Filme do Dia: O Jovem Tataravô (1936), Luiz de Barros
O Jovem Tataravô (Brasil, 1936).
Direção Luiz de Barros. Rot. Adaptado Gilberto de Andrade & Luiz de Barros.
Fotografia Alberto Botelho & Edgar Brasil. Montagem Ruy Costa & Luiz de
Barros. Dir. de arte Luiz de Barros. Com Marcel Klass, Darcy Cazarré, Dulce
Weytingh, Luíza Fonseca, Manuel F. Araújo, Alfredo Silva, Gina Bianchi, Louie
Cole, Arnaldo Coutinho, Carlos Frias.
Através de
um pequeno cofrinho que compra em um leilão, Eduardo (Cazarré) consegue, não
sem certa dificuldade, abri-lo e descobre uma mensagem nele que é o passaporte,
através de uma sessão espírita, para o acesso ao seu tataravô quando jovem,
Victor Eulálio (Klass), que passa a conviver com a sociedade carioca de um
século após. E a conquistar várias mulheres com seu charme, dentre elas sua
bisneta Dora (Weytingh), que se encontra noiva de um rapaz (Frias).
Infelizmente,
como boa parte da produção do estúdio, para não dizer da época como um todo,
sobreviveu em sua maior parte, mas com qualidade sonora péssima. E trazendo
como trunfo maior, inverter a lógica habitual do túnel do tempo (observada na
deliciosa chanchada Nem Sansão Nem Dalila) e trazer um personagem do
passado para o momento presente. Tropo nem de longe desconhecido e com
variantes no cinema da época, como o de personagens “primitivos” em um primeiro
contato com a “civilização” (a exemplo do posterior Tarzan Contra Nova York).
E já se imagina que se tirará partido de situações envolvendo mudanças de
costumes, inclusive em sua variante sinônima vinculada às roupas, e atreladas a
um olhar sexualizado, e sexista. No primeiro caso, nas mulheres que observam o
espírito do passado como bastante atraente (algo mais adivinhado pelas caras e
poses feitas por elas, em situação meio de alcova, que pelos comentários,
inaudíveis). No segundo, o tataravô sente-se imensamente atraído por sua
tataraneta, ao percebê-la vestida no que ele acredita ser trajes de banho, mas
que é apenas um vestido comum. Poucas vezes consegue se erguer além da vala dos
lugares comuns, como a do tataravô levando um choque ao se sentir curioso com
um abajur. Ou da recorrente descoberta das pernas e braços das senhoras da sociedade – devidamente
amplificados por planos que os destacam. E tal se dá quando é executada uma
canção romântica de sua época, que o envolve enquanto causa aborrecimento aos
outros convivas. Embora não nos furtamos do benefício da dúvida de alguma
tirada espirituosa (não ouvida) nos diálogos. Um dos poucos momentos
visualmente interessantes, em meio aos habituais cenários art déco e
intransigentes números musicais tão afastados da música popular de sua época
(ao contrário do que efetuará as chanchadas da Atlântida), o que vem a ser
ressaltado na cartela inicial dessa versão, que destaca a presença de Marcel
Klass, artista russo radicado no Brasil e do não referido artista
norte-americano Louie Cole. Com relação a esses, das duas uma: ou as canções (e
sobretudo o modo de cantar) ainda eram muito populares da forma como são
cantadas, à exceção do número no cabaré de luxo cantado por Cole, embora tenham
enfadado a todos da festa, numa pretensa referência a uma canção do século XIX,
mas não muito distinta das outras apresentadas; ou o filme aposta no maçante,
com seu público tendo uma reação próxima das personagens da festa. Uma boa solução,
inclusive em termos visuais, é o do desaparecimento do “espírito” após escutar
uma música que lhe toca fundo a alma, evanescendo em um efeito similar ao de
seu colega, não menos melancólico, Nosferatu. |Cinédia para DFB. 78
minutos.
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