Filme do Dia: Os Crimes de Diogo Alves (1911), João Tavares
Os Crimes de Diogo Alves (Portugal,
1911). Direção: João Tavares. Rot. Adaptado: João Freire Correia & Lino
Ferreira, a partir da história de Barbosa Júnior. Fotografia: João Freire
Correia. Com: Alfredo de Sousa, Amélia Soares, Gertrudes Lima, Alberto Ghira,
Narciso Vaz, Artur Braga, José Climaco, Frederico Matos, Alda Soares, Antônio
Leal.
Diogo Alves (de
Sousa) aterroriza Lisboa com seus latrocínios bárbaros, do qual não poupa
sequer crianças. Preso, é condenado à forca.
Na cena filmada
nos arcos do Aqueduto, já não se inicia a cena com a vítima tão de longe, como
no filme de dois anos antes, e o número de perpetradores do crime se reduz a
dois, assim como a mulher sendo jogada do alto (para, como naquele, o roubo de
uma mera trouxa de roupa) é observada com notável efeito do disfarce da parada
e substituição da mulher por um boneco no plano da imagem – corte e
substituição por um tosco boneco (tal como em O Grande Roubo do Trem) mais visível no segundo crime praticado no
mesmo local, em que é jogada uma criança. As tinturas usadas na coloração do
filme, efeito bastante comum então, são bem fortes e se mantiveram
relativamente preservadas nessa versão restaurada que parece dar conta de sua
metragem original. O crime da estanqueira, que se segue, tal como na produção
anterior, é apresentado aqui com bem maior minúcia, enfatizando os princípios
da continuidade/contiguidade griffithneanos. Mesmo com vários crimes tendo
ocorrido nos arcos, não parece a polícia ter destacado policiamento no local.
Tal como uma Paixão de Cristo, o filme apresenta episódios conhecidos da
trajetória do criminoso sem se preocupar em criar elos de ligação entre eles e
contando com a possível compreensão prévia de seu público espectador à época,
mais uma vez repetindo estratégia das paixões. As interpelações dirigidas ao
espectador ocorrem em alguns momentos e a figura de Diogo Alves torna-se mais
facilmente distinguida que no anterior. O massacre, seguido de roubo, na casa
do médico Andrade, mesmo voltando a apresentar uma solução quase tão tosca na
entrada dos criminosos na cena, é visualmente muito melhor trabalhado, sendo a cenografia
primorosa em relação àquele. A sequencia do julgamento, ao menos na cópia ao
qual se teve acesso, a mais completa até o momento, surge do nada e sem
qualquer indicação prévia, seguindo a mesma lógica da apresentação dos crimes,
como se o filme também pudesse ser observado igualmente em quadros individuais.
A cena do enforcamento de Alves, secundado por dois outros tal como Jesus,
consegue ser bastante realista. Destaque para o momento em que a criança escuta
a ação do crime praticado onde mora, pela convenção do melodrama teatral em sua
postura nada natural. Os pontos bastante similares dessa produção com a de 1909
se devem ao fato de lidar com os mesmos produtores e roteiro, além de
utilizarem material filmado daquela.
Cardoso & Carreia/Portugália Film para Companhia Cinematografica de
Portugal. 23 minutos.
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