no Front (Im Westen nichts Neues, Alemanha/EUA/Reino Unido, 2022). Direção Edward Berger. Rot. Adaptado Edward Berger, Lesley Paterson & Ian Stokell, a partir do romance de Erich Maria Remarque. Fotografia James Friend. Música Volker Bertelmann. Montagem Sven Budelmann. Dir. de arte Jindrich Kocí. Cenografia Ernestine Hipper. Figurinos Lisy Cristl. Com Felix Kammerer, Albrecht Schuch, Aaron Hilmer, Moritz Klaus, Adrian Grünewald, Edin Hasanovic, Daniel Brühl, Thibault de Montalembert.

Paul Bäumer (Kammerer) é um dentre um grupo de adolescentes eufóricos, como também Albert (Hilmer) e Müller (Klaus)  ao partirem como voluntários para as trincheiras francesas da I Guerra Mundial. Rapidamente, ao se aproximaram do front, no entanto, percebem a brutal realidade de uma carnificina sem sentido. Já há algum tempo na guerra, Paul conhece o iletrado Kat (Schuch), que se tornará uma espécie de mentor dele durante boa parte das peripécias a enfrentar, incluindo a morte de seus amigos.

Há filmes de guerra que a observam  como uma experiência sensorial (Dunkirk). Outros aliam a esta uma dose de dramaticidade – por mais eventualmente clichê que seja – como O Resgate do Soldado Ryan. Saudado por boa parte da crítica como um dos filmes destacados do ano de seu lançamento, esta nova adaptação do clássico romance de Remarque, já levado às telas por Lewis Milestone, e curiosamente numa metragem ainda maior que este (em 4 minutos), duração um tanto incomum para a época na qual foi lançado, quase um século antes deste, esta produção não chega a bom resultado com nenhum destes termos. A impressão tida desta adaptação é que tanta energia foi gasta em termos de impecáveis valores de produção (direção de arte, maquiagem, deslumbrante fotografia em cores) e de trabalho de câmera e edição eminentemente acadêmicos (ângulos, cortes, decupagem) que sobra muito pouco para o que talvez fosse primordial para nos engajarmos emocionalmente no filme, a elaboração de suas personagens. Sua trilha musical tampouco auxilia nesta empreitada. Nem é redundante, nem manipuladora emocional – como costumam ser as que servem a Spielberg – ou eletrizante, ou buscando um distanciamento dramático. É simplesmente irritante. Há um certo prazer mórbido no modo hiper-realista dos cadáveres surgindo a todo momento, assim como feridas e vísceras à mostra. Porém não serão tais imagens ou a brevidade da construção da inocência das ainda crianças enviadas à guerra que,  numa intensidade atroz se verão atoladas literalmente em todo tipo de merda a lhes circundar, que traçarão um pretenso tom antibélico habitualmente associado ao romance de Remarque, e também à primeira produção e negado pelo escritor. E há algo a se encaminhar neste sentido, de forma excessiva, como o herói sendo atingido fatalmente justamente no momento em que é decretado o cessar fogo, e após ter “vestido” todas as máscaras possíveis de terra, lama e todo tipo de excrementos sobre o rosto, a depender da situação. Numa jornada de provações digna de Vá e Veja. Igualmente há a caricatura do oficial alemão e dos oficiais franceses, em sua impassibilidade diante do diálogo.  Há um senso de composição notável, como é o caso da superfície em linha inclinada de campo que os dois personagens principais avançam. E ainda faz uso do mesmo melancólico tema bachiano imortalizado (no cinema, é claro) por Tarkovski (Solaris), já utilizada de forma ainda mais resolutamente tributária ao realizador russo por Lars Von Trier (Ninfomaníaca). O que não é exatamente um alento, antes o oposto quando se imagina o que deste tema extraiu o realizador russo. Primeira versão alemã do romance conterrâneo, que já havia gerado outra produção americana no final dos anos 70, em formato de minissérie. |Amusement Park Films/Rocket Science/Sliding Down Rainbows Ent. para Netflix. 148 minutos.

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